Diário de Notícias

Demitir o popular general Zaluzhnyi? Zelensky entre afastar um rival e irritar os ucranianos

Boatos sobre demissão do chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas ucranianas têm-se multiplica­do nos últimos dias. Presidente desconfia das suas ambições políticas, mas afastá-lo pode irritar os militares que o veneram.

- TEXTO HELENA TECEDEIRO

Se em dois anos de guerraVolo­dymyr Zelensky se impôs ao mundo como o rosto da resistênci­a ucraniana, em casa a sua popularida­de encontra no generalVal­erii Zaluzhnyi um rival à altura. Segundo uma sondagem do Instituto Internacio­nal de Sociologia de Kiev, divulgada em dezembro, 62% dos ucranianos confiam no presidente, mas são 88% os que dizem depositar a sua fé no chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas. Então o que faz Zelensky parecer disposto a arriscar demitir o homem que liderou a estratégia militar ucraniana face à invasão russa?

A tensão entre o presidente e o seu chefe do Estado-Maior já se vem arrastando há vários meses. Nomeado por Zelensky para o cargo em julho de 2021, quando a Ucrânia já combatia há sete anos os separatist­as pró-russos no leste do país, foi contudo depois da invasão russa, a 24 de fevereiro de 2022, que Zaluzhnyi se destacou, com as tropas ucranianas, sob o seu comando, a protegerem Kiev e a recuperar grande parte do território, empurrando os soldados de Moscovo para o Leste.

Mas perante as falhas da contraofen­siva ucraniana, o fosso entre os dois homens aprofundou-se. Sobretudo depois de em novembro de 2023 o general Zaluzhnyi ter dado uma entrevista à revista The Economist na qual admitia que a guerra estava “num impasse” e que sem um salto tecnológic­o “muito provavelme­nte não haverá qualquer avanço belo e profundo”. A reação de Kiev não se fez esperar, com o gabinete do presidente a desmentir as palavras do militar.

Apesar de todos os rumores sobre o seu eventual afastament­o – os primeiros surgiram a 29 de janeiro, tendo sido logo desmentido­s tanto pelo Ministério da Defesa, como pelo gabinete do presidente – Zaluzhnyi terá recusado demitir-se em troca de um cargo de assessor oferecido por Zelensky.

Novo modelo de guerra

E ontem o general publicou mesmo um artigo de opinião no site da cadeia norte-americana CNN no qual defende uma nova estratégia se a Ucrânia quiser vencer a guerra. Para o militar, Kiev tem de se preparar para a “redução do apoio militar por

Zelensky e Zaluzhnyi em julho passado num encontro para discutir o ataque russo em Dnipro.

parte de aliados-chave, e lidar com os seus próprios problemas”. Zaluzhnyi recorda que a Rússia está a beneficiar do facto de a comunidade internacio­nal estar “distraída” com os últimos desenvolvi­mentos no Médio Oriente e sublinha que a Ucrânia tem de reconhecer a vantagem de Moscovo na hora de “mobilizar recursos humanos”.

Para ele, a “prioridade número um”, e o maior desafio para a Ucrânia, passa por “criar um sistema de rearmament­o tecnológic­o totalmente novo”, o que deverá estar concluído “dentro de cinco meses”. Em resumo, no artigo intitulado Modelo da Guerra Mudou, o chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas garante que, em 2024, Kiev deve concentrar-se em três pontos: “Criar um sistema que dote as [suas] Forças Armadas de ativos de alta tecnologia”; “introduzir uma nova filosofia de treino e combate que tenha em conta as restrições nos ativos”; e “dominar novas capacidade­s de combate”.

OExemplo de mudança

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