Diário de Notícias

Nunca esqueci a classe de Manuel Sá Correia, obstetra em Viseu que estava em Lisboa como assessor para a Saúde Materna do ministério. Insistia que proteger mães e crianças era uma prioridade absoluta.”

- Ex-diretor-geral da Saúde franciscog­eorge@icloud.com

Sobre as eleições, já escrevi que, para mim, as medidas preconizad­as para o Serviço Nacional de Saúde (SNS) nos programas eleitorais são determinan­tes na opção do voto.

Considero que todas as pessoas residentes em Portugal deverão ter direito a cuidados de saúde de qualidade, sem nenhuma discrimina­ção.

O SNS é financiado pelo Estado, isto é, por verbas oriundas da coleta de impostos que todos pagamos. Este ano, pela primeira vez, as despesas do Orçamento com a Saúde ultrapassa­m 15 mil milhões de euros.

Curiosamen­te, quando analiso propostas associadas ao SNS, revivo o tempo da sua criação em 1979. Sinto prazer em recordar os dias antes da aprovação da lei pelo entusiasmo contagiant­e vivido por muitos de nós. Na altura, eu era um jovem médico, delegado de saúde no pequeno concelho de Cuba, perto de Beja.

Em 1978, Mário Soares formara o II Governo Constituci­onal que durou apenas 7 meses. Apesar do curto período, houve energia para lançar as ideias principais que iriam ser a base da lei aprovada no ano seguinte. O ministro da Saúde, António Arnaut, visitou o Baixo Alentejo para ensaiar os seus projetos de integração das unidades que estavam até então dispersas em pequenas “capelas”: o Hospital Concelhio da Misericórd­ia, a assistênci­a aos tuberculos­os (IANT), o centro de saúde, os serviços da Caixa de Previdênci­a e da Casa do Povo... Essa dispersão, não só física, como também funcional, marcada pela multiplici­dade de chefias, representa­va um sério obstáculo à nova organizaçã­o dos cuidados de Saúde. A mudança era difícil. Mas, a coragem e determinaç­ão de Arnaut eram geradoras de inspiração e ânimo.

Uma vez fui ao Gabinete do Ministro, tendo sido recebido por um médico que deu importante­s contributo­s à Reforma que se aproximava. Nunca esqueci a classe de Manuel Sá Correia, obstetra em Viseu que estava em Lisboa como assessor para a Saúde Materna do ministério. Insistia que proteger mães e crianças era uma prioridade absoluta. Estratégia que foi cumprida com sucesso.

No plano político, Arnaut terminou o seu mandato de ministro em consequênc­ia da queda do II Governo. Porém, como deputado, continuou a batalhar pela construção do Serviço Nacional de Saúde que conseguiri­a aprovar na Assembleia da República, no dia 28 de junho de 1979, tendo, simbolicam­ente, presidido à sessão, uma vez que era vice-presidente da Assembleia.

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