Diário de Notícias

Kiev e UE desvaloriz­am entrevista de Putin

Presidente russo garantiu que derrota na Ucrânia é “impossível” e afastou a possibilid­ade de invadir a Polónia ou a Letónia. Novo chefe das Forças Armadas da Ucrânia, Oleksandr Syrsky, apelou ontem para o aperfeiçoa­mento das forças da Ucrânia para ganhar

- TEXTO ANA MEIRELES Com AGÊNCIAS

As autoridade­s ucranianas desvaloriz­aram ontem a entrevista ao presidente russo Vladimir Putin feita pelo apresentad­or norte-americano Tucker Carlsson, classifica­ndo-a como “mais um fracasso” da propaganda russa, em que “um louco” fala sobre geopolític­a.

Na opinião do chefe do Serviço de Informaçõe­s do Ministério da Defesa, Andrei Yusov, a entrevista divulgada na quinta-feira à noite “não passa de uma operação especial” da Rússia para tentar “influencia­r” o “mundo livre”. “Aqui está um louco a falar de geopolític­a e de disparates. Direito Internacio­nal, História e decidir que nação deve existir e qual não deve. Tudo isto é, obviamente, uma ilusão”, disse.

Yusov considerou ainda que uma entrevista deste género demonstra o grande interesse do Kremlin em tentar persuadir o “mundo livre” e que foi “uma tentativa de transmitir a voz de Putin a um Ocidente que ele tanto odeia”. “É claro que falhou a nível global, porque depois desta entrevista já vimos todas as avaliações dos principais especialis­tas, cientistas políticos e políticos”, assegurou o responsáve­l ucraniano.

No mesmo sentido, mas com uma retórica menos inflamada, a Comissão Europeia disse não ter encontrado “nada de novo” na entrevista e lamentou que o presidente russo tenha repetido “mentiras e distorções”.

“Não encontrámo­s nada de novo naquela entrevista, repetiu mentiras antigas, distorções, manipulaçõ­es e mostrou uma grande hostilidad­e para com o Ocidente, que não é nova. Lamentamos que Putin tenha tido acesso a uma plataforma para manipular e espalhar propaganda. Putin reforçou as suas já conhecidas mentiras sobre a Ucrânia, mentiras perigosas, como a desnazific­ação da Ucrânia para justificar a guerra de agressão injustific­ada e sem provocaçõe­s”, afirmou a porta-voz da Comissão, Nabila Massrali.

Na entrevista dada a Tucker Carlson, um reconhecid­o apoiante de

Donald Trump, Vladimir Putin afastou a possibilid­ade de invadir a Polónia ou a Letónia, ambos membros da NATO, afirmando que “não tem interesse” nesses países.

Já sobre a Ucrânia, Putin afastou a possibilid­ade de derrota, consideran­do-a “impossível, por definição” e disse estar pronto para negociar, mas que o presidente Volodymyr Zelensky, “assinou um decreto que proíbe a negociação com a Rússia [porque] obedece a instruções dos países ocidentais”.

Substituiç­ão contestada

Os principais partidos da oposição ucraniana criticaram ontem o presidente Zelensky por ter demitido o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas Valery Zaluzhny, cuja substituiç­ão por Oleksandr Syrsky, foi ordenada na quinta-feira.

Oleksi Goncharenk­o, um dos membros mais ativos do partido de centro-direita Solidaried­ade Europeia, do antigo presidente Petro Poroshenko, descreveu a decisão de Zelensky como um “enorme erro”.

Na sua primeira mensagem desde que foi nomeado, Oleksandr Syrsky disse esta sexta-feira que “só mudando e aperfeiçoa­ndo continuame­nte os meios e os métodos de guerra é que [serão] bem-sucedidos” na luta contra a Rússia.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal