Diário de Notícias

Wang Suoying “Os nascidos no Ano do Dragão são cheios de energia e vigor”

Ano Novo chinês começa hoje e, em conversa com o DN, Wang Suoying, a presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, explica o que significa este 2024 ligado ao animal mitológico.

- ENTREVISTA LEONÍDIO PAULO FERREIRA

Este é o Ano do Dragão. É o único animal mitológico dos 12 signos chineses. O que representa para quem nasce nele?

Para responder a esta pergunta, convém explicar primeiro a origem do dragão e o seu simbolismo na cultura chinesa. Para muitos, o dragão foi o totem criado pelos antepassad­os chineses na Antiguidad­e remota. Foi tirado um pouco de diversos animais, inventando um animal poderoso, capaz de tudo e único no mundo. O dragão original era muito simples, baseado na serpente. Foi-se aperfeiçoa­ndo durante milénios e a partir da Dinastia Ming (1368-1644) tem cabeça de boi, chifre de veado, barbas de carpa, corpo de boa, pescoço de serpente, escamas de peixe, garras de águia, olhos de camarão e palmas de tigre. Para outros, o dragão resultou da pesquisa astronómic­a. A fim de observar os movimentos do Sol, Lua e planetas Metal/Vénus, Madeira/Júpiter, Água/Mercúrio, Fogo/Marte e Terra/Saturno, os chineses antigos escolheram 28 constelaçõ­es próximas da elíptica e do Equador, dividindo-as em quatro zonas com sete cada, representa­das por quatro animais, Leste/Dragão, Norte/Tartaruga, Oeste/Tigre e Sul/Ave, por semelhança na forma ou com forma imaginária. Por exemplo, se ligar com linhas as sete constelaçõ­es da zona leste, a sua imagem é igual ao ideograma dragão, na sua escrita mais antiga nas carapaças das tartarugas. Muito apreciado pelos chineses, o dragão simboliza a Nação Chinesa e os chineses autodenomi­nam-se “descendent­es do dragão”; simboliza o imperador, com imensas expressões em que o termo é usado como sinónimo de imperador; simboliza o que é bom e nobre, exprimindo o famoso provérbio “desejar que o filho seja o dragão”, a vontade de todos os pais, que desejam que o filho seja alguém na vida; torna-se uma mascote favorita do povo chinês, o que é mostrado pela dança de dragão e corrida de barcos-dragão. Por isso, os nascidos no Ano de Dragão possuem as qualidades de bravura, determinaç­ão e espírito empreended­or; são física e psicologic­amente fortes, cheios de energia e vigor; são bons a agarrar oportunida­des procurando a perfeição; são confiantes, independen­tes e decididos, com habilidade­s de liderança; são comunicati­vos e sociáveis, adaptando-se facilmente às circunstân­cias; têm ambições nobres e detestam a hipocrisia. No entanto, também precisam de ter cuidado para não se tornarem dominadore­s ou autoritári­os, devendo ouvir os outros com modéstia.

1976 foi A nodo Dragão. E também ano da morte deChuEnl ai e,depo is, de Mao Tsé-tung,du as figuras-chave da Revolução Comunista de 1949. Também houve um terramoto que matou milhares de pessoas. Há que te meros efeitos do A nodo Dragão ou 1976 foim ui toexce cio nal?

O dragão, por ser um animal muito vigoroso e criativo, implica mudanças, o que pode ser comprovado pelo Livro das Mutações, de há 3000 anos, pois todos os 64 hexagramas referidos nele usam o dragão como metáfora, como: “se o dragão voar até ao ponto mais alto, arrepender-se-á”; “o dragão salta sobre o abismo”, etc. Aos olhos dos nossos antepassad­os, o dragão pode não ser muito bom quando atinge o seu ápice, pelo contrário, é mais auspicioso quando está num ponto baixo, subindo e progredind­o. Na História da China, existem Anos do Dragão com mudanças excecionai­s como 1976. Por exemplo, em 221 a.C., Qinshi- huang (primeiro imperador da Dinastia Qin) unificou toda a China, fundou o primeiro Estado unificado e multiétnic­o, com poder centraliza­do, e começou a usar o título de imperador. No ano 68 foi construído o Tempo de Cavalo Branco em Luo- yang, iniciando a divulgação do budismo na China.

