Polícias sentem-se ameaçados pelo ministro e respondem com vaga de baixas
Centenas de polícias apelam nas redes sociais ao endurecimento da luta: “Ninguém compareça nas esquadras.”
Paulo Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), não se revê nas formas de protesto que põem em causa o cumprimento das missões, mas, em declarações ao DN, acrescenta que “não pode, não deve e não quer” travar as centenas de polícias que, nos diversos grupos das redes sociais, defendem o recurso às baixas médicas de última hora.
No sábado, 13 agentes da PSP que deviam assegurar o policiamento no Famalicão-Sporting meterem baixa à última hora. Nem o comando do Porto, nem o de Viana de Castelo, atacados por um repentino surto de enfermidades, puderam enviar agentes para substituir os que se declaram impedidos. O jogo foi adiado. Ontem, também por falta de polícias, foram adiados mais dois desafios, ambos da II Liga: Leixões-Nacional e o Feirense-Académico de Viseu.
As declarações do ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, ontem, ao princípio da tarde, a qualificar como um “ato de insubordinação intolerável” as faltas ao policiamento e a prometer inquéritos e participações ao Ministério Público incendiaram os grupos de conversação dos polícias nas redes sociais. De tal maneira, que a partida da I Liga entre o Benfica e o Gil Vicente esteve em risco.
As palavras do ministros tiveram o efeito de uma barragem de artilharia sobre os polícias que responderam com as granadas que tinham à mão: apelos indignados ao boicote de todos os jogos de futebol. “O ministro, incompreensivelmente, quis apagar o fogo com gasolina”, diz Paulo Santos ao DN. Ainda José Luís Carneiro falava e já os grupos no WhatsApp explodiam em cólera.
“Os polícias estão desesperados. Muitos entendem que não têm nada a perder e estão dispostos a tudo. Este movimento, que em nenhum momento esteve sob controlo sindical, está imparável e em crescendo. É preciso cautela e bom senso da parte do Governo”, diz Paulo Santos.
Centenas de polícias escrevem nas redes sociais apelos aos camaradas para que não desistam da luta. Os mais radicais propõem que o recurso às baixas médicas seja estendido ao trabalho normal de todos os dias: “Vamos alegar doença, assistência à família ou, simplesmente, dar uma falta injustifica e ninguém, nem que seja por um dia, vai comparecer numa esquadra.”
O dirigente sindical Paulo Santos apela à moderação dos polícias: “Em nenhum momento podemos fugir ao nosso dever e não cumprirmos a nossa missão pondo em causa a Segurança Pública”. Mas, em contrapartida, exige ao Governo “uma atitude séria” para resolver, de vez, o problemas dos polícias. Ontem, sentiu as palavras do ministro como uma “ameaça”.
A luta dos polícias por melhores salários, maior Subsídio de Risco e condições de trabalho começou a 7 de fevereiro – quando o agente Pedro Costa, colocado na Divisão da PSP no aeroporto de Lisboa, iniciou sozinho, à civil, uma vigília à frente da escadaria da Assembleia da República.
Partilhou um vídeo no WhatsApp apelando aos colegas que se juntassem. E juntaram-se. A atribuição de um Suplemento de Missão à Polícia Judiciária foi a gota de água e a ação solitária de Pedro Costa o rastilho da revolta que hoje une a PSP, a GNR e o Corpo da Guarda Prisional.
Estão em pé de guerra há quase um mês. “Não vamos parar”, garante Paulo Santos.
“Protesto com elevação”
O porta-voz da plataforma que congrega sindicatos e associações das forças de segurança e presidente do Sindicato Nacional de Oficiais de Polícia , comissário Bruno Pereira, pede “urgência” e “contenção” ao ministro, sob pena de “os movimento de protesto poderem alastrar e contaminar o que tem sido um protesto sóbrio e com elevação”, disse em declarações à Lusa.
Sobre as declarações do presidente do Sindicato Nacional de Polícia, Armando Ferreira, que em entrevista à SIC Notícias admitia perturbações nas próximas eleições legislativas, Bruno Pereira disse não lhe caber “fazer a defesa da honra do sindicalista”, afirmando não ter visto qualquer ameaça, mas sim um alerta, já reiterado pela plataforma sindical em carta enviada ao primeiro-ministro.
Ele próprio deixa um “alerta”: o descontentamento dos polícias pode afetar a entrega de exames nacionais nas escolas, o controlo de fronteiras e o policiamento de grandes eventos.
As palavras do ministro tiveram o efeito de uma barragem de artilharia sobre os polícias que responderam com as granadas que tinham à mão: apelos indignados ao boicote a todos os jogos de futebol.