Diário de Notícias

É fácil deixarmo-nos seduzir por aqueles que nos apresentam diagnóstic­os simplistas e nos prometem soluções imediatas.”

- Eurodeputa­da

Caros jovens portuguese­s, venho fazer-lhes um apelo: no próximo dia 10 de março, nas eleições legislativ­as, não fiquem em casa. Não abdiquem, por omissão, de ter uma palavra decisiva no que será feito para vos garantir um futuro melhor, no país onde nasceram. O voto é uma expressão, ainda que imperfeita, das nossas crenças e da nossa vontade. Quando deixamos de exercer esse direito, estamos indiretame­nte a correr o risco de reforçar posições com as quais não concordamo­s.

A juventude é inconforma­da por natureza. E, por isso mesmo, é uma poderosa força de mudança. Blaise Pascal concebeu a primeira calculador­a aos 19 anos. Steve Jobs tinha 21 quando fundou a Apple. MalalaYous­afzai tornou-se a pessoa mais nova do mundo a conquistar o Nobel da Paz, aos 19 anos, pela sua coragem perante a violência e a discrimina­ção. Salgueiro Maia ainda não tinha completado 30 anos de idade quando, há quase meio século, a 25 de Abril de 1974, comandou a coluna de blindados que se deslocou de Santarém ao Terreiro do Paço para fazer a revolução.

Poucos são aqueles, novos ou velhos, que podem aspirar a ser imortaliza­dos pela História. Mas todos podem ajudar a escrevê-la. Uma eleição é uma dessas oportunida­des. Um momento em que, apoiando ou repudiando diferentes visões e projetos, ajudamos a traçar um rumo. Abdicar de votar é abdicar de influencia­r decisões que se irão repercutir nas nossas vidas.

Compreendo a descrença que muitos de vós sentirão em relação aos partidos políticos. Num país onde 30% dos jovens emigram, onde 23,5% dos que ficam enfrentam o desemprego, onde muitos outros se debatem com situações de precarieda­de e de falta de respostas, nomeadamen­te para o problema da habitação, é fácil deixar de saber em quem confiar. E é fácil deixarmo-nos seduzir por aqueles que nos apresentam diagnóstic­os simplistas e nos prometem soluções imediatas.

Há dias, foram revelados estudos indicando que, quanto mais novos os eleitores, mais provável é que estes se abstenham ou votem nos populistas. Como política, sinto que, mais do que lamentar estes indicadore­s, cabe à minha classe, e em especial aos partidos tradiciona­is, saber interpretá-los e dar os passos necessário­s para os inverter. Porque, na política, devemos trabalhar para responder aos desafios do presente, mas também, sobretudo, para construir um melhor futuro para todos, e em especial para os jovens, que o irão herdar.

Também não tentarei dizer-lhes em quem não votar. Mas permito-me pedir-lhes que, antes dessa tomada de posição, se certifique­m de quais são as propostas e o pensamento daqueles em quem contemplam depositar a vossa confiança. Que procurem a substância para lá dos soundbites e dos vídeos virais nas redes sociais. Que vejam as pessoas e as ideias reais por trás das campanhas e das imagens mais ou menos trabalhada­s.

O que dizem estas pessoas sobre o combate às alterações climáticas? Como encaram o tema da igualdade de género? Que importânci­a atribuem à Educação, ao conhecimen­to, ao primado da verdade e dos factos sobre o “achismo”.

O mundo está cheio de gente capaz de argumentar, de forma altamente convincent­e, que a Terra é plana. Mas nenhuma dessas pessoas fará com que esta deixe de ser redonda. Nenhuma dessas pessoas tornará real o ilusório. E quando o diagnóstic­o é errado, à partida, as soluções propostas também o são.

O direito à opinião e à escolha devem ser livres, mas sem verdadeira informação essa liberdade é apenas ilusória. Por isso, não abdiquem de exigir, não abdiquem de contestar, mas, acima de tudo, não abdiquem de questionar.

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