As condições de Orbán para ajudar a Ucrânia
Líder húngaro concorda que o apoio saia do orçamento da UE, mas quer que este seja aprovado todos os anos e por unanimidade.
Oprimeiro-ministro húngaro,Viktor Orbán, voltou ontem a insistir que o seu país está aberto à ideia de fornecer ajuda à Ucrânia a partir do orçamento da União Europeia, desde que esta seja decidida anualmente e de forma unânime, uma ideia que a Hungria tem vindo a tentar passar nos últimos dias e que daria a Budapeste o poder de vetar ou não esta ajuda todos os anos. De recordar que este tema vai ser discutido amanhã num Conselho Europeu extraordinário convocado depois de Orbán ter bloqueado em dezembro a disponibilização de 50 mil milhões de euros do orçamento comunitário para ajuda financeira à Ucrânia.
“Decidimos fazer uma oferta de compromisso: muito bem, não concordamos com a alteração orçamental. Não concordamos que devamos dar 50 mil milhões de euros [à Ucrânia], o que é uma quantia enorme. Não concordamos que devamos dar-lhe quatro anos e assim por diante”, referiu o primeiro-ministro magiar. “Mas que assim seja, a Hungria está disposta a participar na solução dos 27, se eles garantirem que todos os anos decidiremos se continuaremos ou não a enviar esse dinheiro. E esta decisão anual deve ter a mesma base jurídica que hoje: deve ser unânime. Infelizmente, esta posição é entendida ou interpretada por alguns países como uma forma de os chantagear todos os anos”.
Viktor Orbán mandou ontem outro recado dirigido a Bruxelas, mas desta vez usando a sua página no Facebook, acusando a UE de “guerra ideológica” e chantagem por causa de um alegado plano de retaliação pelo bloqueio de Budapeste à ajuda à Ucrânia. “Bruxelas está a travar uma guerra ideológica contra a Hungria há vários anos e mantém a chantagem. Agora temos os documentos que o provam”, afirmou.
O governante refere-se a um documento sobre um alegado plano da União Europeia para sabotar a economia húngara, caso Orbán venha a vetar na cimeira de amanhã a ajuda à Ucrânia. O documento, publicado pelo Financial Times, revela um plano secreto de Bruxelas para, alegadamente, encerrar todos os financiamentos a Budapeste a fim de provocar um colapso na confiança dos investidores. Orbán afirmou que, se for levado a cabo, este plano pode vir a ser o “Armagedão”, prometendo atuar. “Defenderemos os interesses da Hungria. Não nos podemos deixar chantagear”.
Bruxelas já declarou que o documento citado pelo jornal é uma “nota explicativa” do secretariado-geral do Conselho da UE que descreve a situação atual da economia húngara e que não reflete o estado das negociações.
Apelo ao Congresso dos EUA
A ajuda (e o seu valor) da União Europeia à Ucrânia está a ganhar uma nova importância porque nos Estados Unidos, o maior contribuinte em termos financeiros e de armamento, o Congresso continua sem aprovar um novo pacote orçamental para Kiev, no valor de 56,3 mil milhões de euros. Facto que levou, esta segunda-feira, o secretário de Estado norte-americano a apelar aos congressistas para desbloquearem esta situação, caso contrário todos o esforço de guerra contra a Rússia feito até agora “ficará comprometido”. A isto soma-se o facto de Casa Branca ter esgotado as suas dotações (todas as ajudas que podia dar sem precisar do Congresso) no final de 2023.
O presidente francês apelou ontem aos países europeus para apoiarem a Ucrânia “a longo prazo” e compensarem qualquer eventual redução da ajuda americana. “Devemos organizar-nos de forma a que, se os Estados Unidos fizerem a escolha soberana de parar ou reduzir essa ajuda, tal não tenha qualquer impacto no terreno”, defendeu Emmanuel Macron.
Na segunda-feira, o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, já tinha advertido que a Europa será incapaz de lidar sozinha com a ajuda militar e financeira à Ucrânia se os EUA renunciarem ou atrasarem a assistência a Kiev.