Uma campanha eleitoral é sempre uma oportunidade para discutir os grandes temas para o país, que preocupam os portugueses. Será um desperdício de energia se a discussão ficar pela espuma dos dias, pela vozearia habitual.”
AFundação Francisco Manuel dos Santos lançou, esta semana, em Bruxelas o livro As Crises na Economia Portuguesa, da autoria do Comité de Datação de Ciclos Económicos, da iniciativa da Fundação, constituído por um conjunto de reputados economistas portugueses, presidido por Ricardo Reis, um dos mais conceituados economistas portugueses no plano internacional.
Este comité vem preencher uma lacuna em Portugal: a existência de uma entidade independente que possa proceder à datação dos ciclos económicos, assinalando o início e o fim das recessões. Replica, para o caso português, o trabalho que tem sido desenvolvido noutras economias por entidades de referência como o National Bureau of Economic Research (EUA) e o Centre for Economic and Policy Research (Europa).
O que se publica neste livro, acessível a todos a partir do website da Fundação, é o trabalho de datação dos ciclos económicos, feito pelo comité, abrangendo o período entre 1910 e 2022.
Numa altura em que o país se prepara para a campanha eleitoral, é fundamental que os portugueses conheçam, com rigor e independência, os factos relacionados com a sua economia. É importante reconhecer que o país passou por décadas de estagnação económica e, mais recentemente, por graves crises, a última das quais causada pela pandemia. Entre 1910 e 2020 foram registadas 12 recessões na economia nacional.
A importância destes dados não se esgota no conhecimento sobre a economia portuguesa. A partir deles é possível compreender como se comportou o mercado de trabalho, como reagiram as famílias e a sociedade como um todo. Mais recentemente, é possível compreender a dinâmica económica do país que, por sua vez, tem consequências tão importantes como as demográficas, o envelhecimento da população, a atratividade do país para pessoas e investimento ou, mesmo, as dificuldades atuais ligadas à habitação e à emigração de jovens qualificados.
Uma campanha eleitoral é sempre uma oportunidade para discutir os grandes temas para o país, que preocupam os portugueses. Será um desperdício de energia se a discussão ficar pela espuma dos dias, pela vozearia habitual.
Fica aqui o convite a uma reflexão aprofundada, com base em dados rigorosos, no conhecimento da economia portuguesa. Podemos aprender com os erros do passado, mas também com aquilo que foi bem feito. Aproveitar a oportunidade para, com acesso a recursos sem precedentes, maioritariamente de origem europeia – daí o lançamento deste livro ter sido feito em Bruxelas – relançar as bases do crescimento nacional.
Foi esse o esforço também feito no estudo Do Made In ao Created In: Um novo paradigma para a economia portuguesa, coordenado por Fernando Alexandre, a quem felicito também por ter estado na origem da criação do comité e do livro agora lançado. E de muitos outros estudos e projetos que têm sido lançadas pela Fundação e outras entidades da sociedade civil portuguesa.
Assim a possamos aproveitar.