Ana Maia Ferreira “Não temos aumento de incidência em relação ao resto da Europa”
A coordenadora do Registo Oncológico Pediátrico garante que o número de casos é semelhante aos países do sul do continente.
Em outubro passado levantaram-se algumas críticas a propósito do registo oncológico pediátrico, que estava atrasado e com falta de recursos. Como é que estamos neste momento?
Não se pode dizer que esteja atrasado. Saíram os dados de 2020. O registo não é feito para nós sabermos quantos doentes foram diagnosticados no anterior. Além do diagnóstico é preciso depois fazer a codificação dos casos , enquadrá-los nos grandes grupos de patologias. O que acontece é que não havia profissionais dirigidos a este tipo de ocupação em todos os centros. Mas esse problema ficou resolvido recentemente. Portanto contamos que seja feito sem termos que recorrer às horas extra dos médicos. E isso vai permitir fazermos um trabalho mais concertado entre os vários centros, até porque as pessoas que fazem o registo têm também uma linguagem própria, e é importante falarmos todos a mesma linguagem.
O que é que dizem os últimos registos em matéria de oncologia pediátrica? Comparando com 2019, o número de casos registados é um pouco superior – isto reportando às crianças até aos 15 anos. Em 2019 foram 211, em 2020 o número é de 252. Mas não sabemos se isto corresponde a um aumento de incidência. Há esse resultado, mas é preciso termos a certeza de que os meninos de 2019 foram todos registados. Mesmo dos números do IPO (que são os que tenho mais rigorosos), esse também foi um ano com menor número de doentes. Em 2023 tivemos 82 doentes novos, e tínhamos tido 84 em 2022. A ideia que existe em termos da estatística europeia é que o número de doentes novos é mais ou menos estável.
Há pelo menos um estudo de uma organização europeia que coloca Portugal no topo dos países com maior incidência de cancro pediátrico. Existe alguma explicação para isso? Não, isso não é real. Comparando com outros países, Portugal tem uma incidência (quer em números quer de tipo de patologias) semelhante aos países do sul da Europa, e difere dos países do norte. Mas não temos um aumento em relação ao resto da Europa.
No que respeita à investigação e tratamento, como é que considera que estamos?
Tem havido um esforço de todos os centros de atuarem em conjunto e de se envolverem em projetos comuns. A evolução em termos de resultados (que é o que interessa às crianças e aos pais) é um pouco mais lenta. Se compararmos a última década com a anterior, tem havido evolução de novos tratamentos, que estão a chegar a Portugal ou aos quais acedemos através de planos de mobilidade. E não me parece que as crianças portuguesas estejam a ser prejudicadas. De resto, os centros têm participado em alguns projetos de investigação a nível europeu. E na maior parte dos centros começa a haver investigação. Acho que estamos no bom caminho.