Em 1964, a China fez o primeiro teste atómico. Mas as grandes mudanças também acontecem em outros anos. Perante a crença tradiciona­l, a nossa atitude é sempre “não se pode não acreditar, nem acreditar em tudo”. As mudanças implicam a instabilid­ade, oportunida­des e desafios. Não precisamos de ter receio do Ano do Dragão, pois o animal foi criado como símbolo de auspício e poder. Basta-nos ficar alertados e preparados para enfrentar desafios e aproveitar oportunida­des.

Qual é o seu signo chinês?

Coelho.

Que caracterís­ticas tem?

Gentil, bondoso e firme. Todos os que me conhecem acham que sou assim e não me queixo do meu signo.

Há signos preferidos? Por exemplo, algum que se perceba estatistic­ament e que pais e mães esperam par ater filhos?

Há. Primeiroéo porco, um signo afortunado. Segue o dragão, pelos muitos motivos já referidos aqui.

Cada signo repete-se de 12 em 12 anos. E cada tem cinco elementos, que se repetem cada 60 anos. Como funciona? Este dragãoé de quê?

Tradiciona­lmente, os chineses designam os anos com nomes dos dez troncos celestes e 12 ramos terrestres, representa­dos respetivam­ente por um ideograma, num total de 22. Os ramos terrestres referem-se aos 12 animais do horóscopo chinês. Os cinco números ímpares dos troncos celestes combinam-se com os 6 números ímpares dos ramos terrestres, originando 30 combinaçõe­s. Da mesma forma se combinam os números pares originando outras 30 combinaçõe­s. São no total 60 combinaçõe­s que formam um ciclo, ou seja, cada combinação serve para designaru mano eérepet idade 60 em 60 anos. O ciclo de 60 anos compreende cinco subciclos de 12 animais, multiplica­dos por 5 elementos, pelo que em cada 60 anos só pode haver um dragão de água, um dragão de fogo, e assim por diante. Este ano chama-se jiachen em ideogramas, representa­ndo jia a madeira e chen o dragão,p elo queéoA nodo Dragão de Madeira. A madeira simboliza a vida e cor verde; ao dragão é atribuído o elemento Terra (com água). Podemos imaginar que no Ano do Dragão de Madeira, uma grande árvore verde a crescer no solo húmido, exalando vitalidade e beleza.

Qual o signo do presidente Xi Jinping?

É serpente, o mesmo signo de Mao Tsé-tung, com a diferença de 60 anos entre os dois. Será o signo de 2025.

Vaies te sábado, no Centro Científico e Cultural de Macau, em Lisboa, falar sobre o Ano do Dragão. Há muita curiosidad­e em Portugal sobre a cultura chinesa?

Sim. Este sábado, dia 10, o CCCM celebrará o Ano do Dragão, com uma sessão às 14.00 horas para crianças inscritas. Às 16.00, com entrada livre, será a atuação de artes marciais (Escola Folha de Bambu), declamação do poema Ano Novo da Dinastia Song (Escola Chinesa Molihua), Taiji (da nossa Associação), Dança de Dragão (Grupo Hong- yang) e a minha palestra. Durante estes 32 anos em Portugal, todas as palestras que fiz sobre a cultura chinesa têm tido plateia cheia, incluindo a do ano passado sobre o Ano do Coelho no CCCM. Nesta aldeia global, conhecer outras culturas constitui uma tendência natural e irresistív­el, o que favorece a compreensã­o mútua e a sintonia das ideias entre os povos. Atendi há pouco a chamada de uma sra. Maria. quando estava na sede da nossa Associação.Vive perto de Loures e perguntou sobre as celebraçõe­s do Ano do Dragão abertas ao público. Ficou feliz ao saber das danças de dragão e leão na Praça do Município ontem e hoje do evento no CCCM. Disse que estará no CCCM sem falta, pois está mesmo interessad­a pela cultura chinesa.

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Wang Suoying Presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa

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