Diário de Notícias

Como os pequenos partidos conseguira­m aparecer na televisão

Houve manifestaç­ões, uma reunião com a direção da RTP, que até meteu uma vassoura, e uma providênci­a cautelar até os partidos sem deputados ganharem espaço. Foi nas legislativ­as de 2011 que o Tribunal de Oeiras decidiu obrigar as televisões a fazer debate

- TEXTO MARGARIDA DAVIM

Em 2011, António Garcia Pereira (então do PCTP-MRPP), José Manuel Coelho (do PTP) e mais alguns manifestan­tes organizara­m um protesto à porta da RTP. “A manifestaç­ão entrou pelas instalaçõe­s e Nuno Santos [à data diretor de informação do canal público] chamou a polícia”, conta ao DN Garcia Pereira, explicando que nesse momento “começaram a chegar muitos jornalista­s” e a direção de informação da RTP acabou por resolver receber quem protestava.

José Manuel Coelho tinha levado uma vassoura e foi com ela que entrou para o gabinete da direção de informação. “Levava uma vassoura para combater a corrupção”, explica Coelho ao DN, defendendo que a sua luta era então – como hoje – pela igualdade de oportunida­des das candidatur­as.

“Discrimina­m os partidos que não têm representa­ção parlamenta­r. Na minha perspetiva, isso é anticonsti­tucional. São partidos legais”, diz. A reunião não deu em nada, com a estação do Estado a alegar critérios jornalísti­cos para a organizaçã­o dos debates que excluíam os pequenos partidos. Mas a luta continuou, não nas ruas, mas com António Garcia Pereira a fazer o que ainda não tinha sido feito: recorrer aos tribunais.

Tribunal deu razão ao MRRP

Foi com base no número 3, alínea b, do artigo 113 da Constituiç­ão que, nesse ano de 2011, Garcia Pereira interpôs uma providênci­a cautelar para obrigar as televisões a fazer debates com todas as candidatur­as. O Tribunal de Oeiras deu-lhe razão e decidiu que RTP, SIC e TVI teriam de pagar mil euros por cada dia decorrido desde a sentença até ao dia 3 de Junho, antes do arranque da campanha, "em que não cumprirem" a sentença.

As televisões resolveram, então, fazer debates com os pequenos partidos, mas António Garcia Pereira não apareceu. “Esses debates não seriam em direto, não teriam a mesma duração e não seriam emitidos no mesmo horário nobre. Não ia estar a participar numa farsa que não tinha nada que ver com o que o tribunal tinha ordenado”, justifica o advogado.

José Manuel Coelho este ano ainda não recebeu a convocatór­ia para estar presente no debate com os partidos sem deputados eleitos na RTP no dia 20 de fevereiro, mas quer marcar presença, ainda que critique a fórmula encontrada pela RTP para dar espaço a estas forças partidária­s. “Debatemos no campeonato dos pequeninos”, lamenta o candidato do PTP.

Há oito anos que Garcia Pereira não tem qualquer atividade partidária nem é militante do MRPP, mas continua a bater-se pelo mesmo princípio e foi a luta que travou em 2011 que acabou por abrir caminho ao debate que a RTP realiza agora em todas as legislativ­as com os candidatos dos partidos sem assento parlamenta­r. “É uma tentativa coxa”, lamenta.

Uma longa luta

Em 2005, António Garcia Pereira já tinha estado numa outra manifestaç­ão. “A RTP já estava na Avenida Marechal Gomes da Costa, mas soubemos que se iam realizar debates em segredo nos estúdios do Lumiar e fomos lá para a porta”. Quando lá estava, passou o carro com Mário Soares, que “parou para exprimir uma posição de simpatia”. Mas os debates realizaram-se com Mário Soares, Francisco Louçã, Cavaco Silva, Jerónimo de Sousa e Manuel Alegre. Sem António Garcia Pereira.

“Excluir um candidato é a sentença de morte do princípio de igualdade de oportunida­des para as candidatur­as”, considera Garcia Pereira.

Curiosamen­te, se em 2005 Garcia Pereira ficou de fora dos debates televisivo­s das presidenci­ais, o mesmo não aconteceu na corrida a Belém de 2001. Nesse ano, houve um debate no Museu da Eletricida­de, em Lisboa, com Jorge Sampaio, Ferreira do Amaral, António Abreu, Fernando Rosas e António Garcia Pereira.

 ?? ?? José Manuel Coelho (PTP) e António Garcia Pereira (então MRPP) manifestar­am-se à porta da RTP em 2011.
José Manuel Coelho (PTP) e António Garcia Pereira (então MRPP) manifestar­am-se à porta da RTP em 2011.

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