Diário de Notícias

União de Leiria renascido das cinzas tenta voltar a ser grande na Taça

Clube do Lis defronta amanhã o Sporting nos quartos-de -inal. Um momento alto após 11 anos de pesadelo que levaram o histórico emblema até aos distritais.

- TEXTO NUNO FERNANDES

União de Leiria e Sporting defrontam-se amanhã (20.45, RTP1) nos quartos-de.final da Taça de Portugal, 22 anos depois do último confronto, ainda a contar para a I Liga. Foi no final dessa época (2011/12) que o emblema da Região Centro acabaria por descer ao inferno, mergulhado em dívidas e com um diferendo entre a SAD e a empresa gestora do estádio municipal, que terminou com o clube a ser impedido de se inscrever nas competiçõe­s profission­ais devido a dívidas e incumprime­ntos fiscais, e relegado para as divisões distritais com um plantel amador.

Dessa época fatídica de 2011-12 ficaram imagens marcantes. Na reta final do campeonato, sem receberem, 16 jogadores rescindira­m os contratos, facto que obrigou a equipa a apresentar-se frente ao Feirense com apenas oito atletas (derrota por 4-0) e a recorrer aos juniores para se apresentar com 11 diante de Benfica (derrota por 1-0) e Nacional (derrota por 3-2).

Após 11 anos de travessia no deserto, e depois de em fevereiro de 2015 ter sido aprovada a constituiç­ão de outra sociedade anónima desportiva (SAD), o clube do Lis regressou por mérito próprio aos campeonato­s profission­ais, garantindo a subida à II Liga em abril do ano passado sob o comando de Vasco Botelho da Costa, o jovem técnico de 34 anos que ainda se mantém no cargo, com a equipa atualmente no 13.º lugar.

A época passada foi também marcante em termos de assistênci­as. No jogo diante do Sp. Braga B, que garantiu a subida à II Liga, estiveram no Estádio Magalhães Pessoa, com 22 197 espectador­es (a terceira maior assistênci­a desse fim de semana em Portugal, só o Dragão e Alvalade tiveram mais).

Este fenómeno das assistênci­as em Leiria foi um sucesso, e partiu de uma estratégia de portas abertas assumida pelo clube, com oferta dos ingressos para os jogos, e transforma­ndo o início das partidas numa diversão familiar, com espetáculo­s musicais, entretenim­ento e animação infantil, com o objetivo de ter uma cidade inteira a apoiar o clube da terra.

Uma ideia que teve em Nélio Lucas o grande responsáve­l. O antigo empresário ligado ao famoso fundo Doyen Sports é um dos estrategas do projeto da U. Leiria e a face visível de Navdeep Singh, investidor britânico de origem indiana, que detém, desde 2022, 90% do capital da SAD da U. Leiria, e que nos últimos tempos tem injetado dinheiro no clube. O objetivo passa por recolocar a equipa no escalão maior do futebol português e chegar o mais longe na Taça de Portugal (em 2002-03 chegou à final do Jamor, mas foi derrotada pelo FC Porto).

“Valeu a pena não desistir da União de Leiria. É um histórico do futebol português e estamos cá, com a expectativ­a de que este seja o primeiro de muitos jogos grandes no futuro. É muito bom voltarmos a defrontar um grande do futebol português. Esperamos, acima de tudo, que seja uma grande festa e que possa haver taça. Vamos dar tudo para dignificar­mos o clube e a cidade de Leiria”, reagiu

Armando Marques, quando o sorteio colocou os leões no caminho da equipa que preside.

Mas para amanhã haver história, é preciso que a U. Leiria repita a vitória de 12 de dezembro de 2009, em pleno Estádio de Alvalade, data da última vitória que obteve diante dos leões. Naquele final de tarde, num jogo da I Liga, coube ao central Paulo Vinícius marcar o golo da vitória, de cabeça, após um canto.

Quintos lugares e Mourinho

O passado não se apaga. E o clube da cidade do Lis tem muitos exemplos a que se agarrar, como as duas melhores classifica­ções de sempre na I Divisão, dois quintos lugares, em 2000/01 e 2002/03 (respetivam­ente com Manuel José e Manuel Cajuda como treinadore­s), além de duas presenças na Taça UEFA em 2003/04 e 2007/08.

E pode também orgulhar-se de ter sido o clube que ajudou a projetar José Mourinho. O técnico natural de Setúbal ingressou na U. Leiria no final da época 2000/01, depois de ter saído do Benfica, e por lá se manteve até janeiro de 2002, antes de dar o salto para o FC Porto, deixando a equipa então num honroso terceiro lugar.

Por Leiria passaram também jogadores de destaque, casos de Helton, Nuno Valente, Derlei, Douala, Hugo Almeida ou Paulo Machado, e ainda Oblak, na altura cedido pelo Benfica, que atualmente defende as cores do Atlético Madrid e é considerad­o um dos melhores guarda-redes da Europa.

Atualmente já não há estrelas num plantel onde atuam vários jogadores estrangeir­os, e onde o melhor marcador é o hondurenho Bryan Róchez, com oito golos nas várias competiçõe­s. Marco Baixinho, 34 anos, ex-Paços de Ferreira, é o jogador mais utilizado, e na baliza está o veterano Pawel Kieszek, 39 anos, guarda-redes polaco que chegou a jogar no FC Porto, Sp. Braga, V. Guimarães, entre outros. No meio-campo joga um neerlandês com um nome familiar, Jordan van der Gaag, filho de Mitchell van der Gaag, atual adjunto do Manchester United que, em Portugal, fez carreira no Marítimo. E no mercado de janeiro chegaram Marcos Silva (ex-Marítimo) e Brenner Lucas (ex-Est. Amadora).

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União de Leiria chegou aos quartos-de-final da Taça depois de eliminar o Marítimo nos oitavos.

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