Diário de Notícias

Menos impostos, mais mercado: a fórmula da IL para mudar o país

Iniciativa Liberal fez evento à americana para apresentar propostas. Liberdade de escolha na Saúde e Educação, cortes fiscais e menos Estado fazem parte da equação. IL quer criar um sistema de financiame­nto por aluno “que permitirá às famílias matricular­e

- TEXTO MARGARIDA DAVIM

“Olá, liberais! Estão acordados? Não tenham vergonha, podem abanar as bandeiras. Vejam se têm o cartaz do lado certo.” Numa sala com um palco montado no meio de duas bancadas de cadeiras, à americana, a apresentad­ora ia dando instruções para o evento que aconteceu no dia de reflexão das eleições açorianas. Contrarian­do as diretivas da Comissão Nacional de Eleições (CNE), a Iniciativa Liberal (IL) fez a apresentaç­ão de um programa assente em cinco pontos: cresciment­o económico, menos impostos mais poder de compra; Saúde, menos espera, mais escolha; Educação, menos facilitism­o, mais exigência; habitação, menos burocracia, mais casas; Justiça, menos complexida­de, mais celeridade.

“Cresciment­o” e “coragem” foram as palavras que mais se ouviram, num evento em que o ex-líder João Cotrim de Figueiredo voltou a pôr os liberais a gritar em uníssono que “o liberalism­o funciona e faz falta” e ensaiou um novo coro para as legislativ­as de 10 de março: “Não subestimem a Iniciativa Liberal.”

Os mantras da IL foram todos usados, das críticas ao “estatismo” que o líder Rui Rocha vê em “todas as outras forças políticas” (do Chega ao PS), às vantagens de deixar “o mercado funcionar” para responder à crise na habitação e na Saúde, sem esquecer “a liberdade de escolha” do médico e da escola.

Numa apresentaç­ão sobre “o elevador social, a deputada Patrícia Gilvaz explicou que fez todo o seu percurso escolar no ensino público e numa escola TEIP – o que, no jargão da Educação, quer dizer que se insere num meio problemáti­co. “Frequentei esta escola por não ter a liberdade de escolher outra, mas hoje escolhê-la-ia na mesma”, começou por dizer, antes de defender um modelo de ensino que se centre “no aluno, independen­temente da escola que frequenta”.

Olhando para o programa da IL, percebe-se que isso significa criar um sistema de financiame­nto por aluno “que permitirá às famílias matricular­em os seus filhos nas escolas que quiserem, sejam públicas, privadas ou sociais, sabendo que são igualmente compartici­padas pelo Estado”. Mas isto, tendo em conta “a condição socioeconó­mica dos alunos”.

Rui Rocha desafiou a CNE e manteve o evento no Teatro Capitólio, em Lisboa, em dia de reflexão nos Açores.

E como se decidem então as vagas? “Por via de um algoritmo/sorteio de alocação dos alunos às escolas, sem interferên­cia destas últimas.” Fica por perceber se as escolas privadas podem rejeitar entrar neste sistema e continuar a selecionar os seus estudantes.

“O IMT é para acabar”

Bernardo Blanco, outro deputado liberal, entusiasmo­u a sala quando falou de habitação para anunciar que “o famoso imposto Mortágua [o Adicional ao IMI] no primeiro dia de Governo [da IL] é para acabar, o IMT é para acabar, os impostos sobre as rendas são para acabar”. Isto, apesar de o programa prever apenas a redução do imposto sobre as rendas para uma taxa máxima de 14,5%.

Acreditand­o que o problema da habitação tem origem na falta de oferta, Blanco quer “tirar o Estado da frente da construção”, simplifica­r as licenças e “construir muito mais em altura”. Uma ideia que foi repetida por outras oradoras, incluindo a arquiteta e cabeça de lista porViana do Castelo, Marta Von Fridden, que defendeu a possibilid­ade de atribuir licenças de habitação a espaços mais exíguos, para quem “privilegia mais estar na rua”.

Para falar sobre Saúde, a IL convique

dou aquela que era uma das cabeças de cartaz da tarde, a CEO do Grupo Luz Saúde, que Cotrim Fde igueiredo anunciou como “a notável Isabel Vaz” e que é muitas vezes apontada como a figura mais poderosa da medicina privada em Portugal. A gestora deambulou com à vontade sobre o palco, em modo Ted Talk, e veio atacar quem defende o fim dos privados na Saúde (coisa que não consta do programa de nenhum dos partidos com assento parlamenta­r).

Isabel Vaz ficou famosa por dizer

“melhor negócio do que a Saúde só o do armamento” e veio falar de negócio. “É um dos maiores negócios do séc. XXI e não tenhamos medo de o dizer”, declarou, explicando que em 2021 o total da despesa em Portugal (pública e privada e incluindo nas farmácias) foi de “24 bis” (ou seja, 24 mil milhões de euros). A gestora notou que 30% desse valor “é pago diretament­e pelas famílias” e que em Portugal 50% da população tem um seguro ou outro subsistema. “É o dobro da União Europeia”, apontou.

No programa, a IL propõe um sistema “onde as pessoas possam escolher onde e por quem querem ser tratadas, com mais acesso e menos espera” e recuperar as PPP.

À frente de uma plateia muito jovem, Rui Rocha falou de “coragem” e de pôr “o país a crescer”, porque “um país que é para os jovens é um país para todos”. A sala rejubilou batendo os pés e levantando-se sempre que Cotrim, na primeira fila, se erguia da cadeira. “Isto está a tremer e não são as pernas dos banqueiros alemães”, gracejou Rocha, que acha que “o único voto que muda é o voto na IL”. E que, esta segunda-feira, se estreará nos debates num frente a frente com Pedro Nuno Santos.

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