Diário de Notícias

Distribuiç­ão prevê atrasos, mas ainda afasta subidas nos preços

Supermerca­dos ainda não refletem as alterações de rotas dos navios de carga que transporta­m os bens que chegam a Portugal. A guerra no Médio Oriente, associada ao protestos dos agricultor­es, tem consequênc­ias para os preços, mas não imediatas.

- TEXTO VÍTOR MOITA CORDEIRO

Perante os vários conflitos mundiais, que obrigaram a adaptações nas rotas de transporte de bens, agora agravados com os protestos dos agricultor­es, toda a cadeia de valor fica afetada, e os consumidor­es não estão livres de encontrar preços agravados nas prateleira­s dos supermerca­dos. “Se o conflito [Israel-Hamas] permanecer e se se mantiver este período que vá provocar toda esta indefiniçã­o, admitimos que seja difícil de suportar um aumento e não o transmitir para o preço final”, confirmou ao DN o diretor-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuiç­ão (APED), Gonçalo Lobo Xavier.

Ainda assim, explica o dirigente da APED, “neste momento o que estamos a verificar é atrasos e aumentos, mas nada que ainda seja sentido pelo consumidor no imediato”.

No que diz respeito à guerra na Ucrânia, com todas as consequênc­ias que tem trazido, desde fevereiro de 2022, para o comércio de cereais e energia, esta não é o centro das preocupaçõ­es, confirmou ao DN o presidente da Confederaç­ão do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes. “Em termos de produtos alimentare­s, os problemas estruturai­s que foram criados com a guerra da Ucrânia, de abastecime­nto de cereais e outros, estão minimament­e estabiliza­dos, até porque esses não vêm em geral da Europa, nem vêm do Oriente. Vêm da América Latina ou dos Estados Unidos. Portanto, nada tem baixado [de preço], mas também não tem havido subidas muito significat­ivas”, sustenta o representa­nte do comércio.

Por outro lado, o conflito Israel-Hamas levou a que as rotas comerciais, que até agora passavam pelo Mar Vermelho, para evitar os ataques dos Houthis – rebeldes apoiados pelo Irão –, tivessem de mudar os itinerário­s, o que está a ter como consequênc­ia demoras nos produtos, que a longo prazo implicarão alterações nos preços dos bens importados por Portugal provenient­es da Ásia.

“A influência principal são os produtos importados no Oriente. Em tudo o que seja eletrónico­s, brinquedos, independen­temente de alguns agravament­os de preços, há interrupçõ­es de fornecimen­to, precisamen­te porque os stocks não estão a chegar”, lembra JoãoVieira Lopes. Isto acontece “até nas próprias componente­s dos automóveis. É público que a fábrica da Tesla, na Alemanha, parou. Há muitos bens que, mesmo que sejam fabricados na Europa, têm componente­s que vêm de todo mundo. Aí, de facto, a rota do Cabo da Boa Esperança [alternativ­a à do Cabo do Suez, no Mar Vermelho] tem interesse e acima de tudo muda os planeament­os de stocks de produção”, lembra o líder da CCP.

“No retalho alimentar, daquelas geografias o que vem, sobretudo, é peixe congelado e salmão. Até agora, o que estamos a ter é atrasos e aumentos de preços, como é evidente, no custo associado ao transporte”, explica Gonçalo Lobo Xavier. “Neste momento o consumidor ainda não sentiu esse agravament­o, porque esse produto ainda não está a ser disponibil­izado e atrasos não implicam necessaria­mente um aumento de custo. Implicam um aumento do custo de transporte, que poderá ser eventualme­nte diluído, e a distribuiç­ão fará um esforço para não o transmitir de imediato ao consumidor. Agora, é evidente que isto traz um transtorno a nível global, sobretudo para o retalho especializ­ado, que tem componente­s eletrónico­s, de moda, de têxtil, ligados à informátic­a, à eletrónica de consulta. Tudo isso são de facto mercadoria­s que vêm da Ásia e, portanto, naturalmen­te têm um impacto difícil de não transmitir”, conclui o dirigente da APED.

“Os problemas estruturai­s que foram criados com a guerra na Ucrânia, de abastecime­nto de cereais e outros, estão minimament­e estabiliza­dos”, explica o líder da CCP, João Vieira Lopes.

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Preços ao consumidor podem subir como efeito das alteração das rotas comerciais, consequênc­ia dos conflitos internacio­nais.

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