Governo espanhol alega que Feijóo tem “medo” que Puigdemont fale
Líder do PP estudou amnistia e aceitaria indultar o ex-presidente da Generalitat sob certas condições, o que alguns veem como um recuo. Partido arrisca perder eleições na Galiza.
Amenos de uma semana das eleições na Galiza, onde o Partido Popular (PP) arrisca perder a maioria absoluta, a notícia de que o líder Alberto Núñez Feijóo chegou a equacionar uma amnistia aos independentistas catalães e é favorável a um indulto (com condições) ao próprio Carles Puigdemont continua a fazer estragos. Ontem, a porta-voz do governo espanhol, Pilar Alegria, acusou o líder da oposição de ter mudado de opinião por ter “medo” que o dirigente do Junts per Catalunya possa “dizer a verdade” sobre a negociação entre os dois partidos antes da investidura falhada de Feijóo.
No fim de semana, veio a público que o PP estudou durante 24 horas a legalidade da Lei da Amnistia que o Junts pedia em troca do apoio à investidura de Feijóo, antes de a rejeitar por a considerar ilegal. E que o líder do PP estaria aberto, em nome da reconciliação, a indultar Puigdemont, desde que o ex-presidente da Generalitat, autoexilado na Bélgica após o referendo independentista de 2017, se entregasse à Justiça, reconhecesse o arrependimento e se comprometesse em respeitar o Estado de Direito.
A ministra da Educação, Pilar Alegria, deu voz às críticas que se ouvem por toda a esquerda espanhola, acusando Feijóo de fazer oposição “baseada na mentira” e insistiu na ideia de que em causa estão as negociações que existiram antes da sua tentativa de investidura após a vitória (sem maioria suficiente) nas eleições de 9 de junho.
Alegria exigiu “esclarecimentos e transparência” ao principal partido da oposição em relação ao “que pactuou com o Junts”, questionando “que mais está a ocultar o PP. E lembrou uma carta de Puigdemont em que este ameaça falar.
A carta foi publicada a 8 de fevereiro nas redes sociais do ex-presidente da Generalitat, depois de o Parlamento Europeu aprovar uma resolução a instar Espanha a investigar as alegadas ligações da Rússia aos independentistas catalães. A missiva foi escrita com o objetivo de chamar a atenção para a forma como as mais recentes acusações de que é alvo e que rejeita – terrorismo e traição – surgiram em momentos chave e denunciar a ligação do poder judicial ao PP.
A primeira acusação reapareceu no dia em que o Junts ia assinar o acordo de investidura com o PSOE e a segunda quando o Congresso se preparava para votar a Lei da Amnistia (que entretanto ainda está em discussão). “Há uma coisa de que estou completamente convencido. Se o meu partido tivesse permitido a investidura de Feijóo ou tivesse impedido a de Sánchez, todos estes espetáculos teriam sido poupados. E falaremos disso também, quando chegar a hora”, escreveu o independentista.
Silêncio do Junts
Desde o rebentar da polémica, o Junts manteve o silêncio sobre os encontros que existiram entre os seus representantes e os do PP, antes da investidura falhada de Feijóo. “O que tínhamos a dizer sobre os encontros com o PP já o dissemos e se tivermos que acrescentar algo, acrescentaremos”, disse o porta-voz do Junts, Josep Rius.
Já do lado do PP, onde muitos foram apanhados de surpresa, a presidente do governo de Madrid, Isabel Díaz Ayuso, saiu em defesa de Feijóo alegando que não viu nenhuma mudança de posição. “Vi o presidente do PP dizer absolutamente o mesmo: não à amnistia e não aos indultos”, afirmou na Telecinco, explicando que era preciso Puigdemont sentar-se no banco dos réus e ser condenado, o que está longe de acontecer, antes de se pensar num indulto.
