Uma eleição com mortes e sem serviço de telemóvel
Governo justificou corte de comunicações com manutenção da ordem, o que foi criticado por um dos principais candidatos.
Quase dois anos depois de Imran Khan, o último primeiro-ministro eleito, ter sido afastado do poder por uma moção de censura, os paquistaneses foram ontem às urnas escolher a nova composição da Assembleia Nacional e quem será o líder do próximo Governo. Um dia marcado pela morte de sete polícias em dois ataques e a decisão do Governo interino de bloquear, a nível nacional, o serviço de telemóvel, incluindo a internet móvel. Os resultados finais só deverão ser anunciados dentro de duas semanas, mas Nawaz Sharif e a sua Liga Muçulmana do Paquistão (LMP-N) são apontados como os favoritos à vitória.
Faltavam cerca de dez minutos para a abertura das assembleias de voto quando os paquistaneses se aperceberam que tinham ficado sem serviço de telemóvel, incluindo o serviço de dados. Medida justificada pelo Ministério do Interior com episódios de terrorismo, mas que, segundo a BBC, impediu muitos eleitores de reservarem táxis para irem votar ou falarem com familiares de amigos para coordenarem viagens até às assembleias de voto, enquanto que outros se queixavam de não conseguir saber onde era suposto votarem. As comunicações foram restabelecidas depois do fecho das urnas.
“Como resultado dos recentes incidentes de terrorismo no país, vidas preciosas foram perdidas. As medidas de segurança são essenciais para manter a situação da lei e da ordem e para lidar com potenciais ameaças”, justificou um porta-voz do Ministério do Interior. “Esta prática é antidemocrática e é conhecida por dificultar o trabalho dos observadores eleitorais independentes e por causar irregularidades no processo eleitoral”, disse à AFP Alp Toker, diretor da Netblocks, organização que vigia a governação na internet.
A campanha eleitoral – ensombrada pela contestada proibição de Imran Khan se candidatar e de os candidatos do seu partido (PTI) apenas poderem concorrer como independentes – foi marcada por ataques de rebeldes, visando principalmente assembleias de voto e candidatos, nomeadamente nas províncias do Balochistão (sudoeste) e de Khyber Pakhtunkhwa (noroeste). Ontem, sete polícias foram mortos em dois ataques distintos.
O líder do Partido Popular do Paquistão (PPP), Bilawal Bhutto Zardari, apelou à restauração dos serviços móveis e anunciou que o seu partido vai contestar a decisão do Governo em tribunal. O filho da antiga primeira-ministra Benazir Bhutto, assassinada em 2007, e do ex-presidente do Paquistão Asif Ali Zardari poderá ser essencial para a formação do Governo, caso Sharif não consiga uma maioria, mas este foi um cenário que ontem recusou. “O meu mandato não pode ser dado a ninguém”, garantiu Bilawal Bhutto Zardari à Samaa TV depois de votar.
Nawaz Sharif, que já foi primeiro-ministro três vezes, também não quis falar na possibilidade de um resultado pouco claro, preferindo apelar à necessidade de “uma clara maioria”. “Não falem sobre um governo de coligação. É muito importante para um governo obter uma clara maioria, não deveria depender de outros”, disse à Reuters o candidato da LMP-N. À BBC, Sharif garantiu que estas foram umas eleições “absolutamente justas”.
Nawaz Sharif, dado como favorito à vitória, diz que estas foram uma eleições “absolutamente justas” e pediu aos eleitores uma “clara maioria”.