Bukele garante polémica reeleição em El Salvador
Depois de contornar a Constituição para concorrer a um segundo mandato, conseguiu obter mais de 80% dos votos.
Os votos ainda estavam longe de estar todos contados quando, no domingo à noite, Nayib Bukele anunciou que tinha sido reeleito presidente de El Salvador com o apoio de mais de 85% dos eleitores. Ontem à tarde, numa altura em que já estavam contabilizados 70% dos votos, os números indicavam que o homem que se autointitula o “ditador mais cool do mundo” estava a ganhar com 83%. Os seus dois adversários não iam além dos 6% cada.
“El Salvador quebrou todos os recordes de todas as democracias em toda a História do mundo”, disse no domingo à noite Bukele, ao lado da mulher, a partir da varanda do Palácio Nacional. “Desde que existe a democracia, nunca um projeto ganhou com o número de votos que obtivemos hoje. É literalmente a percentagem mais elevada de toda a história. É a maior diferença entre o primeiro e o segundo lugar em toda a História”, acrescentou. O seu partido, o Novas Ideias, alargou a maioria que já tinha na Assembleia Legislativa, garantindo 58 dos seus 60 deputados.
Bukele prosseguiu o seu discurso aos milhares de apoiantes que celebravam a sua reeleição na praça central de São Salvador dizendo que “El Salvador passou de [país] mais inseguro para o mais seguro.
Agora, nestes próximos cinco anos, esperem para ver o que vamos fazer”.
A base do sucesso de Nayib Bukele deve-se, principalmente, à sua política de segurança e à guerra contra os gangues – levando à prisão de mais de 75 mil salvadorenhos sem acusação, enchendo as prisões do país (incluindo a maior que existe na América Latina) – e fazendo diminuir os homicídios no país, tudo às custas de um Estado de Exceção que reduziu as liberdades individuais. No entanto, analistas ouvidos pelo jornal The Guardian consideram que o encarceramento em massa de 1% da população não é sustentável a longo prazo.
“Se já superámos o nosso cancro, com as metástases que eram os gangues, agora só nos resta recuperar e ser a pessoa que sempre quisemos ser”, disse Bukele.
De acordo com analistas, o maior desafio deste segundo mandato será tentar revitalizar a economia de El Salvador, que nos últimos cinco anos registou o crescimento mais lento da América Central, sendo que um quarto dos salvadorenhos vive na pobreza.
Aos 37 anos, Nayib Bukele tornou-se em 2019 o presidente mais jovem da América Latina, tendo sido eleito como um outsider e acabando com a hegemonia dos partidos tradicionais, que praticamente afastou da Assembleia Legislativa em 2021.
Apesar de a Constituição proibir mandatos consecutivos, a interpretação do Poder Judicial (controlado por Bukele) foi que o presidente podia participar nas eleições caso se afastasse do cargo seis meses antes. Foi o que fez, com a autorização da Assembleia Legislativa.
Questionado no domingo se tenciona levar a cabo mudanças na Constituição para incluir a possibilidade de reeleição indefinida, Bukele afirmou que “não achava que uma reforma constitucional seria necessária”, mas não esclareceu sobre se tentará concorrer a um terceiro mandato.
Nayib Bukele, que se autointitula o “ditador mais cool do mundo”, terá como desafio nos próximos cinco anos revitalizar a economia de El Salvador.