Tanto o Junts como os socialistas caem na última sondagem nacional do Centro de Investigações Sociológicas (CIS), numa aparente reação dos eleitores à confusão com a Lei da Amnistia. Se as legislativas fossem hoje, o PP teria 33,2% de intenções de voto (mais 1,1 pontos do que em janeiro) e o PSOE teria 33% (menos um ponto). Mas não há muitos motivos para satisfação do lado do PP, já que a sondagem na Galiza revela que a maioria absoluta – conquistada por Feijóo antes de saltar para a liderança nacional – está em risco, com a subida do Bloco Nacionalista Galego, que poderá conseguir formar governo com o PSOE.
Procurando distanciar-se tanto da questão dos independentistas como da Galiza, onde tem andado em campanha, Feijóo viajou ontem para Barbate (Cádiz), onde na sexta-feira dois guardas civis morreram após serem atropelados por uma lancha de traficantes de droga. O PP exige a demissão do ministro do Interior, Fernando Grande-Marlaska, que critica por nada ter feito na luta contra o tráfico. Este já disse que não se demite.
Amemória do Presidente dos Estados Unidos passou a ser assunto de Estado e fraqueza eleitoral para a reeleição. A idade de Joe Biden tem sido uma preocupação para muitos democratas e um obstáculo aos seus resultados eleitorais. Nos últimos dias, a ansiedade galgou para níveis preocupantes na campanha de reeleição, alavancada pelo relatório de 345 páginas do procurador especial Robert Hur sobre a retenção de documentos confidenciais por Biden, que continha uma série de passagens prejudiciais sobre a alegada “memória defeituosa” do Presidente durante entrevistas com investigadores no outono passado. O documento descreve Biden como “um homem idoso e bem-intencionado com memória fraca”.
Os investigadores não encontraram provas suficientes para acusar Biden de manipulação indevida de documentos confidenciais durante o seu período como vice-presidente (2009-2017, nos dois mandatos presidenciais de Barack Obama), mas escreveram que a sua memória “parecia ter limitações significativas” e que “não se lembrava de quando o seu filho Beau morreu” em 2015.
Biden, de acordo com o relatório, não conseguia recordar-se de quando foi vice-presidente ou dos detalhes de um debate sobre o envio de tropas adicionais ao Afeganistão (ele foi contra, Obama decidiu ao lado dos generais no terreno pelo reforço).
Joe Biden ficou furioso com o pormenor do relatório que apontava que nem sequer se lembrava de quando o filho morreu: “Como é que eles se atrevem?”
Descontado este detalhe mais pessoal, os estilhaços políticos do relatório são evidentes. Mitch Landrieu, um dos principais responsáveis da campanha presidencial de Joe Biden, apelidou a ideia de que Biden não é capaz de cumprir as funções de Presidente como “um balde de porcaria que é tão profundo que suas botas vão ficar presas nele”. As declarações de Hur foram comparadas com a decisão do diretor do FBI, James Comey, em julho de 2016, de atacar a forma como a candidata democrata, Hillary Clinton, lidou com material confidencial. Em ambos os casos, os críticos rotularam os comentários como golpes baixos, politicamente motivados. “Com base na lei e nos factos, que é o que os advogados e conselheiros especiais devem considerar, a conclusão foi que o presidente não se envolveu em nenhum delito, ponto final, fim da história”, disse Landrieu, em entrevista na NBC.
Robert Hur é um procurador do Maryland nomeado por Donald Trump, que o procurador-geral da Administração Biden, Merrick Garland, indicou para supervisionar o caso dos documentos de Biden.
Sim, claro que vai contar na eleição
Podemos considerar que a idade de Biden é algo que até agora não o impediu de ser um bom Presidente. É exatamente isso que acho, aliás: apesar dos 81 anos não o ajudarem, a verdade é que até agora não o impediram de fazer um mandato com muitos triunfos e boas decisões, a par de um desempenho económico francamente impressionante.
O problema não está no que já foi até agora. O problema está na projeção do que ainda estará para vir. E, quanto a isso, também não vale a pena tentar provar que a questão não existe. Claro que existe.
