“Mortos ao serviço da Pátria” ou só “falecidos”
Onoticiário sobre a guerra do “Ultramar” parece estar a ganhar espaço nas páginas do DN. Quer dizer: ganha espaço a propaganda oficial do regime. A situação no terreno agrava-se, sobretudo na Guiné – onde o PAIGC já tinha declarado unilateralmente a independência – e, à medida que se agrava, o Governo defende-se de forma cada vez mais vocal, usando a imprensa.
Hoje, há 50 anos, na edição do DN publicada em 14 de fevereiro de 1974, merece grande destaque na primeira página a notícia da visita de uma delegação do PAIGC à Holanda. A partir da cidade da Haia, o redator do DN Händel de Oliveira diz tudo logo na primeira frase do texto (para já não falar no título e pós-título): “Não terminou apenas em malogro, mas sim em descrédito total para o PAIGC – Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde – a visita que uma delegação daquele movimento efetuou agora à Holanda.”
Uma verdade, segundo garantiu, que resultava da análise das reações da imprensa holandesa a essa visita: por um lado, a de “menosprezar ou ignorar, pura e simplesmente”, a incursão do movimento independentista; por outro, a de “publicar, com grande relevo, a notícia de mais uma grande vitória portuguesa na Guiné – a captura de Braíma Mané, um dos mais importantes chefes políticos” do PAIGC.
O noticiário desenvolve-se depois noutras páginas. São listados nomes de militares portugueses que perderam a vida no “Ultramar”. Mas isso é feito estabelecendo-se uma diferença entre os simplesmente “falecidos” (escondidos num cantinho ínfimo da página 11) e os “mortos ao serviço da Pátria” (quase ao centro, na mais digna página 2).
Os “falecidos” são os que morreram em supostos “acidentes” ou “desastres”. Nesta edição do DN, foram três: dois na Guiné (um por “desastre da aviação” e outro por “acidente com arma de fogo”) e um em Angola (“acidente de viação”).
Já os “mortos ao serviço da Pátria” são os que “morreram em combate”, segundo reportava o Serviço de Informação Pública das Forças Armadas. Foram seis (três na Guiné e três em Moçambique).
Nove mortes ao todo, sendo oito soldados (posto mais baixo na hierarquia militar) e um furriel miliciano (primeiro posto na classe dos sargentos).