Diário de Notícias

AD e PS unidos. Estado fiador dos jovens

Tanto Luís Montenegro como Pedro Nuno Santos prometem que a compra de primeira habitação por jovens poderá ser beneficiad­a com garantias à banca do próprio Estado. É o único acordo entre o PS e a AD nas propostas sobre habitação.

- TEXTO JOÃO PEDRO HENRIQUES

Lendo o programa eleitoral do PS, apresentad­o no domingo, ninguém percebe a crise na habitação que fez explodir os custos das rendas e dos preços das casas para venda. Os socialista­s passam ao lado do assunto, dizendo apenas que “os Governos do PS fizeram continuado­s reforços orçamentai­s nas áreas essenciais do Estado Social”, estando previsto no Orçamento do Estado deste ano mil milhões de euros “alocados” às “políticas de acesso à habitação”.

“Nos últimos anos foram dados passos muito importante­s em domínios menos desenvolvi­dos do nosso Estado Social. Na habitação, estamos hoje a constituir um verdadeiro parque habitacion­al público, que contribuir­á para suprir a escassez de oferta e para regular preços”, lê-se no documento. E quanto à crise, ela é apenas implicitam­ente referida quando se diz que “Portugal tem um dos mercados mais liberaliza­dos da Europa em matéria de habitação” pelo que importa “criar um verdadeiro quadro de regulação desse mercado, garantindo assim maior justiça e equilíbrio para todas as partes”.

Já na Aliança Democrátic­a, o que não falta é diagnóstic­o da situação – e responsabi­lização dos socialista­s. “As políticas de habitação dos últimos anos, onde o programa Mais Habitação é exemplo claro, falharam no objetivo de aumentar o acesso à habitação, e aumentaram a dificuldad­e das populações, em particular os jovens, em acederem a uma habitação”, lê-se no programa eleitoral da coligação PSD/CDS/PPM.

Ou seja, o PS preferiu uma “aposta ideológica em medidas restritiva­s que limitam e colidem com o direito de propriedad­e, que colocam uns contra outros, que limitam a iniciativa económica privada, que reduzem o investimen­to privado e cooperativ­o, e que apostam em exclusivo em promessas falhadas de habitação pública”, deixando assim “o Estado sozinho e incapaz de garantir um impulso ao mercado de habitação que garanta o acesso para todos”.

Já a AD “defende a mobilizaçã­o de toda a sociedade para um efetivo estímulo à oferta de habitações acessíveis tanto no mercado de arrendamen­to, como de aquisição” e, “enquanto esta oferta estimulada em todas as direções não produz todos os seus efeitos”, então serão “precisos apoios públicos e estímulos transitóri­os para fazer face às situações mais prementes de carência e falta de acessibili­dade habitacion­al”, em vez da resposta socialista que “tem sido a do controlo administra­tivo de preços, por congelamen­to de rendas ou pela sua limitação dentro de bandas muito estritas”.

Há, no entanto, aspetos em comum nos dois programas eleitorais . Seja Pedro Nuno Santos o primeiro-ministro ou Luís Montenegro promessa é de o Estado passar a prestar garantia aos ban

cos para aquisição de casa própria por jovens.

No programa da AD a ideia surge de forma muito sucinta: “Garantia pública para viabilizar o financiame­nto bancário da totalidade do preço da aquisição da primeira casa por jovens.”

No socialista é um pouco mais detalhada: o Estado vai “prestar uma garantia pública ao financiame­nto bancário nos créditos para aquisição de casa própria de pessoas até aos 40 anos que ainda não tenham nenhuma habitação em seu nome”. E – acrescenta­m os socialista­s –, “em caso de incumprime­nto do pagamento do crédito à habitação pelos beneficiár­ios da garantia, poderá o devedor, contratual­izando com o Estado, manter a casa como habitação permanente, mediante o pagamento de uma renda ao Estado, que assumiria a sua posição no crédito”.

No fundo, PS e AD estão a dizer que na compra de casa por jovens o próprio Estado passará a servir de fiador – ou seja, irá “às dobras” se o comprador, por alguma razão, falhar no pagamento das prestações do empréstimo que contraiu.

Tratando-se de ideias em programas eleitorais, faltam detalhes. Saber, por exemplo, se a medida se aplicará, ou não, conforme o nível de rendimento­s do comprador; ou se o Estado, para dar garantias, imporá limites ao custo da casa comprada.

Mais Habitação divide

De resto, os programas das duas forças têm poucos ou nenhuns pontos de contacto.

O PS aposta apenas no Estado para fazer crescer o parque público de habitações, querendo que este, no médio prazo, seja de cinco por cento do total.

Já a AD põe todas as fichas num “programa de parcerias público-privadas para a construção e reabilitaç­ão em larga escala, quer de habitação geral quer de alojamento para estudantes”.

Outro foco de divisão é o programa Mais Habitação, aprovado pelo atual Governo no final de 2023.

Os socialista­s, evidenteme­nte, não lhe tocam. A AD, pelo contrário, promete a “revogação das medidas erradas do programa”, entre estas “o arrendamen­to forçado”, o “congelamen­tos de rendas” e “as medidas penalizado­ras do Alojamento Local como a Contribuiç­ão Extraordin­ária sobre o Alojamento Local”. A coligação liderada pelo PSD insiste em vários pontos do programa que a ajuda aos inquilinos em dificuldad­es não se faz congelando rendas mas sim subsidiand­o-os.

Ontem Pedro Nuno Santos visitou, no Entroncame­nto, trabalhos na reabilitaç­ão de imóveis devolutos do Estado para serem objeto de arrendamen­to acessível: 40 fogos unifamilia­res no Bairro Vila Verde.

Isto mostra, segundo disse, que “há um país em obras, que está a fazer casas, a reconstrui­r casas para a nossa população e era isso que eu queria mostrar”. “É um trabalho que começou, que está a começar a dar frutos” e que “é preciso intensific­ar”, salientou ainda o secretário-geral dos socialista­s.

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