Diário de Notícias

O fanático por dirigíveis

- TEXTO AMANDA LIMA

Apreocupaç­ão com a poluição causada por meios de transporte era tema do DN a 11 de fevereiro de 1974. Poderá ser uma notícia de hoje ou amanhã, já que o tema não se esgota e ganha contornos cada vez mais preocupant­es. A possível solução para o problema na altura é que estava errada.

O título com letras grandes questionav­a “Os dirigíveis serão os grandes transporta­dores do futuro?”. O futuro não era assim tão distante, com previsão de que nos anos 80 já estariam no auge novamente. Recorda-se que o acidente na Alemanha, em 1937, que toda a gente conhece pela capa do disco dos Led Zeppelin, foi considerad­o a pá de cal dos gigantes do ar.

A fonte da notícia, Max Rynish, é descrito como um “fanático por dirigíveis” e liderava uma campanha internacio­nal pela volta dos grandes veículos aos céus. A questão da segurança estava ultrapassa­da, segundo o entrevista­do, já que os dirigíveis do futuro seriam movidos a gás de hélio não inflamável, ou seja, sem mais explosões mortais. Este era apenas um dos vários argumentos.

O cenário descrito era de crise energética, aumento do custo dos transporte­s e estradas cada vez mais congestion­adas. Novamente poderia ser o cenário de 2022, 2023 ou 2024. Mas o argumento central de Max era o da sustentabi­lidade, palavra que ainda não era moda, mas era retratada como “mais limpos” – expressão que estava em destaque no pós-título, mas com aspas.

O tal fanático citava que um Boeing 707 utilizava 18 vezes mais combustíve­l do que um dirigível. Porém, as vantagens não paravam aí: também eram mais económicos, com possibilid­ade de serem usados para transporte de produtos com custos mais baixos. Além disso, gerariam “empregos em abundância”.

O plano estava todo na cabeça de Rynish, que prometia reunir 300 pessoas numa conferênci­a no mês seguinte, apoiado por um grupo americano de defesa ambiental. O DN deixava claro no texto que havia uma “única barreira” para o sonho do fanático por dirigíveis: dinheiro, ou melhor, mais dinheiro do que as companhias de aviação tinham.

Hoje, sabemos que Max não juntou o dinheiro necessário e, por enquanto, aproximada­mente 200 mil aviões rasgam os céus diariament­e.

 ?? ?? NO CÉU Há 50 anos já se falava em meios de transporte mais limpos e mais económicos. Não se sabe se era estratégia de apelo ao tema ou uma preocupaçã­o real. Facto é que a aposta no transporte do futuro falhou e não vemos dirigíveis, somente aviões e jatos.
NO CÉU Há 50 anos já se falava em meios de transporte mais limpos e mais económicos. Não se sabe se era estratégia de apelo ao tema ou uma preocupaçã­o real. Facto é que a aposta no transporte do futuro falhou e não vemos dirigíveis, somente aviões e jatos.

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