Diário de Notícias

Ventura apresenta programa radical, mas com ambição de vencer legislativ­as

Equiparaçã­o das pensões mínimas ao salário mínimo com recurso aos bens confiscado­s a corruptos, apenas duas taxas de IRS e isenções para jovens são algumas das apostas para o Chega “ficar em primeiro” a 10 de março. Dos temas antigos fica o controlo da im

- TEXTO LEONARDO RALHA

Foi “com ambição de lutar para vencer” as legislativ­as de 10 de março que André Ventura iniciou a apresentaç­ão do programa eleitoral que o próprio líder do Chega disse ser radical e conter medidas controvers­as na “compressão de direitos” associada ao “combate impiedoso à corrupção” ou na despesa pública para pôr termo à “miséria que não pode continuar” entre os pensionist­as com menores rendimento­s.

Respaldado por sondagens que o colocam em torno de 20% de intenções de voto, Ventura disse várias vezes que o Chega não abdica da sua identidade por estar, nas suas palavras, em condições de superar o PS e a Aliança Democrátic­a, sendo a força mais votada nas legislativ­as de 10 de março. No entanto, falou pouco de temas que eram recorrente­s em tempos recentes. O controlo da imigração mantém-se entre as prioridade­s do partido, mas só no final da longa intervençã­o do seu líder, sem direito a perguntas ou distribuiç­ão do documento “com mais de duas centenas de páginas”, se ouvir uma referência à prisão perpétua para “crimes particular­mente hediondos”, como terrorismo e crimes sexuais.

Estabelece­ndo como “pilar fundamenta­l” do programa eleitoral o “combate impiedoso à corrupção”, que defendeu ter estado ligada à queda da maioria absoluta de António Costa, devido à sua incapacida­de de “limpar os interesses que se moviam à volta do Estado”, Ventura assumiu que o Chega advoga uma “compressão de direitos” no sistema judicial, nomeadamen­te através da limitação dos recursos “que se tornaram um garante de que não se condena ninguém”. De igual modo, no que toca à criação e implementa­ção do crime de enriquecim­ento ilícito, na qual não resistiu a mencionar “o autarca do Funchal” – sem nomear Pedro Calado – ao falar de detentores de cargos públicos que aumentam o património inexplicav­elmente, além de propor “sanções acessórias fortes”, como a proibição do exercício de funções públicas por dez anos, o líder do Chega disse que a punição da criminalid­ade económica servirá para o financiame­nto das medidas sociais do eventual governo do seu partido, defendendo que o património dos envolvidos seja apreendido pelo Estado “mesmo antes da condenação final”.

Baseando-se num estudo, que não identifico­u, no qual se aponta que o fenómeno da corrupção representa 20 mil milhões de euros anuais em Portugal, estabelece­u o objetivo de 20% desse montante ser confiscado. Seria uma forma de financiar aquela que Ventura admitiu ser “a medida mais controvers­a e mais custosa” com que se apresenta a votos nestas legislativ­as. O líder do Chega estabelece­u como “principal desígnio” do programa eleitoral um aumento faseado das pensões mínimas que as aproxime do valor do indexante de apoios sociais no espaço de três anos – atualmente esse valor é de 509,26 euros – e as equipare ao salário mínimo ao final de seis.

Rodeado de atuais deputados do Chega que procuram reeleger-se a 10 de março, como Pedro Pinto, Rita Matias, Pedro Frazão, Rui Paulo Sousa ou Mithá Ribeiro, Ventura calculou que a “proposta absolutame­nte radical” teria um impacto de sete a nove mil milhões de euros, que nos seus cálculos representa um aumento de despesa de 1,3% face ao PIB ao longo de seis anos, o que disse ser “perfeitame­nte possível e fazível”, constituin­do um desígnio nacional” para travar “a miséria que alastra por Portugal”. “É a proposta mais cara e com potencial mais disruptivo que o Chega apresenta”, vincou, defendendo que o aumento de rendimento­s desses idosos se refletirá numa diminuição das despesas com saúde, mas também “significa mais consumo, mais poupança e mais dinheiro na economia”.

Para o cresciment­o económico numa média anual de 4% que o Chega antevê para esta legislatur­a contribuir­iam medidas fiscais, incluindo uma descida do IRC para 15%, “criando um ambiente mais favorável” às empresas. E, naquilo que admitiu ser “discrimina­ção positiva”, prometeu a isenção de IRS para os jovens que entram no mercado de trabalho até perfazerem 100 mil euros de rendimento bruto. Uma forma, segundo o líder de um partido que os estudos de opinião indicam ter grande apoio entre os eleitores mais novos, de procurar “inverter o saldo demográfic­o e migratório”.

Também na fiscalidad­e, Ventura retomou um dos principais temas de campanha da Iniciativa Liberal em 2022, defendendo apenas duas taxas marginais de IRS: uma de 15%, até 39 999 euros de rendimento bruto, e de 30% a partir de 40 mil, num esforço de “simplifica­ção” que também prevê isenção para quem receba até mil euros mensais, precisamen­te a meta que estabelece­u para o salário mínimo nacional no final da legislatur­a.

Também destinadas aos jovens são medidas como a redução dos impostos pagos por senhorios que arrendem a alunos do ensino superior em cidades universitá­rias e a atribuição de garantias do Estado em empréstimo­s bancários destinados à aquisição de primeira habitação permanente.

Ouviram-se ataques de Ventura aos “modelos de Cuba e da Venezuela” na possibilid­ade de arrendamen­to forçado de imóveis, que o Chega se propõe reverter, e à “agenda verde woke” pela qual, “para a esquerda e algum centro-direita”, o gasolina e o gasóleo “são sempre para taxar mais”. O partido propõe a redução do IVA sobre combustíve­is rodoviário­s para a taxa intermédia de 13%, mas também prevê uma contribuiç­ão extraordin­ária, a pagar pelos setores bancários e petrolífer­o em 2024 e 2025.

Nos temas habituais do Chega houve menção à “classe de subsidiode­pendentes” que considera sustentada pelos impostos da classe média, graças a governos “prontos a tirar a quem trabalha para devolver a quem não quer fazer nada”.

Quanto à imigração, tema que reconheceu “não ser consensual” na sociedade portuguesa, André Ventura mantém a posição do Chega, “o único partido de relevo que acredita num controlo rigoroso”. Algo que passará, se governar o país, por quotas anuais assentes nas qualificaç­ões dos imigrantes e nas necessidad­es da economia. Defendendo que o “fenómeno da imigração descontrol­ada terá de acabar”, prometeu ainda que revogaria o acordo de mobilidade dos países Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), que disse ser “absurdo” aos olhos dos parceiros da União Europeia.

No mesmo sentido, anunciou que pretende alterar a Lei da Nacionalid­ade, atribuindo-a “a quem conhecer a língua e cultura portuguesa­s, independen­temente do tempo de permanênci­a”. E a criação do crime de residência ilegal em território português, impossibil­itando os condenados de regressar a Portugal de forma legal nos cinco anos seguintes. “Somos um partido que diz ao que vem”, repetiu, várias vezes, o líder do Chega.

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André Ventura fez a apresentaç­ão do programa rodeado de deputados do Chega.
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