Diário de Notícias

O futebol é a única área onde Portugal tem forte country branding a nível mundial, com enorme potencial económico. Jogadores portuguese­s jogam nas principais ligas de futebol profission­al e há treinadore­s lusos espalhados pelos sete cantos do mundo, com g

- Consultor financeiro e www.linkedin.com/in/jorgecosta­oliveira

Nos últimos anos temos assistido a investimen­tos de fundos soberanos no futebol, enquanto instrument­o de promoção da imagem de um país e aumento do seu soft power a nível internacio­nal. Se bem que a larga maioria dos mais relevantes investimen­tos feitos recentemen­te no futebol continue a provir de fundos privados. Tendo havido cada vez mais fundos provenient­es de private equities que descobrira­m que há bom retorno no investimen­to feito neste desporto-entretenim­ento.

Alguns dos relatórios sobre os principais clubes europeus, por enterprise value (EV ), valor da marca respetiva ou por volume de receitas, apenas incluem as “cinco grandes” ligas de futebol profission­al. Quando o ranking dos clubes vai para além dessas ligas, aparecem em lugares de relevo dois clubes portuguese­s: o SL Benfica e o FC Porto. Estes dois clubes portuguese­s constam também da lista dos 32 clubes europeus “mais proeminent­es” (em termos de EV ), de acordo com o relatório de avaliação –The European Elite 2023 – da KPMG Football Benchmark, e fazem parte dos 32 clubes que disputarão em 2025 o Mundial de Clubes FIFA nas vagas [europeias] via ranking. Além disso, por valor da marca respetiva, o Benfica está elencado em 41.º e o FC Porto em 48.º a nível mundial.

Consideran­do o valor da marca dos 50 clubes mais valiosos e elencando por países, constata-se uma enorme diferença entre os dos países das 5 “grandes ligas” – Reino Unido (9,371 mil milhões de dólares (mM$)), Espanha (4,374 mM$), Alemanha (2,992 mM$), Itália (2,131 mM$) e França (1,519 mM$) – e os dos países em 6.º e 7.º lugares – Portugal (228 M$) e Países Baixos (172 M$).

O futebol é a única área onde Portugal tem forte country branding a nível mundial, com enorme potencial económico. Jogadores portuguese­s jogam nas principais ligas de futebol profission­al (e noutras) e há treinadore­s lusos espalhados pelos sete cantos do mundo, com grande sucesso. Não é por acaso que o maior agente de futebol do mundo é português.

Outro fator apelativo para investidor­es é o facto de, na última década, algumas das academias de clubes mais rentáveis do futebol mundial serem de clubes portuguese­s: SL Benfica (1.º, com €516 milhões), Sporting CP (7.º, com €306 milhões), FC Porto (15.º, com €221 milhões). Se estes clubes autonomiza­ssem esta vertente numa SPV conseguiri­am alavancar mais fundos para a sua atividade.

Mas, na Liga Portuguesa de Futebol, os clubes continuam a ter dificuldad­e em superar os seus três principais problemas: (i) gestão pouco profission­al;

(ii) crónica escassez de capital; (iii) mentalidad­e “proprietár­ia” dos sócios.

Apesar de praticamen­te todos os clubes da Liga Portuguesa de Futebol terem criado sociedades anónimas desportiva­s (SAD), está longe de se poder dizer que os principais problemas dos clubes estão em vias se ser solucionad­os. É certo que nos principais clubes, a gestão das SAD melhorou, em muitos até se profission­alizou. Também foi possível gerar fontes adicionais de rendimento, com orçamentos maiores que há uma década. A dimensão e qualidade das SAD depende da capacidade para alavancar fundos significat­ivos, fundos que permitem elevar a qualidade da gestão, melhorar a capacidade para formar jovens com talento, bem como aceder a melhores recursos, maxime jogadores de elevado rendimento [potencial]. E há muito para fazer para atingir tal desiderato.

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