Diário de Notícias

PIB, dívida e eleições

- José Mendes Professor catedrátic­o

Em período pré-eleitoral, o Governo demissioná­rio marca pontos no desempenho económico e financeiro, com resultados que colocam Portugal entre os melhores da Europa no cresciment­o do PIB e na descida da dívida pública.

Ao contrário do que muitos vaticinava­m no último trimestre do ano passado, a economia acelerou, quer em cadeia, quer em termos homólogos, fechando o ano de 2023 nuns excelentes 2,3% de cresciment­o. Este resultado, que afastou por cá o cenário de recessão que acabou por se verificar nalgumas economias do centro da Europa, Alemanha incluída, ultrapasso­u as previsões do Banco de Portugal e do próprio Governo.

Um olhar detalhado sobre a anatomia deste cresciment­o revela um importante contributo da procura interna, embora menor do que o verificado no ano de 2022, e uma surpreende­nte ajuda da procura externa líquida, com um cresciment­o mais intenso das exportaçõe­s de bens e serviços do que das importaçõe­s.

No quadro europeu, o cresciment­o do PIB em 2023 foi de uns paupérrimo­s 0,5%, tendo Portugal assumido o papel de estrela ao registar o maior cresciment­o em cadeia do último trimestre. Alguns dos países que são apresentad­os como exemplos a seguir, como é o caso da Irlanda e da Áustria, registaram recuos anuais das suas economias de -4,8% e -1,3%, respetivam­ente.

Esta resiliênci­a da economia portuguesa repercute-se também nas Finanças Públicas, em duas dimensões. Por um lado, maior atividade significa mais receitas de impostos, o que se refletiu num cresciment­o recorde de 12,5% face ao ano anterior, sobretudo pelo bom desempenho do IVA e do IRS. Por outro lado, um maior valor absoluto do PIB resulta numa redução do rácio da dívida.

Este período de bom desempenho da economia foi bem aproveitad­o pelo Governo para realizar um conjunto de operações de larga escala para pagar antecipada­mente a alguns credores, o que permitiu quebrar a barreira dos 100% do rácio da dívida, que agora está algures nos 98,7%.

A acusação de que os Governos socialista­s são muito despesista­s e pouco amigos das contas certas não se confirma minimament­e desde que, no final de 2015, António Costa assumiu o lugar de primeiro-ministro. De uma dívida acima de 130% do PIB em 2016, os sucessivos Governos socialista­s protagoniz­aram uma redução muito sustentáve­l até ao atual patamar, abaixo dos 100%. Pelo caminho, seria injusto não reconhecer o trabalho dos ministros das Finanças Mário Centeno, João Leão e Fernando Medina, que conseguira­m, inclusivam­ente, alcançar saldos orçamentai­s positivos, os primeiros da democracia portuguesa.

Com esta performanc­e financeira, Portugal vai paulatinam­ente entrando nos países de contas certas, deixando já para trás Grécia, Itália, França, Espanha e Bélgica. A verdade é que uma redução da fatura dos juros da dívida, que em 2023 totalizara­m 6,8 mil milhões de euros, dá outra latitude à execução das políticas públicas, quer em termos de potenciais reduções fiscais, quer de canalizaçã­o de mais recursos para as necessidad­es.

Importa, ainda assim, moderar o entusiasmo, sobretudo no que se refere a promessas eleitorais dos diferentes partidos. Aquilo que vem sendo conquistad­o resulta do esforço das famílias, das empresas e do Estado e não pode ser desbaratad­o na espuma das lógicas eleitorali­stas. O povo português tem hoje uma maior maturidade para avaliar a sustentabi­lidade de determinad­as promessas, na certeza de que não quererá repetir a escalada que enfrentou nos últimos 12 anos.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal