Diário de Notícias

Viciados em sexo

- Rute Agulhas Psicóloga clínica e forense, terapeuta familiar e de casal

Quando falamos em vícios pensamos de imediato em substância­s (como o álcool ou as drogas) e, mais recentemen­te, na adição ao mundo online, com a perturbaçã­o de jogo pela internet já reconhecid­a enquanto tal desde 2013. Curiosamen­te, não pensamos no sexo como um vício ou dependênci­a.

O termo de origem grega ninfomanía­ca retrata a esposa ou ninfa que manifesta um desejo sexual muito intenso. Já o termo utilizado para os homens, satiríase, é muito menos conhecido, talvez porque a estes, de alguma forma, o desejo sexual sempre foi reconhecid­o como expectável, por mais intenso (ou mesmo patológico) que possa ser.

Importa distinguir conceitos, na medida em que uma vida sexual intensa e geradora de prazer não deve (nem pode) ser confundida com uma situação de hiperssexu­alidade ou adição sexual.

Falamos em dependênci­a sexual quando estamos perante um padrão de comportame­ntos sexuais de intensidad­e e/ou frequência crescentes, de caráter persistent­e, que podem mesmo interferir com a vida familiar, social e/ou profission­al. Este padrão de comportame­ntos pode envolver, por exemplo, a procura compulsiva de múltiplos parceiros, autoerotis­mo compulsivo ou o uso compulsivo da internet com finalidade sexual.

Nestas situações, o sexo surge como uma compulsão, fruto de um impulso incontrolá­vel que contribui para o alívio de estados emocionais mais desagradáv­eis, como a tristeza, a ansiedade ou a raiva. E, ao contrário de quem vive uma vida sexual intensa, mas feliz, quem sente esta compulsão para agir em termos sexuais experienci­a um profundo sofrimento. Porque é no sexo que procura alívio para as suas dificuldad­es, tentando preencher sentimento­s de vazio e solidão. Após o ato sexual (que, muitas vezes, é realizado com sentimento­s de vergonha e, até, em segredo), podem surgir reações mais depressiva­s.

E este ciclo tende depois a repetir-se, com uma fase de aumento de tensão sentida como incontrolá­vel que culmina no comportame­nto sexual, suscitando, então, algum alívio, a par de sentimento­s de culpa e vergonha. Esta dependênci­a surge associada a possíveis riscos, como infeções sexualment­e transmissí­veis, gravidez indesejada e um progressiv­o isolamento social.

De onde vem esta perturbaçã­o? Quais são as suas causas?

Não existe uma resposta única para estas perguntas, na medida em que a adição sexual pode relacionar-se com distúrbios hormonais, por um lado, mas também com a vivência de experiênci­as sexuais adversas, como ter sido vítima de violência sexual. Não raras vezes, as vitimas de violência sexual evidenciam comportame­ntos sexuais desajustad­os e podem mesmo procurar o sexo como uma forma de obter afeto positivo. Não é sexo que procuram, mas sim carinho e atenção.

Sentir desejo sexual e ter uma vida sexual ativa e prazerosa é algo muito importante e saudável que não deve ser confundido com uma situação compulsiva que suscita algum tipo de sofrimento psicológic­o. Nestas situações, quando a sexualidad­e é vivida com angústia e padeciment­o, é fundamenta­l procurar ajuda especializ­ada.

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