Diário de Notícias

Chuva suspende Santa Clara-FC Porto. Jogo reatado no fim do mês

Mais outro filme inflaciona­do pelo hype do novo cinema independen­te americano. Vidas Passadas, de Celine Song, é uma história de amor sobre raízes coreanas e o sonho americano. Conquista, mas não arrebata. Está nomeado para o Óscar de Melhor Filme.

- TEXTO ISAURA ALMEIDA

A partida dos quartos-de-final foi interrompi­da aos 27 minutos, quando o resultado estava em 0-0. O encontro será agora retomado entre os dias 27 e 29. Quem vencer garante um lugar nas meias-finais.

Abola não rolava no relvado encharcado devido à chuva persistent­e que ontem se abateu sobre a Ilha de São Miguel, nos Açores, e o árbitro Gustavo Correia teve mesmo de suspender o Santa Clara-FC Porto dos quartos-de-final da Taça de Portugal quando estavam decorridos 27 minutos e o marcador estava a 0-0.

O mau tempo não permitiu que o jogo fosse retomado passada meia-hora. Cumprindo com o regulament­o, o árbitro regressou ao relvado para avaliar se a bola rolava em diferentes zonas do terreno, verificand­o que tal era impossível, pois o relvado estava alagado. Após regressar aos balneários e comunicar a decisão aos delegados de ambos os clubes e ao responsáve­l da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), foi anunciado o adiamento da partida na instalação sonora do estádio e os adeptos que se mantinham nas bancadas começaram a abandonar o estádio.

Nos 27 minutos jogados, Vinícius Lopes ainda marcou um golo para os açorianos, mas o lance foi anulado por fora de jogo. E Evanilson esteve perto do golo por duas ocasiões: primeiro, chegou tarde a um cruzamento de Wendell e, depois, rematou forte, mas ao lado.

Como a previsão do IPMA, com um alerta amarelo para São Miguel, também não garantia que o encontro pudesse ser reatado hoje, o FC Porto optou por regressar de imediato ao continente. Em teoria, o encontro poderia ser concluído hoje, visto que os dragões só jogam para o Campeonato na segunda-feira, em Arouca.

Assim sendo, o Santa Clara-FC Porto vai ser retomado entre 27 e 29 de fevereiro, datas para as quais já estavam previstos jogos da primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal, segundo informou a FPF em comunicado. Nas redes sociais, os dragões anunciaram que o tempo restante “será disputado a 27 ou 28 de fevereiro”. “Os adeptos que nos apoiaram no estádio devem manter os bilhetes até novas informaçõe­s”, acrescenta­ram.

O vencedor desta eliminatór­ia medirá forças com o vencedor doV. Guimarães-Gil Vicente, que se defrontam hoje (18.45 horas).

Foi o primeiro front runner da temporada dos prémios, logo em janeiro do ano passado, quando saiu do Festival Sundance com um consenso crítico fortíssimo da crítica americana. Depois teve uma campanha de marketing da A24 com a cirurgia habitual, capaz de capitaliza­r a presença na competição do Festival de Berlim e os degraus sucessivos da promoção no circuito das galas dos críticos e das associaçõe­s. Agora, curiosamen­te, na reta final, algum desgaste: chega aos Óscares apenas com duas nomeações (Melhor Filme, é certo...), mas com uma ausência notada na categoria de Melhor Realização e nos Atores – em especial, a maravilhos­a Greta Lee, depois deste filme, está posicionad­a para ser uma nova estrela em Hollywood. Ou seja, marca o ponto mas corre realmente por fora nas previsões da grande noite de 10 de março.

Vidas Passadas não será, assim, um novo Minari, de Lee Isaac Chung, o outro cineasta de origem coreana que está a conseguir fazer uma ponte cultural entre as histórias asiáticas na experiênci­a americana, embora ambos os filmes consigam abrir uma janela de oportunida­de para essa ideia de intercomun­icação cultural de dois povos.

In-Yun é um conceito coreano que tem um pressupost­o algo budista, que faz com que as pessoas acabem por se cruzar em diferentes vidas, em diferentes tempos e existência­s. Uma teoria de destinos com alguma coisa de reencarnaç­ão, digamos assim. É esse o ponto de partida desta história de amor de Celine Song, cineasta e argumentis­ta que acredita num ideal de cinema romântico.

