Guiné a ferro e fogo, mas está tudo bem...
Spínola abandonara a Guiné no verão anterior na dupla condição de governador e de comandante-chefe. Susteve uma feroz ofensiva lançada em janeiro pelo PAIGC e equilibrou a sorte da guerra –, mas sabia, como poucos, que era uma questão de tempo até à derrota militar total. Tentou , entre 1968 e 1973, uma solução política. Debalde. O regime cortou-lhe as vazas. Não quis ser reconduzido.
Avançou para a Guiné o general Bettencourt Rodrigues. A situação militar, entretanto, não deixava de piorar. A capacidade militar do PAIGC crescia. A derrota militar total era previsível –, mas, segundo as notícias oficiais, como a do DN de há 50 anos, respirava-se confiança na colónia: “A bandeira portuguesa continua hasteada na Guiné ao contrário do que pretende fazer crer a propaganda dos terroristas.”
O Movimento dos Capitães conspirava em reuniões clandestinas. O golpe estava em marcha – imparável!
A ação dos capitães foi fortemente influenciada por Spínola. A sua política na Guiné – Por uma Guiné Melhor – e o seu conceito de manobra assente na conquista das populações, abriu uma perspetiva diferente para a resolução da guerra. O que incluía as tentativas que fez, e que eram do conhecimento dos militares, de contacto com o líder do PAIGC, Amílcar Cabral. Tal comportamento do general Spínola tornou a Guiné um território onde era possível discutir soluções alternativas para a guerra – e onde se podia discutir as opções do Governo e a sua política, como o general fazia.
Os discursos e as diretivas operacionais de Spínola, onde ele explicava as suas opções, constituíam lições de aprendizagem política, para os que necessitavam delas, e de estímulo para os outros. Havia, na Guiné, entre os militares, a noção de que Spínola estava contra o Governo. Conspirava-se na colónia, com a bênção do governador e comandante-chefe.
Havia entre os militares a ideia de que Spínola era diferente dos outros generais. Sabia-se, por esta altura, que o seu livro – Portugal e o Futuro – estava prestes a ser publicado e era uma alternativa às políticas do Governo de Marcello Caetano.
Teria sido muito difícil fazer o 25 de Abril contra Spínola, porque ele teria capacidade para neutralizar qualquer tentativa.