Programa ajudou 1522 refugiados ucranianos a aprender português
Após dois anos do início do SPEAK for Ukraine, dedicado à inclusão social com recurso ao ensino das línguas, muitas pessoas receberam apoio, mas o fundador do projeto admite que “há ainda muito a fazer”.
Em dois anos, 1522 refugiados ucranianos já receberam apoio à integração em Portugal através do projeto SPEAK for Ukraine. Com o foco no ensino de línguas como ferramenta para a inclusão social, o projeto dividiu estas pessoas por 238 grupos desde o início do conflito. Ao todo, foram ensinados 13 idiomas diferentes, incluindo o português, mas também línguas de países mais próximos da Ucrânia, como o eslovaco ou o húngaro.
Os dados foram anunciados ontem, no auditório da Fundação Ageas, em Lisboa. Na sessão de apresentação sobre os dois anos de trabalho, o criador do projeto europeu SPEAK (fundado em 2014 e que em março 2022 criou uma parte dedicada exclusivamente a ajudar ucranianos) assumiu que, apesar do grande número de pessoas que foi auxiliado, “fica a sensação de que se podia ter feito mais”. “Muito foi feito, mas muito há ainda a fazer”, admitiu Hugo Menino Aguiar.
Por sua vez, Ricardo López Páramo explicou também que, “além dos grupos linguísticos”, houve também trabalho a ser feito ao nível emocional, dando apoio a estas pessoas. Neste caso, foram auxiliados 79 refugiados, em seis grupos de apoio. E, além do SPEAK, houve também a cooperação com outras entidades, como a Câmara de Lisboa. “A autarquia deu apoio, até através do programa Vis Tut – Todos Aqui [criado para integrar refugiados ucranianos após o início da guerra].”
Troca de experiências foi também uma parte importante
Com o ensino das línguas a ser assegurado pela figura dos buddies (voluntários que lideram e lecionam os grupos), a partilha de experiências entre as partes foi “uma parte importante”.
Falando numa mesa redonda depois da apresentação, Sofia Soares e Nuno Jesus – ambos buddies – explicaram o método de ensino: “Eram sessões muito descontraídas, que não se focavam apenas em ensinar e aprender uma língua específica, no caso o português. Houve muito mais que isso. Foi uma troca de experiências e de vivências que permitiu encontrar, desde logo, semelhanças entre os povos. Podia pensar-se que havia muitas diferenças, mas culturalmente não são assim tantas.” No caso de Sofia Soares, “havia também o foco em tentar perceber os hobbies, como o futebol, por exemplo, para encontrar referências que permitissem dar uma base comum a estas pessoas”.
Sentada ali ao lado, Galina explicou a sua experiência. “Quando cheguei a Lisboa e vi o Rio Tejo a cortar a cidade, senti-me como se estivesse em casa. Afinal, o Rio Dnipro também cruza Kiev.”Para a professora de música – que disse planear voltar ao seu país –, há muitas semelhanças entre portugueses e ucranianos, nomeadamente ao nível da música. “O fado é algo triste, melancólico. Um pouco como a música ucraniana, que também tem uma toada assim”, disse. Mas, além dos sons, a cultura portuguesa “é muito focada em preservar a identidade e o passado. É algo bonito e verdadeiramente marcante”, considerou a refugiada.
A integração de Galina foi um processo algo fácil, diz Nuno Jesus, afinal sempre foi “muito aplicada e empenhada” em aprender. Ainda assim, assumiu a própria, causando risos na plateia, “o mais difícil foi mesmo aprender a História de Portugal. Os reis são muito confusos e difíceis, com tantos Afonsos e Manuéis”. “Tirando isso, foi fácil aprender todas as coisas”, concluiu.