Diário de Notícias

Facebook aos 20. Longe de estar morto, está a mudar porque nós mudámos

Duas décadas volvidas, a maior rede social do mundo parece ter passado de moda, tanto que muitos já lhe decretaram o fim iminente. Mas a realidade objetiva mostra outra história.

- TEXTO RICARDO SIMÕES FERREIRA

O Facebook continua a conquistar utilizador­es ativos no mundo inteiro.

É “uma rede social para velhos”; “Já ninguém usa isso”; “Eles andam a perder imensos utilizador­es em todo o mundo”. Estes são alguns exemplos de comentário­s ouvidos por quem trabalha diariament­e com redes sociais acerca da maior plataforma do género a nível mundial que hoje, domingo, 4 de fevereiro de 2024, faz 20 anos. E, de facto, longe vai a fase de cresciment­o acelerado que fez com que atingisse o marco dos mil milhões de utilizador­es ativos em pouco mais de cinco anos, e muita gente tem desistido de usar a plataforma. Contudo, o panorama geral é bem mais rico (literalmen­te) do que muitas vezes se conta, agora que a plataforma está diferente – há isso está! Mas já lá vamos.

A ideia de que há muita gente a abandonar o Facebook não nasce, apesar de tudo, no vácuo. Pelo contrário – e Portugal está até na linha da frente desse fenómeno. O mais recente estudo – Os Portuguese­s e as Redes Sociais – de 2023, da empresa de audimetria e estudos de mercado Marktest, dão conta que, em setembro do ano passado, esta rede social liderava o ranking das desistênci­as, com quase um quarto dos inquiridos (24,7%) a dizerem que tinham deixado de a usar nos últimos 12 meses (ver quadro). Nota curiosa: a “rede da moda”, o TikTok, surge neste estudo logo atrás, com 22,8%.

Este Bareme Internet, enviado ao DN, sondou 801 pessoas (392 homens e 409 mulheres), entre os 15 e os 64 anos, residentes em Portugal continenta­l e cujo universo é estimado em 5 milhões e 441 mil indivíduos.

O próprio Facebook assume uma queda no nosso país: de 9,3 milhões de utilizador­es, em agosto de 2023, para 8,6 milhões em dezembro do mesmo ano, segundo o statista.com.

O que, no entanto, não quer dizer que a empresa-mãe, a Meta, sofra muito com isso: o Instagram, a sua outra grande rede social tem vindo a crescer progressiv­amente – dados do referido Bareme da Marktest, de 67,9% dos portuguese­s que a usaram em 2019 para 80,5% em 2023, de ano para ano foi sempre a subir.

Neste mesmo panorama, o Facebook manteve-se relativame­nte estável entre 2020 e 2022, tendo só agora registado a referida queda – afinal, num país de 10 milhões de habitantes, após o “pico” de 9,3 milhões em agosto não haveria muito mais para onde subir...

O mundo ainda não chega

E se a realidade portuguesa continua a não ser tão má quanto isso para a primeiracr­iaçãodeMar­kZuckerber­g, os números mundiais traçam um retrato a cores ainda mais garridas.

De acordo com o site especializ­ado statista.com, o Facebook fechou o 3.º trimestre do ano passado (setembro de 2023) com 3,05 mil milhões de utilizador­es ativos, bem acima dos 2,8 mil milhões um ano antes.

Nos Estados Unidos é que a tendência, de facto, tem sido decrescent­e – de 280 milhões em 2022 para 243 no ano passado (statista.com) –, daí as várias notícias de que a plataforma

Certo é que nem esta, nem qualquer outra rede social é hoje aquilo que era há, por exemplo, cinco anos. Por natureza, estas plataforma­s mudam, adaptam-se, consoante o comportame­nto dos seus utilizador­es. Afinal, todos os seus conteúdos são aquilo que que quem as usa nelas publica – mesmo quando estes são produzidos por outros.

Como já terá reparado qualquer utilizador mais atento, os conteúdos partilhado­s são cada vez menos experiênci­as pessoais de amigos – tendendo estes a preferir os serviços de mensagens como o WhatsApp –, dando lugar a partilhas de produtores profission­ais (publishers) ou semi (influencer­s), ou para influência política ou apenas divertidos (memes, simples comentário­s...).

Claro que o Facebook já deu por isso, e há muito. Tanto que alterou os seus algoritmos de distribuiç­ão nesse sentido, aumentou as sugestões de grupos de interesses próximos daqueles que o utilizador segue – em detrimento de procurar pessoas individuai­s que o próprio possa conhecer – e mais facilmente apresenta conteúdos de anónimos que venham ao encontro dos interesses demonstrad­os do que partilhas de “amigos”.

Daí que, tal como a The Economist aponta esta semana, estejamos a presenciar o fim da “rede social” – aquela entre pessoas individuai­s mais ou menos conhecidas a partilhar experiênci­as – , passando para um modelo de plataforma em que as pessoas que queiram conversar se fecham em grupos privados enquanto “cá fora” indivíduos publicam vídeos de façanhas para se mostrar.

Mas se é (mais ou menos) assim, é porque queremos que assim seja. Os hábitos de quem navega online estão permanente­mente a mudar, é assim desde que há internet. O êxito de uma empresa desta área mede-se, também, pela sua capacidade de os acompanhar. No caso da Meta, pelo menos por enquanto, os números parecem continuar a dar-lhe razão: a empresa fechou o ano passado com um lucro líquido de 39 mil milhões de dólares (36,1 mil milhões de euros). Produtos como Instagram eWhatsApp contribuír­am para este resultado, mas o Facebook continua a ser um gigante que, também por se ir adaptando, não tem rival.

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