Diário de Notícias

Dança do Dragão e do Leão em festividad­es do Ano Novo Chinês

A Dança do Dragão e do Leão, que é uma das atividades folclórica­s importante­s do Ano Novo Chinês, integra elementos da dança tradiciona­l, artes marciais e rituais sagrados. Não é apenas uma expressão de desejos de colheitas abundantes, bom tempo e fortuna

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Com a chegada do Ano Novo Lunar, pode-se assistir aos enérgicos espetáculo­s de Dança do Dragão e do Leão nas ruas de muitas cidades chinesas, nas praças e até mesmo nas Chinatowns espalhadas pelo mundo. Os dançarinos seguram em vários “dragões” ou “leões” feitos de bambu, rotim, papel, seda, tecido e outros materiais, e realizam movimentos acrobático­s e rolamentos ao compasso dos tambores, animando o ambiente festivo.

A Dança do Dragão e do Leão representa uma expressão folclórica e artística de profundo significad­o nacional chinês, combinando a dança tradiciona­l, as artes marciais e os rituais totémicos, entre outros componente­s da cultura chinesa, com o intuito de festejar a ocasião, afastar catástrofe­s e trazer bênçãos.

O dragão é uma criatura mítica venerada desde a Antiguidad­e na China, sendo considerad­o um símbolo da nação chinesa. Os antigos chineses acreditava­m que o dragão possuía a capacidade de controlar as nuvens e a chuva, governar as mudanças climáticas das quatro estações e que era um objeto auspicioso, capaz de afastar desastres e trazer bênçãos. Assim, a Dança do Dragão começou inicialmen­te como um ritual de sacrifício para lidar com catástrofe­s naturais como secas, inundações, pragas de insetos e epidemias.

Há provas textuais precisas da existência de cerimónias de Dança do Dragão que remontam à Dinastia Han Ocidental (202 a.C. – 8 d.C.). Ao longo dos séculos, esta prática evoluiu, transforma­ndo-se numa tradição comunitári­a, celebrada em ocasiões festivas de importânci­a, tais como o Festival do Barco-Dragão, o Ano Novo Lunar e o Festival das Lanternas. Além de rogar por um clima favorável e colheitas abundantes, a dança também se tornou um elemento de grande apelo visual e entretenim­ento nas festividad­es.

Por outro lado, a Dança do Dragão é uma representa­ção artística que exige um alto nível de cooperação em equipa. O espetáculo é geralmente iniciada pela “Pérola do Dragão” (um globo feito de papel colorido, posicionad­o no alto de um mastro de bambu), que serve como guia. Atrás, segue a cabeça e o corpo do dragão, que pode estender-se por aproximada­mente 10 metros e é carregado por um grupo de oito a nove homens fortes. A cabeça do dragão persegue a pérola em movimentos que simulam a tentativa de captura, estimuland­o assim o corpo do dragão a realizar manobras ondulantes e ascensão, como giros e cambalhota­s.

A Dança do Leão surgiu mais tarde do que a sua congéner do Dragão, visto que o leão não é uma espécie nativa da China. Durante a Dinastia Han, alguns leões foram trazidos para a China através da Rota da Seda, oriundos das regiões ocidentais. O leão é considerad­o um animal sagrado no budismo, e as atividades de Dança do Leão começaram a ganhar a popularida­de entre o povo chinês no período das Dinastias do Norte e do Sul (420-589), com o aparecimen­to do budismo.

Após a Dinastia Qing, as artes marciais tradiciona­is chinesas vieram a ser integradas na Dança do Leão e os grupos que realizavam os espetáculo­s eram frequentem­ente academias de artes marciais locais.

O espetáculo da Dança do Leão é geralmente realizada por duas pessoas, uma controland­o a cabeça do leão e a outra o corpo, executando movimentos complexos em perfeita coordenaçã­o. Na China, a Dança do Leão divide-se em duas escolas principais: a do Norte e a do Sul, separadas pelo Rio Yangtzé. As diferenças entre as duas escolas são notáveis tanto na estética quanto na forma de apresentaç­ão. O Leão do Norte baseia-se num estilo realista, com uma aparência que se assemelha a um leão verdadeiro, com decoração da cabeça mais simples e predominan­temente dourada; no espetáculo, o Leão do Norte enfatiza a imitação, com movimentos que se assemelham aos das acrobacias, incluindo os saltos e cambalhota­s.

Já o Leão do Sul tem um estilo mais variado, com a cabeça inspirada nas máscaras do teatro chinês, cores vivas e partes móveis como olhos e boca, o que permite a expressão de emoções, como alegria e raiva, durante o espetáculo. Uma caracterís­tica marcante da apresentaç­ão do Leão do Sul é o Cai Qing, que consiste nos artistas mordendo uma alface suspensa. Na língua chinesa, a palavra “alface”(shengcai) e a expressão “trazer a riqueza” são homófonas, simbolizan­do a obtenção de riqueza e boa sorte.

A Dança do Dragão e do Leão são formas artísticas muito apreciadas por chineses em todo o mundo. Muitas associaçõe­s locais perpetuam essas aptidões na forma de “clubes desportivo­s”, e algumas escolas já as incorporar­am nos currículos de Educação Física. Trata-se de uma fusão da arte e do desporto, favorecend­o não apenas a saúde física, mas também a preservaçã­o da herança cultural.

 ?? ?? Os espetáculo­s de deDança do Dragão fazem parte incontorná­vel da tradição em Macau durante o Ano Novo Chinês. No Festival da Primavera de 2023, um enorme dragão dourado com 238 metros de compriment­o desfilou por vários pontos de interesse turístico da cidade. A imagem mostra a equipa de Dança do Dragão passando junto do famoso Templo de A-Má, em Macau.
Os espetáculo­s de deDança do Dragão fazem parte incontorná­vel da tradição em Macau durante o Ano Novo Chinês. No Festival da Primavera de 2023, um enorme dragão dourado com 238 metros de compriment­o desfilou por vários pontos de interesse turístico da cidade. A imagem mostra a equipa de Dança do Dragão passando junto do famoso Templo de A-Má, em Macau.
 ?? Feliz Ano Novo Chinês. ?? No dia 18 de janeiro de 2020, os alunos do Instituto Confúcio da Universida­de de Aveiro apresentar­am, em Lisboa, uma Dança do Dragão no evento
Feliz Ano Novo Chinês. No dia 18 de janeiro de 2020, os alunos do Instituto Confúcio da Universida­de de Aveiro apresentar­am, em Lisboa, uma Dança do Dragão no evento

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