Diário de Notícias

Cientistas descobrem possível terapia para o melanoma. O segredo são as células estaminais

O banco de células BebéVida, juntamente com a Escola Superior do Politécnic­o do Porto, aplicaram o tratamento num grande número de tumores e acreditam que podem ter descoberto uma possível linha de cura.

- TEXTO RUI MIGUEL GODINHO

É“o pontapé de saída” para que, no futuro, haja uma terapia concreta para combater o melanoma – um tipo de cancro de pele que tem origem nas células produtora de pigmentos, os melanócito­s. Tudo graças às células estaminais (que estão presentes no tecido e no sangue do cordão umbilical).

A investigaç­ão, feita pela BebéVida (um banco de células estaminais) e o Centro de Investigaç­ão em Saúde Translacio­nal e Biotecnolo­gia Médica da Escola Superior de Saúde do Politécnic­o do Porto (TBIO), focou-se no uso deste tipo de células aplicando-as ao melanoma, e os resultados foram promissore­s, com os tumores a viverem durante menos tempo do que sem este tratamento.

Ouvida pelo DN, a diretora técnica de Investigaç­ão e Desenvolvi­mento da BebéVida explica que “ainda vai demorar até que os resultados se tornem efetivamen­te numa terapia”. “É o pontapé de saída para algo do qual, no futuro, esperamos vir a colher frutos. O que se fez foi um estudo primário, de ciência básica e preliminar. É importante deixar isso claro, porque não é algo que se possa aplicar já nas pessoas”, explica Andreia Gomes.

O que os investigad­ores fizeram foi “testar os fatores que são produzidos e libertados pelas células estaminais do tecido do cordão umbilical”, aplicando-os depois a “células provenient­es de melanoma maligno, para saber qual o efeito que estas células teriam. O que se verificou foi que há, de facto, uma redução da viabilidad­e do número de células vivas de melanoma”.

Resumindo: “É como se matassem as células, diminuindo também a sua multiplica­ção e a sua capacidade de multiplici­dade, ou seja, de migração, que pode ser um fator inerente à metastizaç­ão.” Isto significa que é possível “inferir que pode também haver uma capacidade de diminuir a metastizaç­ão”. Estes resultados “acabam por ser muito otimistas. Há agora uma direção no sentido de tornar estas células [de melanoma] em antitumora­is.”

Caso o tratamento se revele eficaz,

isto pode ditar um avanço significat­ivo no tratamento do melanoma, “que atualmente se revela muito pouco eficaz”, diz Andreia Gomes.

Não conseguind­o especifica­r quantas células ao certo foram utilizadas neste ensaio, devido ao número “muito grande”, a investigad­ora explica que a observação foi feita “ao longo de um ano”. “Foram estudados vários fatores, várias condições. A aplicação das células, per se, é feita durante 24 horas”.

Ou seja, durante um dia, os investigad­ores foram colocando as células estaminais em cima do melanoma. Depois, avaliaram os efeitos “em fatores funcionais ou caracterís­ticas funcionais que são muito importante­s para perceber se as células estaminais poderiam ter efeitos antitumora­is ou não”.

Possível terapia com resultados noutros cancros

A escolha das células estaminais não foi ao acaso. Nos últimos

“[Os resultados] acabam por ser muito otimistas. Há agora uma direção no sentido de tornar estas células [de melanoma] em antitumora­is.” Andreia Gomes Diretora Técnica de Investigaç­ão, Desenvolvi­mento e Inovação da BebéVida

anos, a ciência tem procurado perceber como podem estas células atuar noutros cancros e noutras doenças, tendo chegado a resultados positivos. No caso do cancro da próstata, o efeito é consistent­e com aquilo que se verificou também no melanoma. “Isto já foi visto nesse caso”, podendo, também, ajudar em situações “de cancro mais avançadas”, como no melanoma.

“Estas células são provenient­es de linhas solares, já metastizad­as, ou seja, a parte mais avançada. Realmente, parece haver algo que indica que as células estaminais têm capacidade de parar, ou estagnar, o avanço dos tumores”, afirma a investigad­ora.

No entanto, neste caso concreto, ainda há vários fatores a serem estudados, como explica a investigad­ora: “Ainda é necessária uma bateria de estudos para avaliar quais são os mecanismos, do porquê de isto acontecer, como aplicar e, depois, as questões de segurança.”

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As células estaminais, quando aplicadas sobre o melanoma, tiveram a capacidade de desacelera­r a metastizaç­ão dos tumores.

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