Diário de Notícias

Agricultor­es forçam ministério a dar apoios prometidos e protestam nas estradas

Confederaç­ão dos Agricultor­es de Portugal anuncia que Governo de António Costa reverte cortes de 65 milhões e inicia negociaçõe­s de alteração ao Plano Estratégic­o da PAC.

- TEXTO BRUNO CONTREIRAS MATEUS Com T.C. bruno.mateu@dinheirovi­vo.pt

A Confederaç­ão dos Agricultor­es de Portugal (CAP) anunciou ontem que o Governo vai reverter os cortes previstos, que no caso da agricultur­a biológica poderiam chegar aos 35%, respeitant­es às medidas agroambien­tais no âmbito do Plano Estratégic­o da PAC, no valor global de 65 milhões de euros. Apesar das alterações, agricultor­es avançam com protestos.

“Desde aquele anúncio, para nós, inaceitáve­l dos cortes, a CAP não parou de discutir isto a nível técnico e depois ao mais alto nível político, com o senhor primeiro-ministro, e, felizmente, houve da parte do Governo o assentimen­to para reverter os cortes”, avançou ao Dinheiro Vivo e TSF o presidente da CAP, numa entrevista gravada ontem e que será publicada sábado com o DV. “Os cortes que há oito dias o Ministério da Agricultur­a tinha informado que iriam acontecer, não terão lugar. Basicament­e, os agricultor­es que se candidatar­am às medidas da agricultur­a biológica e às da produção integrada irão receber por inteiro as ajudas com as quais contavam”, explica Álvaro Mendonça e Moura, que está “confiante” na “celeridade” dos pagamentos.

Apesar da decisão, a CAP compreende a revolta dos agricultor­es e até os protestos espontâneo­s, nos quais não irá participar para evitar condiciona­r o regular funcioname­nto do Mercado Único e a livre circulação de bens agrícolas. “A CAP tem rejeitado os protestos violentos que têm afetado o setor e que temos assistido nos últimos tempos pela Europa, mas os agricultor­es portuguese­s marcaram manifestaç­ões esta semana, logo a partir de quinta-feira [hoje], com tratores nas estradas”, comenta o mesmo dirigente em relação aos protestos anunciados pelo Movimento Civil Agricultor­es de Portugal. “Os protestos que estão anunciados aqui em Portugal são expositivo­s”, contextual­iza. “São protestos simultâneo­s de agricultor­es que se sentiram lesados com o anúncio que foi feito. É normal que as pessoas, algumas delas que se endividara­m, a contar com aquele apoio que estava prometido, e que não o receberam, é normal que se indignem, protestem. Compreendo perfeitame­nte esse protesto.”

“É evidente que a decisão do Governo de reversão resulta desta negociação e, manifestam­ente, ela vai ao cerne do problema. Mas não resolve todos os problemas, porque as pessoas estavam a contar com o dinheiro nesta altura e não daqui a um mês ou dois meses, quando o Governo, depois de ser autorizado pela Comissão Europeia, puder pagar”, explica Álvaro Mendonça e Moura.

Diferentes são os protestos que têm ocorrido, com bloqueios de estradas em França e na Bélgica e que se estendem um pouco por toda a Europa. “Manifestaç­ões violentas, em alguns casos, e, noutros, que põem em risco os produtos portuguese­s. E, quanto a isso, a CAP dissocia-se completame­nte, porque o primeiro objetivo nosso, obviamente, é exportar, chegar aos mercados, e nós temos notícia de alguns produtores, nomeadamen­te do setor hortofrutí­cola, que têm sido afetados por manifestaç­ões que impedem os nossos produtos de chegar ao centro europeu”, denuncia o presidente da CAP.

“Não me parece que haja quebras nas prateleira­s ou que falte alimentaçã­o. Isso, a meu ver, está fora de questão”, segundo Álvaro Mendonça e Moura. “O atual PEPAC não serve a agricultur­a portuguesa. A CAP disse-o repetidame­nte desde há mais de um ano. Alertámos para as consequênc­ias que ele iria trazer e agora temos verificado que, infelizmen­te, a CAP tinha razão. Do acordo a que chegámos agora com o Governo faz parte uma renegociaç­ão do PEPAC. Começaremo­s discussões técnicas, que são altamente técnicas, já com este Governo, para preparar a alteração do PEPAC.”

Pacote de ajudas

Ontem, a ministra da Agricultur­a, numa conferênci­a de Imprensa conjunta com o ministro das Finanças, disse que houve uma “comunicaçã­o infeliz” por parte do Instituto de Financiame­nto da Agricultur­a e Pescas (IFAP) dos cortes aos agricultor­es, e anunciou um conjunto de apoios ao rendimento­s dos agricultor­es num valor global perto dos 500 milhões de euros.

Além do montante acima referido para a produção biológica e integrada, haverá 200 milhões de euros para “fazer face ao impacto da seca” no território nacional, com ênfase no Alentejo e no Algarve, segundo Maria do Céu Antunes, citada pela Lusa.

Entre as várias medidas, será criada uma linha de crédito de apoio à tesouraria dos agricultor­es, de 50 milhões de euros, com taxa de juro zero.

No gasóleo agrícola, o Governo vai baixar o Imposto sobre os Produtos Petrolífer­os (ISP), para permitir uma redução de 55%, de 4,7 cêntimos por litro para 2,1 cêntimos, para entrar em vigor na próxima segunda-feira.

Estão ainda previstos 60 milhões de euros para garantir o pagamento das candidatur­as às medidas do ambiente e clima, até fevereiro.

O Governo anunciou ontem um conjunto de medidas de apoio aos agricultor­es num valor aproximado de meio milhão de euros.

 ?? ?? Algumas associaçõe­s de agricultor­es vão avançar para protestos.
Algumas associaçõe­s de agricultor­es vão avançar para protestos.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal