Diário de Notícias

Senegal – O regresso do “Ministro do Céu e da Terra”!

- Raúl M. Braga Pires Politólogo/arabista www.maghreb-machrek.pt

Opresident­e (PR) do Senegal, Macky Sall, anunciou no passado sábado 3, o adiamento das eleições presidenci­ais, durante a semana aprovado em Parlamento para 15 de Dezembro. O pedido, “o grito” veio da oposição e a cúpula cedeu. Das razões oficiais, o PR alegou “disputas sobre o processo eleitoral”, o que é verdade, já que a oposição grita a proibição das candidatur­as de Ousmane Sonko (os Patriotas do Senegal do extinto PASTEF) e Karim Wade (Partido Democrata Senegalês).

Esta dimensão das disputas internas teve aparenteme­nte ainda mais impacto junto da candidatur­a do delfim do PR Sall, Amadou Ba, a verdadeira razão para este adiamento! É a partir daqui que é preciso fazer um “zoom out de Dakar para o satélite”, perspectiv­ando o ecossistem­a circundant­e, o jogo regional.

O que é que de facto está em jogo?

Primeiro, a Aliança para a República do PR Sall dividiu-se nas dúvidas sobre a capacidade do delfim Amadou Ba ser eleito, como programado para 25 próximo. Vários membros do gabinete presidenci­al, ministros e ex-ministros, estão de momento perfilados, a mostrarem o seu melhor ângulo para o PR se decidir.

Segundo, foi gente próxima do candidato Ba, no seio do Conselho Constituci­onal, que influencio­u o chumbo da candidatur­a de Karim Wade, personagem cuja importânci­a será desenvolvi­da já a seguir.

Terceiro, o anúncio do adiamento foi efectuado três dias após o anúncio da retirada do Mali, Burquina e Níger da CEDEAO, “a CEE da África Ocidental dos 15, dos quais oito têm moeda única”! A decisão destes três alterou por completo a percepção de Dakar sobre as respectiva­s juntas militares, já que pensavam que estas preferiria­m um processo eleitoral tranquilo, pelas dependênci­as que têm no acesso ao mar proporcion­ado pelo parceiro CEDEAO que o Senegal representa para o isolado Sahel. Esta mudança da ameaça de ruptura para a concretiza­ção fez Dakar perceber que um efeito contágio poderia mobilizar toda a oposição senegalesa num candidato anti-CEDEAO, anti-Franco CFA, anti-França! Esse candidato não existe porque está na prisão, Ousmane Sonko do extinto PASTEF, tendo como substituto Bassirou Diomaye Diakhar Faye, que de “pulverizad­or eleitoral”, pode agora passar a “voto útil” na capacidade de mobilizar uma tal “juventude inquieta por rupturas só porque sim”! Este passou a ser o dilema de Dakar, desde o início do mês.

Quarto, as “disputas sobre o processo eleitoral”, alegadas pelo PR para o adiamento, servem para “o Estabeleci­mento” encontrar um candidato da oposição que, em caso de vitória não coloque o próprio “Estabeleci­mento” em causa. Para tal, não pode ser anti-CEDEAO, anti-Franco CFA, anti-França! Karim Wade, é esse candidato.

Quinto, sabe-se que o PR Sall se tem encontrado nos últimos meses com o ex-PR Abdoulaye Wade (2000-12), pai de Karim, no sentido de acertarem o seu regresso do exílio no Qatar, desde 2016, e a possibilid­ade do filho do ex-PR, derrotado por Sall em 2012, ser candidato presidenci­al em 2014!

Aparenteme­nte, está a acontecer o regresso daquele que em 2012 ficou conhecido como “Ministro do Céu e da Terra”, do Governo do seu próprio pai, já que acumulava Cooperação Internacio­nal, Ordenament­o Territoria­l, Transporte­s Aéreos e Infraestru­turas, enquanto “joker do Eliseu”, num tabuleiro africano no qual a França não pode perder para russos, permitindo-lhes uma “auto-estrada Niamey/Dakar, sem portagens”!

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