O anticiclone dos Açores
Bem sabemos todos que as eleições regionais não devem ter leituras nacionais, muito menos as dos Açores, onde há poucos eleitores e muito dispersos, onde uma ilha com 400 habitantes elege dois deputados, onde conta mais a cara do candidato, a proximidade, do que o partido a que pertence.
Por isso o carteiro do Corvo se tornou deputado. Ele, de facto, conhece todo o seu eleitorado, por força do trabalho que faz.
Sempre prontos a “respeitar as autonomias”, os diretórios nacionais dos partidos acabam sempre por se colar aos resultados, sobretudo quando são bons. Uma vitória é sempre uma vitória, ainda que, no limite, nada tenham feito para ajudar a conquistar.
Mas, desta vez, as eleições nos Açores calharam mesmo a meio de uma pré-campanha eleitoral, misturadas com a queda do Governo da Madeira e a pouco mais de um mês de eleições legislativas.
Os líderes, todos, voaram para as ilhas e alguns por lá ficaram a fazer campanha, apostando tudo na mobilização. Os Açores, afinal, importam. Sem tradição de sondagens, porque são caras, complexas e difíceis de fazer, dada a geografia do território, cada um foi fazendo pela vida.
Chegou domingo. E os resultados dos Açores parecem ter despertado leituras várias. A primeira, é que feitas as contas, a direita ganha e, toda junta, tem mais mandatos. A esquerda não consegue governar, ainda que some todos os esforços.
Isto é o que dizem, mais ou menos, as sondagens das legislativas. Maioria de direita, mas não de um só partido.
Um dos temas que tem andado longe dos debates é a questão da governabilidade. O que vai acontecer quando, contados os votos, alguém tiver de se fazer de morto para que outro alguém consiga governar? Quem vai fazer o papel de abstencionista, que deixa passar programas e orçamentos em nome de um bem maior?
Nos Açores, o PS já disse que não o fará. Na República, provavelmente, acontecerá o mesmo. E, depois de seis anos a encostar o Chega ao PSD, o PS comporta-se como se nada tivesse a ver com o assunto. Mas tem. Tem na forma como insuflou o Chega por razões de luta tática política. E tem porque os descontentes que vão votar em Ventura estão saturados. O PS é Governo há oito anos e foi Governo nos últimos 21 de 28 anos.
Pode sempre, precisando, perguntar a Marcelo por que viabilizou durante quatro anos um Governo minoritário socialista entre 1995 e 1999. De certeza que o Professor terá gosto em explicar que há momentos, na política de um país, em que os líderes partidários devem comportar se como estadistas e não apenas como merceeiros de depósito de votos.
O que vai acontecer quando, contados os votos, alguém tiver de se fazer de morto para que outro alguém consiga governar? Quem vai fazer o papel de abstencionista, que deixa passar programas e orçamentos em nome de um bem maior?”