Menos impostos, mais mercado: a fórmula da IL para mudar o país
Iniciativa Liberal fez evento à americana para apresentar propostas. Liberdade de escolha na Saúde e Educação, cortes fiscais e menos Estado fazem parte da equação. IL quer criar um sistema de financiamento por aluno “que permitirá às famílias matriculare
“Olá, liberais! Estão acordados? Não tenham vergonha, podem abanar as bandeiras. Vejam se têm o cartaz do lado certo.” Numa sala com um palco montado no meio de duas bancadas de cadeiras, à americana, a apresentadora ia dando instruções para o evento que aconteceu no dia de reflexão das eleições açorianas. Contrariando as diretivas da Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Iniciativa Liberal (IL) fez a apresentação de um programa assente em cinco pontos: crescimento económico, menos impostos mais poder de compra; Saúde, menos espera, mais escolha; Educação, menos facilitismo, mais exigência; habitação, menos burocracia, mais casas; Justiça, menos complexidade, mais celeridade.
“Crescimento” e “coragem” foram as palavras que mais se ouviram, num evento em que o ex-líder João Cotrim de Figueiredo voltou a pôr os liberais a gritar em uníssono que “o liberalismo funciona e faz falta” e ensaiou um novo coro para as legislativas de 10 de março: “Não subestimem a Iniciativa Liberal.”
Os mantras da IL foram todos usados, das críticas ao “estatismo” que o líder Rui Rocha vê em “todas as outras forças políticas” (do Chega ao PS), às vantagens de deixar “o mercado funcionar” para responder à crise na habitação e na Saúde, sem esquecer “a liberdade de escolha” do médico e da escola.
Numa apresentação sobre “o elevador social, a deputada Patrícia Gilvaz explicou que fez todo o seu percurso escolar no ensino público e numa escola TEIP – o que, no jargão da Educação, quer dizer que se insere num meio problemático. “Frequentei esta escola por não ter a liberdade de escolher outra, mas hoje escolhê-la-ia na mesma”, começou por dizer, antes de defender um modelo de ensino que se centre “no aluno, independentemente da escola que frequenta”.
Olhando para o programa da IL, percebe-se que isso significa criar um sistema de financiamento por aluno “que permitirá às famílias matricularem os seus filhos nas escolas que quiserem, sejam públicas, privadas ou sociais, sabendo que são igualmente comparticipadas pelo Estado”. Mas isto, tendo em conta “a condição socioeconómica dos alunos”.
Rui Rocha desafiou a CNE e manteve o evento no Teatro Capitólio, em Lisboa, em dia de reflexão nos Açores.
E como se decidem então as vagas? “Por via de um algoritmo/sorteio de alocação dos alunos às escolas, sem interferência destas últimas.” Fica por perceber se as escolas privadas podem rejeitar entrar neste sistema e continuar a selecionar os seus estudantes.
“O IMT é para acabar”
Bernardo Blanco, outro deputado liberal, entusiasmou a sala quando falou de habitação para anunciar que “o famoso imposto Mortágua [o Adicional ao IMI] no primeiro dia de Governo [da IL] é para acabar, o IMT é para acabar, os impostos sobre as rendas são para acabar”. Isto, apesar de o programa prever apenas a redução do imposto sobre as rendas para uma taxa máxima de 14,5%.
Acreditando que o problema da habitação tem origem na falta de oferta, Blanco quer “tirar o Estado da frente da construção”, simplificar as licenças e “construir muito mais em altura”. Uma ideia que foi repetida por outras oradoras, incluindo a arquiteta e cabeça de lista porViana do Castelo, Marta Von Fridden, que defendeu a possibilidade de atribuir licenças de habitação a espaços mais exíguos, para quem “privilegia mais estar na rua”.
Para falar sobre Saúde, a IL convique
dou aquela que era uma das cabeças de cartaz da tarde, a CEO do Grupo Luz Saúde, que Cotrim Fde igueiredo anunciou como “a notável Isabel Vaz” e que é muitas vezes apontada como a figura mais poderosa da medicina privada em Portugal. A gestora deambulou com à vontade sobre o palco, em modo Ted Talk, e veio atacar quem defende o fim dos privados na Saúde (coisa que não consta do programa de nenhum dos partidos com assento parlamentar).
Isabel Vaz ficou famosa por dizer
“melhor negócio do que a Saúde só o do armamento” e veio falar de negócio. “É um dos maiores negócios do séc. XXI e não tenhamos medo de o dizer”, declarou, explicando que em 2021 o total da despesa em Portugal (pública e privada e incluindo nas farmácias) foi de “24 bis” (ou seja, 24 mil milhões de euros). A gestora notou que 30% desse valor “é pago diretamente pelas famílias” e que em Portugal 50% da população tem um seguro ou outro subsistema. “É o dobro da União Europeia”, apontou.
No programa, a IL propõe um sistema “onde as pessoas possam escolher onde e por quem querem ser tratadas, com mais acesso e menos espera” e recuperar as PPP.
À frente de uma plateia muito jovem, Rui Rocha falou de “coragem” e de pôr “o país a crescer”, porque “um país que é para os jovens é um país para todos”. A sala rejubilou batendo os pés e levantando-se sempre que Cotrim, na primeira fila, se erguia da cadeira. “Isto está a tremer e não são as pernas dos banqueiros alemães”, gracejou Rocha, que acha que “o único voto que muda é o voto na IL”. E que, esta segunda-feira, se estreará nos debates num frente a frente com Pedro Nuno Santos.