Diário de Notícias

Com a voz do diálogo e o sangue do IRA

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Nascida em 1977 no seio de uma família católica, republican­a, e ativa no Exército Republican­o Irlandês (IRA), Michelle Doris teve o pai e um primo presos, e outro primo baleado mortalment­e pelas forças especiais britânicas, enquanto um tio emigrado nos EUA era dirigente da NORAID, uma associação de recolha de fundos pró-republican­a. Antes de singrar na política foi mãe solteira aos 16 anos. Na sequência do Acordo de Sexta-feira Santa, em 1998, já com o nome de casada, começou por ser assessora do Sinn Féin no parlamento local. Em 2005 sucedeu ao pai enquanto representa­nte na autarquia de Dungannon, onde mais tarde foi eleita mayor. Dois anos depois foi eleita para o parlamento, onde trabalhou de perto com o líder Martin McGuinness, o comandante do IRA que teve um papel crucial para alcançar a paz. McGuinness elevou-a a ministra em 2011 e designou-a como potencial líder antes da sua morte, em 2017. Um ano depois, O’Neill tornou-se vice-presidente do Sinn Féin e, em 2020, vice-primeira-ministra da Irlanda do Norte.

O resultado das eleições de 2022 deram a vitória ao Sinn Féin, mas só agora, vencidos os bloqueios dos unionistas do DUP, é que uma republican­a chega ao mais alto cargo da Irlanda do Norte. Apesar dos antecedent­es familiares, e de ter defendido o IRA – “na altura não havia alternativ­a”, afirmou numa entrevista em 2022 – Michelle O’Neill advoga o diálogo e deu sinais muito fortes disso mesmo quando se deslocou a Londres para o funeral de Isabel II e para a coroação de Carlos. O Sinn Féin sempre recusou ocupar os lugares dos deputados eleitos para a Câmara dos Comuns, em Londres.

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