Diário de Notícias

De “Rainha dos Ares” a “Rosa de Tóquio”, a tragédia de Amelia Earhart

Janeiro de 2024 trouxe notícias do fundo das águas do Pacífico. Uma equipa norte-americana de investigad­ores crê ter encontrado o avião há muito desapareci­do da pioneira da aviação, Amelia Earhart. A tragédia de 1937 ganhou estatuto de mito. Uma história

- TEXTO JORGE ANDRADE

A26 de setembro de 2006, a notícia ecoou. Aos 90 anos morria a americana Iva Ikuko Toguri, filha de imigrantes japoneses que, na década de 1940, em plena Segunda Guerra Mundial, protagoniz­ara uma história com contornos de mito urbano entre as tropas norte-americanas destacadas no Pacífico Sul. Em 1941, Toguri visitou o Japão num momento de má fortuna. A nação asiática atacou a base naval americana de Pearl Harbor, no Havai. À california­na foi-lhe cerceado o regresso ao seu país natal. Na antena da Rádio Tóquio, Toguri iniciou uma participaç­ão no programa The Zero Hour, em emissões de propaganda nipónica orientadas para a desmotivaç­ão das tropas Aliadas estacionad­as no Extremo Oriente. Os programas emitidos em língua inglesa por um coletivo de mulheres japonesas aludiam a perdas significat­ivas das tropas americanas e à saudade da família distante. Regressada aos Estados Unidos, Toguri enfrentou seis anos de cadeia. Nunca se provou o seu objetivo deliberado de prejudicar as tropas americanas.

A voz sedutora de Toguri, a toada prazenteir­a que emprestava às suas emissões, criaram o mito entre os militares. Toguri era a “Rosa de Tóquio” (“Tokyo Rose”, no original).

No mesmo período, uma outra norte-americana, alimentava desde o final da década de 1930 as manchetes da imprensa internacio­nal. A 2 de julho de 1937, Amelia Earhart, pioneira da aviação dos Estados Unidos, desapareci­a nas águas do Oceano Pacífico. Um mês antes, a mulher que ficara conhecida como a “Rainha dos Ares” iniciara um voo mundial. Propôs-se percorrer 47 000Km em torno da Terra numa rota equatorial. No troço final da jornada, o rádio a bordo do avião Lockheed 10E Electra emudeceu. Earhart e a sua tripulação aproximava­m-se da Ilha Howland, um atol desabitado. Nunca alcançaram aquele território.

O mistério em torno do desapareci­mento espicaçou teorias várias e lendas. Uma das histórias inverosíme­is situava Amelia Earhart a par de Iva Ikuko Toguri entre as mulheres do coletivo “Rosa de Tóquio”. Capturada pelos japoneses, a piloto operaria a partir do País do Sol

Amelia Earhart junto a um avião modelo Merrill CIT-9, em 1928.

Nascente nas emissões endereçada­s às tropas americanas.

Por anos, nenhum vestígio da tripulação do Lockheed Electra, ou da própria nave, deram notícia de si, não obstante os esforços da Guarda Costeira e Marinha americanas, assim como os de inúmeras investigaç­ões paralelas. Earhart ostentava o estatuto de lenda americana.

Na sua curta vida batera inúmeros recordes de voo, concretiza­ra um voo transatlân­tico a solo em 1932, criara a sua marca de roupa e de malas, palestrava e assumira o cargo de editora-adjunta da revista Cosmopolit­an. Nas páginas da revista fundada em 1886, Earhart incentivou as mulheres americanas a abraçarem profissões no campo da aviação. No final da década de 1930, Amelia era uma heroína.

No ano de 1941, Gerald Gallagher, oficial britânico, afirmou ter encontrado um esqueleto na minúscula Ilha Gardner, atual Nikumaroro pertencent­e ao Kiribati. As ossadas repousavam sob a sombra de um coqueiro. Não muito longe, a areia guardava aquilo que se assemelhav­a a pequenos destroços da fuselagem

de um avião. Gallagher convenceu-se ser o esqueleto de Amelia Earhart. Um estudo na época negou a prova, apontando-a como o esqueleto de um homem.

As décadas seguintes não dariam, contudo, descanso às ossadas da Ilha Nikumaroro. Em 1998, uma análise aos ossos por parte de uma equipa de antropólog­os forenses, determinou tratar-se dos restos mortais de uma mulher caucasiana. Já em 2007, uma expedição norte-americana deslocou-se à Ilha Nikumaroro em busca de artefactos e ADN identificá­veis. A busca terminou com um punhado de objetos com origem incerta.

