Cruz Vermelha celebra 159 anos com o desafio de responder ao aumento de pedidos de apoio
António Saraiva dirige a instituição desde julho de 2023. Manter a sustentabilidade financeira e os apoios a quem mais necessita é o objetivo da gestão para os próximos anos. Estão a ser estudadas campanhas para obter donativos.
“Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo.” Esta frase está inscrita numa parede da Residência Sénior da Cruz Vermelha, na Costa do Estoril, e talvez seja a melhor forma de retratar esta estrutura da instituição, que hoje comemora o seu 159.º aniversário e é liderada por António Saraiva desde 17 de julho do ano passado.
Pela animação que se viu e sentiu durante a tarde de sexta-feira na sala do rés do chão da residência, este é mesmo o “castelo” dos cerca de 40 residentes que se mascararam a preceito para assinalar o Carnaval. Até houve uma peça de teatro, em que um professor de italiano mostrou os seus dotes de pianista e cantor. Pelo entusiasmo a que assistimos, não terá desiludido – e até António Saraiva foi convidado a dar um pé de dança.
Nas suas 159 delegações – este domingo será inaugurada uma em Braga –, com especificidades e necessidades próprias e um total de 2834 elementos, a que acrescem mais quatro mil voluntários (não esquecendo as duas escolas superiores, vocacionadas para a área da Saúde, com 10 licenciaturas e 1945 alunos), a CruzVermelha presta auxílio desde a emergência médica à social – apoio ao pagamento de rendas e faturas da água e luz, consultas médicas, acolhimento de migrantes e refugiados, sem-abrigo, casas-abrigo para vítimas de violência doméstica e filhos ou creches. Tem ainda seis residências, como a da Costa do Estoril.
Uma panóplia de intervenções que é também um desafio para António Saraiva, que durante quatro anos vai dirigir a instituição. E que à pergunta “o que o surpreendeu?” responde ter sido o “enorme trabalho, a diversidade de valências que a CruzVermelha tem”.
Uma dimensão que também acarreta o desafio de manter todas as ofertas de apoio existentes, como reconhece o dirigente. “Ajudamos as famílias mais desfavorecidas a pagar as rendas de casa, para não ficarem na iminência de as perder, ou para evitar o corte de serviços, como a eletricidade ou a água. Temos o transporte de doentes, os lares, as creches”, enumera.
Gerir esta estrutura apresenta um outro desafio na hora de celebrar 159 anos (foi fundada a 11 de fevereiro de 1865): o financeiro.
“Nós somos uma entidade sem fins lucrativos, mas não temos de ser forçosamente uma entidade com prejuízos acumulados. E por isso a sustentabilidade da organização é importante”, frisa. Uma gestão desafiante num momento em que os pedidos de apoio têm aumentado, como explica: “Em 2022, a CruzVermelha duplicou as ajudas que deu em 20 21 e em 2023 ainda aumentámos esse valor. Os pedidos de ajuda têm vindo a subir e por isso estamos a avaliar várias campanhas que vamos desenvolver de captação de receitas, de donativos. Felizmente, neste momento as receitas cobrem as despesas, mas neste mandato de quatro anos temos também de garantir o futuro da instituição. E temos vários serviços que podemos oferecer em troca do apoio que as empresas nos possam dar, como a questão da emergência ou a teleassistência, a formação de colaboradores para um primeiro apoio em caso de emergência. Ou a ajuda no cumprimento dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.”
A apoio à saúde mental
Regressando ao centro e às frases espelhadas nas paredes, uma outra pode guiar os residentes: “O sonho comanda a vida”, de António Gedeão.“A CruzVermelha é muito mais do que um sonho que comanda a vida. Desde logo porque a vida, cada vez mais, é desafiante”, frisa António Saraiva, aproveitando para destacar a importância de se dar atenção à saúde mental e ao trabalho que é feito nas instituições de apoio a idosos, onde estes estão em constante atividade. “É a importância do envelhecimento ativo, a importância das aulas de italiano ou outros idiomas, de informática, das danças”, sublinha.
Todo este apoio é tão importante para os idosos da residência como para os moradores do centro sem-abrigo de Alcabideche, também gerido pela Cruz Vermelha. Nesse espaço, que em breve vai perder uma habitante a quem a autarquia de Cascais cedeu uma casa, vivem cerca de 30 pessoas. E também nessa casa a opção pelas inscrições motivacionais é levada a sério. A terminar, aqui fica uma: “Continue, o melhor está para vir.”