A esmagadora maioria dos americanos acha que Biden é velho demais para um novo mandato. Sondagem ABC News/Ipsos (9/10 fevereiro), aponta que 86 por cento dos norte-americanos decreta essa sentença sobre o atual Presidente dos EUA: “demasiado velho para um novo mandato”.
Mas atenção: um número também amplamente maioritário (mas não tão esmagador) acha o mesmo de Trump (59 por cento). Donald já vai com 77 anos.
O que deve (ou pode) Biden fazer?
E então? O que pode Joe Biden fazer perante problema tão objetivo como a sua data de nascimento (o longínquo dia de 20 de novembro de 1942)?
Matt Bennett, vice-presidente executivo da Third Way, aponta: “O presidente não pode continuar a tratar as questões sobre a sua idade como se fossem um disparate fabricado pelos seus adversários ou um ataque injusto. Alguns usam-no dessa forma, mas muitos eleitores têm dúvidas legítimas sobre a sua capacidade de desempenhar o cargo acima dos 80 anos. Quando a Casa Branca enfrentou ventos contrários noutras questões, como a imigração, adotou uma nova estratégia. Eles deveriam fazê-lo aqui, abordando a questão da idade de maneira direta e contextualizada. Para Trump, a idade trouxe confusão, caos e raiva. E aprofundou a sua preferência por se rodear de bajuladores antiéticos e inexperientes. Porque, para Trump, a fidelidade pessoal e o compromisso com a sua visão destrutiva para a América são tudo o que importa. Devem pôr Biden a reagir assim: ‘aprendi muito nas minhas décadas de serviço público e isso fez de mim um presidente melhor; Trump não aprendeu nada e a sua recusa em mudar faria dele a pior pessoa que poderíamos escolher para liderar este país.”
“Antes velho e estável que velho e louco!”
Na mesma linha, e de forma ainda mais assertiva, Maria Cardona, experiente estratega do Partido Democrata, atira: “A campanha de Biden deveria (e acredito que o fará) continuar a deixar Biden ser Biden – com gafes e tudo. A sua empatia, autenticidade e humanidade são os seus superpoderes. Esta eleição é uma escolha. E não há comparação entre qual candidato está pronto para continuar e já serviu o povo americano com sucesso, feroz e empenhadamente e quer terminar o trabalho de expandir a nossa recuperação económica, proteger os nossos direitos e liberdades e fortalecer a nossa democracia – e um candidato que quer terminar a tarefa de destruir a nossa democracia e lutar apenas por si mesmo. Sim, Biden é velho, mas Donald Trump também. Prefiro ser velho e estável do que velho e louco!”
A grande ironia: Biden está a recuperar
Depois de várias semanas com Trump alguns pontos à frente, Joe Biden conseguiu recuperar nas últimas duas semanas e está tecnicamente empatado com o mais que provável nomeado republicano. Nas últimas sete sondagens nacionais, Biden aparece à frente em duas, Trump em três, empate noutras duas; mesmo nos estados decisivos, Trump reduziu a vantagem. Por exemplo, no Wisconsin, um dos estados do Midwest onde Trump bateu Hillary em 2016 e Biden ganhou a Donald em 2020, Trump estava cinco pontos à frente há dois meses: agora estão empatados (47-47).
Os primeiros testes do lado democrata confirmam que Biden não tem concorrência real nos democratas, mas isso não está a comprometer a mobilização em torno da sua nomeação: tanto nas percentagens como no número de votos, Joe tem desempenhado acima do que se esperava. No New Hampshire, mesmo sem estar nos boletins, 65% escreveram o nome dele à parte (nada mau para quem tem fama de ser pouco entusiasmante...). No Nevada, 89%; na Carolina do Sul, 97%.
Os bons desempenhos de Biden reduzem espaço a ideia de alguns setores democratas de ainda travarem a recandidatura do Presidente.
Que ironia.