A história de Amelia Earhart iniciou-se longe dos atóis do Pacífico, em 1897, numa cidade do estado do Kansas. Aos 11 anos, Earhart viu um avião decrépito numa feira estadual, uma “coisa de fios oxidados e madeira, sem qualquer atrativo”, como se lhe referiu. Ainda jovem, Amelia mantinha uma coleção de recortes de jornais sobre mulheres de sucesso em carreiras tidas como masculinas no cinema, na advocacia e na engenharia mecânica.

Mais tarde, Earhart prescindir­ia do curso universitá­rio em detrimento de treino na Cruz Vermelha. Como enfermeira, em 1917, integrou um destacamen­to em Toronto, no Canadá, de apoio aos soldados que regressava­m dos campos de batalha da Primeira Guerra Mundial. Em dezembro de 1920, Amelia entrou pela primeira vez no cockpit de um avião. A viagem de dez minutos sobre Long Beach, na Califórnia, prendeu a jovem aos céus para o resto da sua vida.

Amelia poupou 1000 dólares e iniciou a formação como piloto de aviação em 1921. Teve como professora Anita Snook, uma pioneira na conquista do firmamento. Em maio de 1923, Earhart tornou-se a 16.ª mulher a obter uma licença de voo da Fédération Aéronautiq­ue Internatio­nale. A carreira sobre as nuvens da jovem, então com 26 anos, foi meteórica. Cinco anos volvidos, em 1928, Amelia foi recebida pelo presidente dos Estados Unidos, Calvin Coolidge.

Nas semanas anteriores concretiza­ra um voo transatlân­tico inspirada na travessia oceânica do pioneiro da aviação Charles Lindbergh. A aviadora limitara-se a manter o registo de voo. O avião fora pilotado por Wilmer Stultz e Louis Gordon.

Ainda em 1928, Amelia lançou-se num voo solitário. Foi a primeira mulher a completar a viagem aérea de ida e volta sobre o continente norte-americano. Na mesma época, envolveu-se com as The Ninety-Nines, organizaçã­o de mulheres-piloto que prestavam apoio moral e suportavam a causa feminina na aviação.

Em fevereiro de 1931, Amelia contraiu casamento com George Putnam, editor e explorador americano, sem que tal significas­se um interregno nas suas viagens globais. Poucos meses após o matrimónio, Earhart lançou-se na sua maior empresa, o voo a solo sobre o Atlântico. A 30 de maio de 1932, a aviadora partiu da Terra Nova rumo a Paris. O Lockheed pilotado por Amelia deter-se-ia em solo da Irlanda do Norte, após 15 horas de viagem sem escalas. No local, a norte da cidade de Derry, existe presenteme­nte um espaço expositivo, o Amelia Earhart Centre.

Janeiro de 1935, Amelia Earhart sagra-se a primeira pessoa a efetuar o voo a solo do Havai para a Califórnia. As águas do Pacífico que consagrava­m os esforços aéreos da pioneira da aviação seriam o seu carrasco dois anos mais tarde. Após uma primeira tentativa gorada, a 1 de junho de 1937, Amelia e três outros tripulante­s partiam para o seu voo mundial. A viagem decorreu sem sobressalt­os desde os Estados Unidos, rumo à América do Sul, a África, mais tarde em direção à Índia e ao Sudeste Asiático. A 29 de junho, a equipa comandada por Earhart chegou à Nova Guiné. Daí, a 2 de julho, o “pulo” final, sobre o Pacífico, contaria com uma escala na Ilha Howland. A história subsequent­e é sabida: após 3000Km de viagem o Lockheed Electra eclipsou-se.

31 de janeiro de 2024, o dia em que soa a notícia vinda das águas do Pacífico. Uma equipa norte-americana da empresa Deep Sea Vision anuncia uma descoberta no fundo marinho a oeste da Ilha Howland. Após 90 dias a vasculhar perto de 13 000Km2 de oceano, um robô subaquátic­o captou uma imagem que aguardou quase 90 anos. A equipa da Deep Sea Vision crê que a imagem devolvida pelo fundo marinho correspond­e ao perfil do Lockheed Electra.

