Distribuição prevê atrasos, mas ainda afasta subidas nos preços
Supermercados ainda não refletem as alterações de rotas dos navios de carga que transportam os bens que chegam a Portugal. A guerra no Médio Oriente, associada ao protestos dos agricultores, tem consequências para os preços, mas não imediatas.
Perante os vários conflitos mundiais, que obrigaram a adaptações nas rotas de transporte de bens, agora agravados com os protestos dos agricultores, toda a cadeia de valor fica afetada, e os consumidores não estão livres de encontrar preços agravados nas prateleiras dos supermercados. “Se o conflito [Israel-Hamas] permanecer e se se mantiver este período que vá provocar toda esta indefinição, admitimos que seja difícil de suportar um aumento e não o transmitir para o preço final”, confirmou ao DN o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), Gonçalo Lobo Xavier.
Ainda assim, explica o dirigente da APED, “neste momento o que estamos a verificar é atrasos e aumentos, mas nada que ainda seja sentido pelo consumidor no imediato”.
No que diz respeito à guerra na Ucrânia, com todas as consequências que tem trazido, desde fevereiro de 2022, para o comércio de cereais e energia, esta não é o centro das preocupações, confirmou ao DN o presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes. “Em termos de produtos alimentares, os problemas estruturais que foram criados com a guerra da Ucrânia, de abastecimento de cereais e outros, estão minimamente estabilizados, até porque esses não vêm em geral da Europa, nem vêm do Oriente. Vêm da América Latina ou dos Estados Unidos. Portanto, nada tem baixado [de preço], mas também não tem havido subidas muito significativas”, sustenta o representante do comércio.
Por outro lado, o conflito Israel-Hamas levou a que as rotas comerciais, que até agora passavam pelo Mar Vermelho, para evitar os ataques dos Houthis – rebeldes apoiados pelo Irão –, tivessem de mudar os itinerários, o que está a ter como consequência demoras nos produtos, que a longo prazo implicarão alterações nos preços dos bens importados por Portugal provenientes da Ásia.
“A influência principal são os produtos importados no Oriente. Em tudo o que seja eletrónicos, brinquedos, independentemente de alguns agravamentos de preços, há interrupções de fornecimento, precisamente porque os stocks não estão a chegar”, lembra JoãoVieira Lopes. Isto acontece “até nas próprias componentes dos automóveis. É público que a fábrica da Tesla, na Alemanha, parou. Há muitos bens que, mesmo que sejam fabricados na Europa, têm componentes que vêm de todo mundo. Aí, de facto, a rota do Cabo da Boa Esperança [alternativa à do Cabo do Suez, no Mar Vermelho] tem interesse e acima de tudo muda os planeamentos de stocks de produção”, lembra o líder da CCP.
“No retalho alimentar, daquelas geografias o que vem, sobretudo, é peixe congelado e salmão. Até agora, o que estamos a ter é atrasos e aumentos de preços, como é evidente, no custo associado ao transporte”, explica Gonçalo Lobo Xavier. “Neste momento o consumidor ainda não sentiu esse agravamento, porque esse produto ainda não está a ser disponibilizado e atrasos não implicam necessariamente um aumento de custo. Implicam um aumento do custo de transporte, que poderá ser eventualmente diluído, e a distribuição fará um esforço para não o transmitir de imediato ao consumidor. Agora, é evidente que isto traz um transtorno a nível global, sobretudo para o retalho especializado, que tem componentes eletrónicos, de moda, de têxtil, ligados à informática, à eletrónica de consulta. Tudo isso são de facto mercadorias que vêm da Ásia e, portanto, naturalmente têm um impacto difícil de não transmitir”, conclui o dirigente da APED.
“Os problemas estruturais que foram criados com a guerra na Ucrânia, de abastecimento de cereais e outros, estão minimamente estabilizados”, explica o líder da CCP, João Vieira Lopes.