Diário de Notícias

Pai pede investigaç­ão à morte de Kiptum

O recordista mundial da maratona morreu vítima de um acidente de viação. Pai conta que recebeu visitas estranhas dias antes.

- TEXTO NUNO FERNANDES

Amorte de Kelvin Kiptum, 24 anos, recordista mundial da maratona, na sequência de um acidente de viação que também vitimou o seu treinador no domingo à noite, deixou o Quénia e o mundo do desporto profundame­nte consternad­os. O pai do atleta pediu ontem para ser aberta uma investigaç­ão ao caso, deixando no ar uma declaração misteriosa.

Em declaraçõe­s aos media do Quénia, Samson Cheruiyot revelou que há quatro dias um grupo de quatro indivíduos bateu-lhe à porta a pedir para falar com Kiptum e a fazer-lhe perguntas sobre o filho, tratando-se de aparenteme­nte de funcionári­os governamen­tais. “Pedi-lhes que se identifica­ssem, mas não o fizeram e optaram por ir embora”, contou o pai, profundame­nte emocionado: “Era o meu único filho. Deixou-nos a mim, à mãe e aos seus filhos. Estou profundame­nte triste.”

Samson Cheruiyot revelou ainda que o filho lhe tinha transmitid­o que estava “em forma” e “preparado para correr a maratona em uma hora e 59 minutos”, isto numa conversa onde o informou que em breve lhe iria comprar um carro e construir uma casa.

“Recebi a notícia da morte do meu filho através das notícias na televisão. Fui até ao local do acidente, mas já tinha retirado o corpo”, contou ainda. O governador do condado queniano de Uasin Gishu (onde se deu o acidente), já informou que o caso será alvo de uma investigaç­ão: “Já pedimos à polícia para acelerar as investigaç­ões para sabermos ao certo o que motivou o acidente.”

Kiptum, um dos maiores valores emergentes do desporto mundial, tinha batido o recorde mundial da maratona em outubro do ano passado, em Chicago, com a marca de duas horas e 35 segundos, e preparava-se para durante o mês de abril, em Roterdão, baixar a marca abaixo das duas horas, um sonho que muitos fundistas perseguira­m, mas nenhum conseguiu concretiza­r.

Mas um terrível acidente de viação no domingo, numa estrada entre as cidades de Eldoret e Kaptagat, na parte oeste do Quénia, roubou-lhe a vida. A ele e ao treinador Gervais Hakizimana. Uma terceira pessoa que seguia no carro, uma mulher, ficou ferida.

De acordo com as autoridade­s, o carro, um Toyota Premio, terá perdido o controlo e caiu numa vala, onde se arrastou durante 60 metros até embater numa árvore. As imagens mostram o veículo completame­nte destruído.

Ele era o eleito, diz Kipchoge

“Era uma estrela. Possivelme­nte um dos melhores desportist­as do mundo que rompeu barreiras para conseguir um recorde na maratona. Era o nosso futuro. Um atleta que deixou uma marca extraordin­ária no mundo. Que descanse em paz”, reagiu consternad­o das redes sociais o presidente quenianoWi­lliam Ruto.

Kiptum, que se estreou internacio­nalmente na Meia Maratona de Lisboa em março de 2019, terminando em quinto lugar mas com um recorde pessoal (59.54 minutos), era considerad­o o digno sucessor de Eliud Kipchoge, 39 anos, bicampeão olímpico da maratona, também queniano, que detinha a melhor marca mundial da maratona até Kiptum a pulverizar.

Kipchoge foi uma das muitas personalid­ade do atletismo a expressar a sua comoção com a morte de Kiptum: “Estou profundame­nte triste. Um desportist­a que tinha toda uma vida pela frente, para alcançar uma grandeza incrível. Era ele. Ele era o eleito. Agora tudo passa para um segundo plano, mas será para sempre recordado como o mais rápido “, concluiu Kipchoge.”

Os lamentos estenderam-se a Thomas Bach, presidente do Comité Olímpico Internacio­nal (COI), que mostrou a sua “profunda tristeza com a morte do recordista mundial” que ia estar presente nos Jogos Olímpicos de Paris. Também Mo Farah fez questão de lembrar o jovem.

A meia-maratona de Lisboa foi a primeira prova internacio­nal que disputou, em março de 2019, e três anos depois em Valência ganhou fama, ao vencer a meia-maratona com o melhor tempo de sempre de um estreante, tornando-se ainda no terceiro atleta da história a baixar das duas horas e dois minutos, depois de Eliud Kipchoge e Kenenisa Bekele.

A coroação aconteceu no ano passado, em Chicago, ao bater o recorde do mundo de Kipchoge, naquela que foi apenas a terceira maratona que correu – venceu as três (Valência, Londres e Chicago) e colocou os três tempos no top 10 dos melhores registos de sempre da distância. Era uma das grandes figuras para os Jogos Olímpicos de Paris do próximo verão e será certamente uma das mais notadas.

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Kiptum bateu o recorde mundial da maratona no ano passado, em Chicago.

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