Avanços nas negociações e mais advertências da ONU
No Cairo discute-se uma trégua de seis semanas, enquanto se multiplicam avisos sobre as consequências da ação militar israelita. Na capital egípcia estão os diretores da Mossad, do Shin Bet e da CIA, mediadores do anterior acordo que permitiu a libertação
Resultado do bombardeamento israelita ao campo de refugiados de Al Bureije, no sul de Gaza.
Depois de no mês passado delegações dos Estados Unidos, Qatar, Egito e Israel terem discutido a hipótese de um novo acordo entre Telavive e o Hamas, desta vez mais prolongado no tempo, os mesmos intervenientes estão reunidos no Cairo, onde um funcionário egípcio disse terem sido alcançados progressos “relativamente significativos”. Em paralelo, aumenta a pressão internacional para que o governo de Netanyahu não avance com uma invasão terrestre em Rafah, onde está concentrada grande parte da população da Faixa de Gaza.
Na capital do Egito, onde na semana passada esteve uma delegação do Hamas em conversações com os mediadores, há esperança em alcançar um acordo, depois de avanços nas negociações que envolvem os chefes dos serviços de informações dos EUA, William Burns, e de Israel, David Barnea, além do diretor do serviço de segurança Shin Bet, Ronen Bar. Os diretores da CIA e da Mossad estiveram presentes na mediação do anterior acordo que permitiu a libertação de reféns em troca de “pausas humanitárias” e de prisioneiros palestinianos.
Ao que disse a fonte egípcia, citada pela Associated Press, pretende-se elaborar uma “versão final” de um acordo de trégua de seis semanas, com garantias de que as partes prosseguirão as negociações com vista a um cessar-fogo permanente. A pôr água na fervura, um diplomata ocidental ouvido também no Cairo confirmou que um acordo de seis semanas estava a ser negociado, mas advertiu que ainda é necessário mais trabalho para chegar a um entendimento.
É conhecido que Israel propôs uma trégua de dois meses, durante a qual os mais de cem reféns seriam libertados em troca de detidos palestinianos. Além disso, os principais dirigentes do Hamas em Gaza seriam autorizados a mudar-se para outros países. A oferta foi rejeitada pelo grupo islamista, que contrapôs um plano de três fases, de 45 dias cada, em que os reféns e palestinianos seriam libertados por etapas, e a guerra terminaria com a retirada das tropas de Israel. Telavive por sua vez rejeitou esta proposta, uma vez que pretende eliminar o Hamas antes de terminar a guerra.
Enquanto isso, na ONU, Martin Griffiths, chefe dos assuntos humanitários, voltou a manifestar-se consternado com o anunciado ataque israelita a Rafah, onde mais de metade da população de Gaza poderá correr o risco de ser “massacrada” se a campanha for autorizada a prosseguir. “O cenário que há muito tememos está a desenhar-se a uma velocidade alarmante”, afirmou num comunicado. “As operações militares em Rafah podem levar a um massacre em Gaza. Podem também deixar uma operação humanitária já frágil às portas da morte.” Também o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertou para o facto de que quatro em cada cinco das pessoas mais famintas do mundo estão em Gaza.
Também a África do Sul, autora de uma queixa de genocídio contra Israel no Tribunal Internacional de Justiça, disse ter apresentado um “pedido urgente” ao tribunal de Haia para que este considere se as operações militares de Telavive em Rafah constituem uma violação das ordens provisórias emitidas pelos juízes no mês passado para que Israel proteja os civis.
Oex-presidente do Brasil Jair Bolsonaro apelou aos apoiantes para participarem numa “manifestação pacífica” a 25 de fevereiro em São Paulo, para se defender das acusações de golpe de Estado de que é alvo.
“No último domingo de fevereiro, dia 25, às 15:00 [18:00 em Lisboa], estarei na [avenida] Paulista, realizando um ato pacífico em defesa do nosso Estado Democrático de Direito”, disse numa mensagem de vídeo publicada na segunda-feira à noite nas redes sociais. “Nesse evento, eu quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses”, continuou.
Na quinta-feira, Bolsonaro foi alvo de uma operação policial no âmbito de uma investigação sobre o alegado papel desempenhado no golpe de Estado. No mesmo dia, foi proibido de sair de território brasileiro, tendo entregado o passaporte.
O também ex-capitão do exército, com direitos políticos anulados até 2030 por abuso de poder, tem sido alvo de numerosas investigações desde que deixou o cargo há 13 meses.
Os investigadores disseram acreditar que o alegado golpe de Estado foi encenado muito antes de 8 de janeiro de 2023, quando milhares de apoiantes de Bolsonaro invadiram as sedes do poder em Brasília, descontentes com a vitória de Lula da Silva.