Diário de Notícias

Lisboa quer limitar consumo de álcool e o ruído na rua. Proposta vai hoje a votos

As denúncias dos moradores multiplica­m-se. Todos convergem ao criticar o cheiro e o barulho na zona histórica de Lisboa. A câmara avança com proposta de alteração ao regulament­o em vigor desde 2016. Mas os moradores não têm expectativ­a de mudança.

- TEXTO RUI MIGUEL GODINHO

ACâmara de Lisboa (CML) leva hoje a votos uma proposta que vai impor restrições à venda e ao consumo de bebidas alcoólicas. Se for aprovada, em reunião de câmara, passa a ser proibida a venda de álcool para consumo em espaços públicos, a partir da 1.00 da manhã, nas zonas do Bairro Alto, Bica, Cais do Sodré e Santos. Mas a medida pode ser ainda mais restritiva: em toda a cidade, os estabeleci­mentos com uma área até 100 m2 (incluindo lojas de conveniênc­ia, um ponto de venda de álcool), devem fechar até às 22.00 horas.

No caso de bares ou restaurant­es com projeção de som para a via pública, estes espaços serão obrigados a colocar limitadore­s de som de forma permanente, independen­temente das horas. Todos estes encargos ficarão à responsabi­lidade dos estabeleci­mentos.

Ouvido pelo DN, o vereador Diogo Moura (que tem, entre outros, o pelouro da Cultura e da Economia) explica que a alteração surge devido a “algumas queixas de moradores, juntas de freguesia e proprietár­ios do comércio local, sobretudo devido ao ruído, e alguma inseguranç­a”. Isto significa que o regulament­o de horários de funcioname­nto dos estabeleci­mentos de venda ao público em Lisboa será alterado pela primeira vez desde 2016 – ano em que entrou em vigor.

Ainda de acordo com o autarca do CDS-PP (eleito pela coligação Novos Tempos, que governa sem maioria), o processo até chegar às propostas hoje em votação, “foi participad­o e consultado”. “Ouviram-se as associaçõe­s, nomeadamen­te a Associação de Hotelaria, Restauraçã­o e Similares de Portugal (AHRESP) e os presidente­s das juntas de freguesia do casco histórico da cidade [Misericórd­ia, Bica e Santos]”, disse.

O fator-chave para esta mudança

“[Temos tido] algumas queixas de moradores, juntas de freguesia e proprietár­ios do comércio local (...). Esta é uma solução atual para um problema atual.” Diogo Moura Vereador na Câmara Municipal de Lisboa

“É uma situação que cansa. Aqui nas redondezas, o cheiro a urina e o barulho são insuportáv­eis. (...) Não acredito em mudanças ou medidas milagrosas para este problema. Falta vontade política.” Associação Aqui Mora Gente

está na Lei do Licenciame­nto Zero. Aprovada em 2011, esta legislação surgiu por iniciativa do Governo e, diz Diogo Moura, “permite que surjam novos estabeleci­mentos quase diariament­e”. A mudança proposta pela autarquia é, no fundo, “uma solução atual para um problema atual”, porque “o contexto mudou desde essa altura”.

Caso a proposta seja aprovada na reunião de hoje, segue-se depois um período de consulta pública durante 30 dias. E “todas as propostas de alteração serão avaliadas e ponderadas”, segundo explica Diogo Moura. Se entrar em vigor, a Câmara Municipal de Lisboa irá constituir uma “task force para fiscalizar a aplicação das medidas”, composta por elementos de várias forças, desde os bombeiros à Polícia Municipal.

A autarquia propõe ainda que, na Rua de São Paulo (localizada junto ao Cais do Sodré, onde foram realizadas 167 ações de fiscalizaç­ão em 2023) e nas artérias adjacentes, os estabeleci­mentos comprovem que estão em cumpriment­o com “os requisitos urbanístic­os”, apresentan­do, por exemplo, o Título do Exercício de Atividade ou a Licença de Recinto. Após a data da resposta da câmara, os estabeleci­mentos terão seis meses para pedir o alargament­o das horas de expediente. Caso não o façam, passam a ser obrigados a fechar, todos os dias, às 23.00 horas.

Apesar da governação sem maioria, Diogo Moura acredita que “há vontade de todos para encontrar soluções para problemas atuais na cidade”, estando em aberto a possibilid­ade do Executivo camarário vir a viabilizar propostas da oposição no texto final.

Moradores criticam medidas

Apesar das intenções da autarquia em melhorar as condições de quem ali vive, a associação de moradores Aqui Mora Gente critica as propostas a votos. “O que aqui se passa é uma vergonha. Se não fazem cumprir e valer o regulament­o em vigor desde 2016, para que é que o vão alterar? Isto é uma mão-cheia de nada, é praticamen­te atirar areia para os olhos”, critica fonte da associação que preferiu não ser identifica­da por temer repercussõ­es “dos empresário­s” da zona onde as medidas entrarão em vigor.

Consideran­do que “não vai haver mudança porque não há vontade política”, fonte da Aqui Mora Gente diz que “todas as semanas os moradores fazem queixas à câmara”. E deixa um desabafo: “É uma situação que cansa. Criou-se a Rua Cor de Rosa [no Cais de Sodré], com bares. Mas aqui nas redondezas, o cheiro a urina e o barulho são insuportáv­eis. A Polícia Municipal não tem autoridade, é inexistent­e e não fiscaliza. Portanto, não acredito em mudanças ou medidas milagrosas para este problema. Falta vontade política. Falta vontade de mudar, e isto já vem de trás. Não é exclusivo a este Executivo.”

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A Rua Cor de Rosa, no Cais do Sodré, em Lisboa, tem vários bares frequentad­os por turistas e lisboetas.

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