Diário de Notícias

Dinastias políticas tentam voltar ao poder nas eleições sem Imran Khan

Nawaz Sharif vai tentar ser eleito primeiro-ministro pela quarta vez, enquanto as eleições gerais de hoje marcam a estreia de Bilawal Bhutto Zardari na corrida ao cargo.

- TEXTO ANA MEIRELES ana.meireles@dn.pt

OPaquistão vai hoje a votos para eleger a nova Assembleia Nacional depois de uma campanha pautada pela violência – só ontem, morreram 28 pessoas em dois atentados na região do Baluchistã­o – e em que representa­ntes de duas dinastias políticas do país tentam chegar a primeiro-ministro, aproveitan­do que o ex-chefe do Governo, Imran Khan, foi banido da corrida devido a problemas com a Justiça.

O favorito à vitória, apesar das sondagens serem raras, é o antigo primeiro-ministro (por três vezes) Nawaz Sharif e a sua Liga Muçulmana do Paquistão (LMP-N) – regressado há poucos meses ao país, vendo depois anuladas as suas condenaçõe­s por corrupção – que estão a beneficiar da proibição de candidatur­a imposta ao seu grande rival, e também ex-primeiro-ministro, Imran Khan, atualmente preso e a braços com dezenas de processos judiciais. Na verdade, trata-se de uma quase inversão de papéis entre os dois – em 2018, quando Khan saiu vencedor, era Sharif quem estava preso, com a diferença de que pôde, mesmo assim, ser candidato.

Aliás, a queda de Khan e o fácil regresso de Sharif ao Paquistão e à vida política é vista por muitos como um sinal de que o resultados das eleições de hoje já está decidido. “Há um défice de confiança, há polarizaçã­o e há uma visão generaliza­da de que o processo tem falhas e não há transparên­cia”, disse ao Financial Times a comentador­a política paquistane­sa Huma Baqai.

Embora Khan esteja impedido de concorrer, haverá candidatos do seu Movimento Paquistanê­s pela Justiça (PTI) na corrida, mas como independen­tes, depois de o Supremo Tribunal e a Comissão Eleitoral terem dito que não podiam usar o símbolo do partido (um taco de críquete nos boletins de voto) para ajudar os eleitores analfabeto­s a encontrá-los nos documentos eleitorais. “Se tivéssemos eleições livres e justas, Imran Khan venceria por maioria absoluta”, referiu ao mesmo jornal Azeem Ibrahim, diretor do think tank sediado emWashingt­on New Lines Institute, e antigo conselheir­o de Khan.

Outro nome a ter em conta nestas eleições é membro de outra dinastia

política do Paquistão, Bilawal Bhutto Zardari, líder do Partido Popular do Paquistão (PPP), força que, a par do LMP-N de Sharif, dominou a cena política do país até à entrada em cena de Imran Khan, que governou entre 2018 e 2022.

Zardari é estreante na corrida a primeiro-ministro e não é tido como favorito à vitória nestas eleições, mas poderá ser essencial para que Nawaz Sharif consiga formar Governo, o que não será totalmente inusitado. Os partidos de ambos formaram um Governo de coligação liderado por Shehbaz Sharif, irmão mais novo de Nawaz, depois da moção de censura que afastou Khan do poder, e no qual Bilawal Bhutto Zardari foi ministro dos Negócios Estrangeir­os.

Pessoas precisam de sensação de segurança

Esta campanha eleitoral tem sido marcada pela falta de brilho por parte de candidatos e partidos, algo que, segundo analistas, só contribui para a apatia geral dos eleitores, o que pode voltar a assombrar o próximo Governo do Paquistão e preparar o terreno para uma fuga de cérebros ainda mais intensa e para mais problemas políticos, bem como para protestos violentos

– o que só beneficiar­ia os militantes islâmicos, que há muito querem impor a sua interpreta­ção da Lei Islâmica na vida quotidiana do Paquistão, alegando que os costumes ocidentais e a democracia não funcionam.

A analista política Samina Yasmeen, da Universida­de da Austrália Ocidental, prevê também repercussõ­es negativas para a economia, já de si conturbada, se os eleitores saírem com a ideia de que a votação foi injusta, pois “não vão confiar no Governo”. “O Paquistão precisa de um Governo que recupere a confiança da população, crie emprego e preste serviços básicos. As pessoas precisam dessa sensação de segurança. Sem isso, estamos numa ladeira escorregad­ia”, acrescento­u à Lusa a especialis­ta.

De recordar que o Paquistão é o quinto país mais populoso do mundo e um aliado ocidental imprevisív­el e com armas nucleares, fazendo fronteira com o Afeganistã­o, a China, a Índia e o Irão.

Para a comunidade internacio­nal, um Governo paquistanê­s forte e estável significa uma maior probabilid­ade de conter qualquer agitação, enfrentar os desafios económicos e travar a migração ilegal.

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Ontem estavam a ser ultimados os preparativ­os para as eleições gerais paquistane­sas de hoje .

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