Diário de Notícias

O anticiclon­e dos Açores

- Pedro Cruz Jornalista

Bem sabemos todos que as eleições regionais não devem ter leituras nacionais, muito menos as dos Açores, onde há poucos eleitores e muito dispersos, onde uma ilha com 400 habitantes elege dois deputados, onde conta mais a cara do candidato, a proximidad­e, do que o partido a que pertence.

Por isso o carteiro do Corvo se tornou deputado. Ele, de facto, conhece todo o seu eleitorado, por força do trabalho que faz.

Sempre prontos a “respeitar as autonomias”, os diretórios nacionais dos partidos acabam sempre por se colar aos resultados, sobretudo quando são bons. Uma vitória é sempre uma vitória, ainda que, no limite, nada tenham feito para ajudar a conquistar.

Mas, desta vez, as eleições nos Açores calharam mesmo a meio de uma pré-campanha eleitoral, misturadas com a queda do Governo da Madeira e a pouco mais de um mês de eleições legislativ­as.

Os líderes, todos, voaram para as ilhas e alguns por lá ficaram a fazer campanha, apostando tudo na mobilizaçã­o. Os Açores, afinal, importam. Sem tradição de sondagens, porque são caras, complexas e difíceis de fazer, dada a geografia do território, cada um foi fazendo pela vida.

Chegou domingo. E os resultados dos Açores parecem ter despertado leituras várias. A primeira, é que feitas as contas, a direita ganha e, toda junta, tem mais mandatos. A esquerda não consegue governar, ainda que some todos os esforços.

Isto é o que dizem, mais ou menos, as sondagens das legislativ­as. Maioria de direita, mas não de um só partido.

Um dos temas que tem andado longe dos debates é a questão da governabil­idade. O que vai acontecer quando, contados os votos, alguém tiver de se fazer de morto para que outro alguém consiga governar? Quem vai fazer o papel de abstencion­ista, que deixa passar programas e orçamentos em nome de um bem maior?

Nos Açores, o PS já disse que não o fará. Na República, provavelme­nte, acontecerá o mesmo. E, depois de seis anos a encostar o Chega ao PSD, o PS comporta-se como se nada tivesse a ver com o assunto. Mas tem. Tem na forma como insuflou o Chega por razões de luta tática política. E tem porque os descontent­es que vão votar em Ventura estão saturados. O PS é Governo há oito anos e foi Governo nos últimos 21 de 28 anos.

Pode sempre, precisando, perguntar a Marcelo por que viabilizou durante quatro anos um Governo minoritári­o socialista entre 1995 e 1999. De certeza que o Professor terá gosto em explicar que há momentos, na política de um país, em que os líderes partidário­s devem comportar se como estadistas e não apenas como merceeiros de depósito de votos.

O que vai acontecer quando, contados os votos, alguém tiver de se fazer de morto para que outro alguém consiga governar? Quem vai fazer o papel de abstencion­ista, que deixa passar programas e orçamentos em nome de um bem maior?”

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