Há muito que a teoria do afundament­o do avião preside sobre as restantes hipóteses para o desapareci­mento da nave. Facto que não obsta à contínua vaga de teorias sobre a tragédia de Earhart. Em 2006, o National Geographic Channel apresentou, no documentár­io Undiscover­ed History, a hipótese de uma nova vida de Earhart, na figura de Irene Craigmile Bolam, banqueira nova-iorquina. Devaneio que valeu a Bolam uma indemnizaç­ão.

Tenho como minha uma regra que só contempla excepciona­is excepções, a qual postula que se alguém aparece a apelar e gritar muito em prol da “união” é porque acabou de protagoniz­ar ou participar numa divisão. Seja na associação dos veteranos do chinquilho lá do bairro, seja na comissão de utentes do banco de Jardim da Estrela, à direita de quem entra do lado esquerdo de quem vem da Pedro Álvares Cabral, seja – pasme-se – de uma qualquer organizaçã­o representa­tiva de professore­s, sindicato ou parecido, movimento ou similar, não sendo de esquecer uma qualquer associação ou afim.

Então se passar a fazer parte ou promover algo começado por “União” ou com um slogan que inclua esse termo, é certo e sabido que é coisa que resulta de dissensão, fracção ou separação por mútuo desacordo. E não é por acaso que cada “unionista” traz consigo uma carga pesada de acusações de “divisionis­mo” contra tod@s aquel@s que ousem discordar da nova união. Porque parece não existir forma melhor de erguer a única união certa do que acusar de impureza de sangue a qualquer um@ que ouse pensar diferente ou, muito pior, dizer diferente em público.

Como professor, tenho a minha generosa barriga repleta de apelos à união de uma classe profission­al que, pela dimensão e diversidad­e de origens, é naturalmen­te plural e muitas vezes divergente na avaliação das situações, nos interesses mais ou menos explícitos, nas propostas de acção e respectivo­s objectivos. Mas não encaro essa pluralidad­e necessaria­mente como um mal, antes consideran­do que é dela que nasce uma riqueza de perspectiv­as que enriquece, mais do que desmerece, a profissão que não me envergonho de ter chamado minha.

O que a muita gente parece ser difícil admitir é que a “classe docente” se uniu em diferentes contextos, mas quase sempre em oposição e reacção a algo ou alguém: em 2008, contra a investida protagoniz­ada por Maria de Lurdes Rodrigues; em 2013, contra Nuno Crato; em 2018, contra uma “geringonça” que optou por “mitigar” a recuperaçã­o do tempo de serviço prestado (mais do que contra um ministro que ninguém encarava muito a sério); em 2023, contra a encarnação ministeria­l de João Costa.

Já usei, mais de uma vez, o final do Cântico Negro de José Régio, escrito há quase um século, como recurso para descrever a forma como os professore­s se uniram contra algo, embora com múltiplos olhares sobre aquilo que poderia vir em vez desse algo. Ou mesmo sem outro olhar que não fosse o da fúria libertada.

“É uma onda que se alevantou.

É um átomo a mais que se animou… Não sei para onde vou,

Não sei para onde vou

—Sei que não vou por aí!”

Nos longos tempos pré-eleitorais que vivemos, regressam apelos a uma mítica união, que sabemos impossível quando entram outras fidelidade­s em confronto, sendo especialme­nte ridículo que existam apelos para essa união, quando se explicitam anátemas contra maiores ou menores partes desse todo.

Com suavização ou elipse do vernáculo original, fiquemos com o diálogo de AVida de Brian, que, a par da História de Mayta de Vargas Llosa, me serviram como inestimáve­is módulos da minha formação política, enquanto jovem adulto.

Você é da Frente do Povo da Judeia?

Vai-te lixar!

O quê?

Frente Popular da Judeia. Somos a Frente Popular da Judeia! Frente Popular da Judeia (FPJ).

Punh **** ros.

Posso... entrar no seu grupo? Não. Desaparece. (…)

Ouve. Se quisesses juntar-te à FPJ, terias mesmo de odiar os Romanos. Eu quero!

Ah, sim? Quanto?

Muito!

Certo. Estás aceite. Ouve. As únicas pessoas que odiamos mais do que os Romanos são as da Frente do Povo da Judeia.

Sim...

Divisionis­tas. Divisionis­tas...

E a Frente do Povo Judeu. Sim. Oh sim. Divisionis­tas. Divisionis­tas...

E a Frente Popular do Povo da

Judeia.

Sim. Divisionis­tas. Divisionis­tas...

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal