“Normalidade absoluta” na “Guiné portuguesa”
Em fevereiro de 1974 reinava entre os oficiais portugueses a convicção, fortíssima, de que a situação militar na Guiné-Bissau se tinha tornado insustentável. O PAIGC reduzira a muito pouco a superioridade aérea das tropas coloniais quando passou a dispor de uma nova arma, o míssil terra-ar Strela, de origem soviética. Em poucos dias, cinco aeronaves foram abatidas. O apoio logístico às guarnições espalhadas pelo território tornou-se incrivelmente complicado; até recolher os mortos e feridos para Bissau era difícil; ou transportar contingentes de um lado para o outro. A crise petrolífera de 1973 criava constrangimentos orçamentais na “metrópole”, limitando os gastos na Defesa. Spínola, prestes a lançar “Portugal e o futuro”, já tinha informado Lisboa de que a guerra poderia ter de passar de guerrilha a convencional. Costa Gomes, chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, aconselhava a que o esforço militar português recuasse das zonas fronteiriças e se concentrasse na defesa dos principais centros urbanos. Em 24 de setembro de 1973, o PAIGC declarara unilateralmente a independência. Estava em andamento o movimento conspirativo que destronaria a ditadura.
Segundo o DN, porém, não se passava nada. “Normalidade absoluta” nas “aéreas militar e administrativa” da “Guiné portuguesa”, dizia o jornal, na edição de 9 de fevereiro de 1974. Para o efeito falava-se na revista brasileira Cruzeiro que, “recentemente”, tinha dado “grande relevo” a declarações do jornalista Joaquim Ferreira Lagrosa. Este terá afirmado o seguinte, depois de visitar o território: “Na Guiné Portuguesa as áreas militar e administrativa funcionam com normalidade absoluta. Não há modificação a registar e tudo lá se processa como sempre em ordem.”
Era referida, especificamente, a situação em Madina do Boé (onde o PAIGC tinha declarado a independência do país). As “centrais de informações falsas” quiseram transformar a localidade em “território independente” mas a verdade é que se mantinha “perfeitamente integrada na comunidade portuguesa”. E mais: “Não existe em parte alguma território libertado onde um governo rebelde exerça controlo e ação.”
Faltavam 75 dias para o 25 de Abril.