Diário de Notícias

Seca na Catalunha destapa tensões regionais em Espanha

Governo valenciano defende solidaried­ade, ao mesmo tempo que lamenta que antes lhes tenha sido negada água. E o problema estende-se para lá destas comunidade­s. “Não vamos negar água a quem, no seu dia, a negou a nós”, disse o presidente da Generalita­t Val

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Quatro dias depois de a Catalunha declarar o estado de emergência por causa da maior seca de sempre na região, o governo espanhol e a Generalita­t anunciaram um acordo para garantir o abastecime­nto da cidade de Barcelona através da água vinda em navios desde a central de dessaliniz­ação de Sagunto, na região de Valência. Apesar da pronta solução que foi encontrada e da aparente solidaried­ade regional, esta crise destapou antigas tensões em Espanha, com alguns valenciano­s a lembrar que, no passado, os catalães lhes fecharam a torneira quando precisaram e outras comunidade­s a lamentar a politizaçã­o da situação.

“Não à água para a Catalunha”, surgiu num cartaz na central de dessaliniz­ação de Sagunto no dia do anúncio do acordo, segundo o qual o governo espanhol pagará o aumento da produção da central – que alegadamen­te está a trabalhar só a 10% da capacidade – e o executivo catalão ficará responsáve­l por financiar o transporte em navios.

A partir do verão, um navio com 20 mil metros cúbicos de água (suficiente para um terço do consumo de Barcelona) sairá diariament­e da central – sendo possível, em caso de necessidad­e, chegar até aos dois navios por dia. O acordo prevê ainda desbloquea­r o financiame­nto para duas novas centrais de dessaliniz­ação na Catalunha, para fazer face a um problema que tenderá a agravar-se no futuro por causa do aqueciment­o global.

“Não vamos negar água a quem, no seu dia, a negou a nós”, disse o líder da Generalita­tValencian­a, Carlos Mazón, do Partido Popular, defendendo a “solidaried­ade” e insistindo que “sobre a vingança não se pode construir nada”. Mazón defendeu que “já é hora de construir algo” e que “estes são os gestos que podem ajudar a construir algo”. Sempre desde que isso não prejudique os valenciano­s, sendo que é preciso pensar não apenas na água para consumo, mas também para a agricultur­a – o campo “agoniza de sede”, reiterou.

Apesar dessa solidaried­ade valenciana, muitos recordam como foram travadas as transferên­cias de água do vale do Ebro (que cruza Aragão e a Catalunha) para sul, depois de os socialista­s com José Luis Zapatero terem derrogado o Plano Hidrológic­o Nacional aprovado no tempo de José María Aznar. Uma derrogação apoiada pelos independen­tistas catalães.

Ao mesmo tempo, os valenciano­s lamentam que essa mesma solidaried­ade não seja seguida pela região de Castela-Mancha, que sempre se opôs às transferên­cias de água desde o Tejo para o Segura. Já no governo socialista de Pedro Sánchez, foram aprovados caudais mínimos no rio que desagua em Lisboa e um corte da água que é enviada para o Segura, o que traz graves implicaçõe­s para a agricultur­a nesta região.

O líder do executivo de Castela-Mancha, o socialista Emiliano García-Page, felicitou-se com a nova “teoria da solidaried­ade hídrica”, que passa por garantir a água para consumo e não para a agricultur­a.

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