Diário de Notícias

Há 50 anos o Tinder funcionava no jornal

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

Pensando bem, afinal quem inventou a app de relacionam­entos Tinder não inventou nada de muito novo. Limitou-se a pôr na internet uma solução informátic­a para problemas que antes se resolviam nas páginas dos jornais – sendo o DN um deles.

E, nessa altura, funcionava assim: uma senhora carecia de companhia de um cavalheiro, ou um cavalheiro carecia de companhia de uma senhora, e punham um pequeno anúncio no jornal. Não mandavam fotos, não davam morada, nem telefone – o próprio jornal servia de posta restante. E era tudo muito pudico: quem pedia companhia era evidenteme­nte para efeitos, apenas, de casamento. Coisas modernas como relações “casuais”, previstas nos códigos do Tinder, não se sugeriam. E muito menos se publicavam anúncios procurando relações homossexua­is.

Hoje, há 50 anos, na edição de 6 de fevereiro de 1974 do DN, os anúncios tinderesco­s foram publicados na página 9. Então, como hoje, os que procuravam o amor tentavam sublinhar o melhor de si mesmos , tendo em conta os padrões da época.

Eis um exemplo: “CASAMENTO. Senhora de 34 anos, boa dona de casa, pretende conhecer cavalheiro de 40-45 anos, para fins matrimonia­is, solteiro ou viúvo. Assunto sério. Pede foto, que será devolvida caso não interesse. Resposta a este jornal ao nº 337.”

E outro: “CASAMENTO. Cavalheiro boa situação financeira, muito viajado, deseja conhecer senhora de 35/45 anos para constituir lar. Agradece foto. Resposta a este jornal no nº 327.”

E outro ainda: “CASAMENTO. Sr.ª, 39 anos, modesta, muito séria, pretende cavalheiro solteiro ou viúvo para fins matrimonia­is. Resposta a este jornal ao nº 400.”

E este, por último, onde o anunciante parece apresentar trunfos de peso face aos concorrent­es: “CASAMENTO. Cavalheiro 50 anos, olhos verdes, altura 1,87, separado regressado do Brasil, deseja senhora até 50, carinhosa e com casa posta. Assunto sério, carta à Agência Largo Graça 99, nº 803.”

E depois logo se via. Anunciante e candidato(a) eventualme­nte encontrava­m-se para um café. O amor acontecia – ou não. Em falhando, punha-se outro anúncio. Uma fonte de financiame­nto para o DN como outra qualquer.

 ?? ?? 6 FEVEREIRO 1974 No início de 1974, a situação militar portuguesa na Guiné-Bissau já era dramática. O PAIGC abatia aeronaves umas atrás das outras. O DN noticiava que “caíam”. Mas não: eram abatidas. Acontecia, às vezes, os pilotos salvarem-se. E noutras não.
6 FEVEREIRO 1974 No início de 1974, a situação militar portuguesa na Guiné-Bissau já era dramática. O PAIGC abatia aeronaves umas atrás das outras. O DN noticiava que “caíam”. Mas não: eram abatidas. Acontecia, às vezes, os pilotos salvarem-se. E noutras não.

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