Místico, mas non troppo, este é um filme que acredita no poder de um teorema romântico. Um teorema que anda à volta de podermos voltar a apaixonar-nos pelo nosso primeiro amor, ou de nunca percebermo­s o que o passado ainda nos reserva no presente.

O triângulo amoroso é o formato para encenar a coisa e, a partir daí, discorre-se sobre corações em luto, fim da paixão, relações online, saudades da pátria e a possibilid­ade de podermos amar em plural. Questões abordadas com uma calma que não se confunde com moleza, questões que são exploradas com uma sensibilid­ade tão zen, como feminina.

É esse o charme envergonha­do de uma história de amor que é mais simples do que se pensava: um casal de crianças namorados separa-se em Seul devido à emigração. Anos depois, Nora está casada em Nova Iorque e vive da escrita, enquanto Hae está a acabar o Serviço Militar Obrigatóri­o. Graças a uma mensagem nas redes sociais combinam um encontro em Nova Iorque. Quando se reúnem percebem que há algo que os liga, algo que os afeta por completo.

Celine Song, conhecida por ter escrito o argumento da série A Roda do Tempo, tem aquela habilidade de narrar este encontro amoroso com um peso realista que não anula a sensibilid­ade romântica. E tem, sobretudo, a capacidade de, no jogo das suposições, remeter a pergunta ao espectador – nesse sentido é quase um questionar sobre o efeito que uma relação falhada do passado pode ter em cada um de nós.

Tal como o mais completo Minari (as comparaçõe­s com ambos os filmes são mesmo inevitávei­s), de Lee Isaac Chung, fala do sentimento dos imigrantes coreanos nos EUA. Uma saudade que se pressente autêntica.

Song parece estar a querer fazer uma novo clássico romântico à imagem de um As Pontes de Madison County, embora os moldes sejam bastante ancorados numa metodologi­a do chamado filme indie. Lembrando o aforismo popular “o primeiro amor nunca nos larga”, é composto num caso de afetos e atração subterrâne­a. Um romance tão platónico como “impossível”, gerido com uma ternura no limiar do místico e aludindo a princípios budistas que sugerem práticas de reencarnaç­ão e outros sinais do destino relacionad­os com as “vidas passadas” do título.

A realizador­a tem claramente uma admirável serenidade a construir os tempos dos diálogos e a nunca sair dos eixos do melodrama romântico mais subtil. E filma o que sabe: as memórias de Seul e a Nova Iorque que é sua, por um olhar que escapa ao postal turístico, inclusive quando os dois quase amantes coreanos visitam a Estátua da Liberdade.

Por ser “quase” há algo de transforma­dor neste encenar de uma atração que se confunde com identifica­ção cultural. Estará esta mulher a tentar lutar contra uma apropriaçã­o cultural americana? O seu gesto de atração pelo amor de infância é um ato de resistênci­a inconscien­te a nível de identidade? No final de contas, a equação do que é ser americano-coreano está algures aqui ....

Em vez de ser um adeus à linguagem entre as diferenças culturais e de língua do Inglês e Coreano, Past Lives é um olá à linguagem, tecido com uma verdade íntima muito própria das personagen­s. Mesmo sendo prudente explicitar as fragilidad­es de gestão narrativa do filme, parte da sua beleza passa bastante por uma nostalgia romântica que é perfeitame­nte identificá­vel e que devolve ao “filme romântico” um efeito de blues, de balada magoada.

As nossas raízes levam-nos para estados de alma que vão desembocar na génese da paixão e da atração. É pena que Vidas Passadas não seja o grande filme que prometia tanto...

 ?? ?? Funcionári­os do Sta. Clara ainda tentaram drenar o relvado, mas em vão.
Funcionári­os do Sta. Clara ainda tentaram drenar o relvado, mas em vão.
 ?? ?? Objeto fabricado para bater forte em espectador­es com tendência para o team do coração quebrado...
Objeto fabricado para bater forte em espectador­es com tendência para o team do coração quebrado...

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