Diário de Notícias

Uma alcateia órfã de selecionad­or e de estrelas à procura de renovação

Portugal obrigado a vencer Polónia amanhã para manter hipóteses de se qualificar para as meias-finais. Novo ciclo começou com muitos sobressalt­os pós-Mundial. Hugo Aubry é um dos novatos. Nasceu em Soustons (França), mas as raízes madeirense­s abriram-lhe

- TEXTO ISAURA ALMEIDA

tempestade Karlota, que acompanhou os lobos durante as quase três horas

treino de ontem no campo do Jamor, não é a única a agitar o dia a dia da alcateia nacional, uma seleção de râguebi sem selecionad­or e alguns dos melhores jogadores, como Rodrigo Marta, Raffaele Storti ou Nicolas Martins, e que amanhã joga com a Polónia, no segundo jogo do Grupo B do Rugby Europe Champioshi­p.

Depois da derrota com a Bélgica (10-6) no primeiro encontro, Portugal está obrigado a ganhar amanhã e em Bucareste, no dia 17, diante da Roménia, para manter intactas as hipóteses de ser campeão europeu. A equipa nacional quer limpar a imagem exibiciona­l – com 13 mundialist­as no 15 titular, não obteve um único ensaio – e mostrar que este novo ciclo tem um propósito: levar Portugal ao Campeonato do Mundo de 2027 na Austrália e fazer melhor do que a histórica participaç­ão no Mundial 2023, onde conseguiu um triunfo, diante das Ilhas Fiji, um empate com a Geórgia e duas derrotas frente a País de Gales e Austrália.

O presidente da Federação Portuguesa de Rugby põe as mãos no fogo por esse objetivo e pelo futuro desta geração de lobos, que diz ter mais “potencial” do que o grupo que em 2019 começou o caminho até França2023. Carlos Amado da Silva apareceu no Centro de Treino de Râguebi, no Jamor, após a sessão matinal a que o DN assistiu no relvado, e não escondeu o desagrado com as críticas alheias a essa derrota com os belgas. Pede paciência e tempo para a seleção e para ele próprio, com o objetivo de lançar as bases de um Centro de Alto Rendimento que honre os feitos do râguebi nacional. Um projeto em andamento e que poderá ter apoios financeiro­s daWorld Rugby, que teve representa­ntes em Portugal esta semana.

Mas, mesmo sabendo que o râguebi é um mundo à parte no universo desportivo, para entender o que se passa na seleção nacional é preciso um explicador. Em novembro, menos de um mês depois de ser anunciado, Sebastien Bertrank renunciou ao cargo de selecionad­or por “aumento de trabalho” que implicaria o despedimen­to do cargo que exerce em França, deixando a equipa sem líder. Os lobos são nesta altura comandados por Daniel Hourcade, consultor de alto rendimento daWorld Rugby, antigo selecionad­or argentino com passagem por Belenenses e Direito.

O nome do escolhido para comandar a seleção até 2027 pode ser conhecido ainda durante o Rugby Europe Championsh­ip – principal torneio europeu de seleções, com exceção do Seis Nações, que é uma competição privada e fechada –, que tem final marcada para o dia 17 de março em Paris. “Mas com toda a certeza”, segundo Carlos Amado, será anunciado antes da visita à África do Sul, prevista para julho, e sairá da lista que a World Rugby apresentar­á com base no perfil traçado pela federação portuguesa.

Passado, presente e futuro

A renovação da seleção é cíclica. A cada quatro anos há jogadores que abandonam. Francisco Fernandes e Mike Tadjer brilharam no Mundial e disseram adeus à seleção nacional. Já os jogadores que se têm destacado esta época no segundo escalão profission­al francês – Rodrigo Marta, Raffaele Storti, Simão Bento ou Nicolas Martins – não foram dispensado­s pelos clubes. “Nenhuma individual­idade é superior à equipa. O Mundial 2023 foi um marco, mas há um novo ciclo a iniciar e com dores de cresciment­o associadas como todos”, disse Tomás Appleton ao DN, tentando amenizar as baixas com o mesmo sentimento com que usa a braçadeira.

Appleton gosta de pensar que lidera pelo exemplo, mas se for preciso “cair em cima de alguém”, garante que também o fará. “A derrota com a Bélgica foi muito dura, não há ninguém mais desiludido do que nós, mas temos de saber dar a volta como já o fizemos no passado”, admitiu o capitão, confessand­o que Portugal “tem obrigação de ter aprendido com os erros de 2007 e não deixar escapar a oportunida­de de estar no Mundial 2027”.

O jogador acredita que o caminho do cresciment­o do râguebi português passa pela profission­alização. Pensamento partilhado por João Granate, o discreto avançado (3.ª linha) que fez todos os jogos no Mundial e integra o núcleo da seleção. Hoje, “mais amassado” e com lesões em tendões e ossos que nem sabia que existiam, garante ser um jogador mais experiente.

Formado em Engenharia, trabalha numa empresa de piscinas, onde tem como patrão o ex-jogador Miguel Bento que o dispensa para jogar pela seleção. Mas não é fácil outros patrões seguirem-lhe o exemplo. No Mundial foram mais de três meses e meio ao serviço das quinas e neste Europeu será mês e meio. “Talentos perdidos” por não conseguire­m viver do râguebi, é uma triste realidade em Portugal.

Hugo Aubry é um dos novatos (tal como Luca Begic). Nasceu em Soustons (França), mas as raízes madeirense­s abriram-lhe as portas da seleção portuguesa. Aos 19 anos já joga no Bayonnais, clube do top 14, a I divisão francesa, a segunda mais importante a nível mundial. O aparente ar frágil engana quem não lhe conhece a raça. Foi um dos poucos a deixar boa imagem no jogo com a Bélgica e destacou-se no treino de ontem... pelo corte de cabelo à moicano, autoria do padrinho Pedro Lucas como manda a praxe.

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Uma torre humana a testar as capacidade­s dos lobos nos lançamento­s.

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