A incrível sorte de Benilde e seu netinho
Apergunta que se impõe é: quem nunca? Quem nunca guardou dois ou três cartuchos de dinamite numa casa habitada? E quem nunca as deixou numa prateleira da cozinha? E quem nunca escolheu precisamente a prateleira mais próxima do fogão? Quem nunca, afinal, viu por causa disso a casa destruída numa sensacional explosão? E quem nunca, no fim, se aliviou com o facto de toda a história ter acabado quase sem danos humanos? A história contada na página 4 da edição de 8 de fevereiro de 1974 é daquelas onde toda a tontice do mundo se mistura com toda a sorte do mundo. Ocorreu no lugar de Campobenfeito, em Castro Daire.
Tudo começou quando o proprietário de uma casa, o senhor Manuel da Silva, guardou “inadvertidamente” numa prateleira da cozinha cartuchos de dinamite que iria utilizar para abrir a rocha de uma mina de água. Não escolheu porém uma prateleira qualquer; foi logo a que ficava por cima da lareira onde se cozinhava. Sem avisar ninguém.
Ao fim da tarde, a sua mãe, Benilde da Silva começou acender o lume para cozinhar, com o netinho de 5 anos, José António da Silva, junto dela – sem se aperceber da dinamite.
A seguir, “devido ao intenso calor, ou talvez por o lume ter pegado fogo aos cartuchos, a dinamite explodiu com estrondo enorme, alarmando toda a povoação”. “Com a fortíssima deslocação do ar, o telhado da casa voou para uma distância de 150 metros, espalhando-se em volta uma chuva de fragmentos de telhas” e “as janelas e as portas da casa foram arrancadas”, ficando “arruinadas” algumas paredes.
Os estragos não se ficaram pela casa onde alguém achou que não havia melhor sítio para guardar dinamite do que na prateleira da lareira onde se cozinhava: saíram também “muito danificadas” casas vizinhas. O telefone público foi inutilizado.
Razão tinha o jornalista do DN ao considerar “inacreditável” que a avó e o neto pouco tenham sofrido. Benilde da Silva saiu de “toda esta ruína” apenas com um braço partido e “escoriações leves” e o neto com uma orelha ferida e “pequenas contusões”. Amélia Silveira, chefe do posto telefónico, ia a passar na rua e ficou “ligeiramente ferida”. Foram tratados em Castro Daire “e regressaram a casa”.