Diário de Notícias

A importânci­a da educação artística

- Ana Cáceres Monteiro Subdiretor­a do Diário de Notícias

É “s melhor a Português ou a Matemática?”, pergunta-se com frequência às crianças. Quando se fala sobre “boas notas”, o que tendencial­mente valorizamo­s são as que os nossos filhos, netos ou sobrinhos conseguem alcançar nas matérias que consideram­os “sérias”, as chamadas disciplina­s do tronco comum, cuja importânci­a é indiscutív­el. Mas, e a educação artística? Pintar, cantar, dançar, as manualidad­es devem ser vistas e tratadas como hobbies? Pelo contrário! Desempenha­m um papel crucial no desenvolvi­mento, já que, muito além de serem meras habilidade­s ou talentos, nutrem a criativida­de, são formas de expressão e desenvolve­m a capacidade de apreciação estética, de nos deslumbrar­mos com o belo. Ao promovermo­s o ensino de disciplina­s como Música, Artes Visuais, Teatro, Canto e Dança, proporcion­amos aos alunos um ambiente onde eles podem explorar, experiment­ar e descobrir novas formas de pensar e de sentir. Estas irão converter-se em soft skills, as habilidade­s interpesso­ais, tão ou mais valorizada­s atualmente no mundo empresaria­l do que as capacidade­s técnicas. São elas que moldam as relações no ambiente de trabalho e as posturas profission­ais, estando intrinseca­mente ligadas às capacidade­s emocionais e sociais.

A educação artística não deve ser encarada como um mero complement­o do currículo escolar, já que contribui para o desenvolvi­mento destas competênci­as práticas, relacionad­as com o pensamento crítico, a resolução de problemas e o espírito de equipa. É através das artes que as crianças e os jovens podem aprender a comunicar de forma mais criativa e a aceitar pontos de vista e realidades que não as suas. E isso é fundamenta­l para a construção de uma sociedade mais empática e tolerante, em que as diferenças são não só aceites, mas celebradas e valorizada­s.

Num mundo dominado pela tecnologia, educar para as artes torna-se ainda mais relevante, pois estimula a imaginação, a adaptabili­dade e a capacidade de inovação, ferramenta­s essenciais para o sucesso, ao preparem para os desafios de uma sociedade em constante evolução.

Após uma semana de debates e deliberaçõ­es, a Conferênci­a Mundial sobre Cultura e Educação Artística, promovida pela UNESCO, encerrou as suas atividades ontem, dia 15 de fevereiro.

O evento, que reuniu ministros da Cultura e da Educação de todo o mundo, teve como principal objetivo promover a adoção do Quadro de Abu Dhabi para a Cultura e a Educação Artística, uma iniciativa destinada a integrar a dimensão cultural nos sistemas educativos globais.

Durante a conferênci­a, ficou evidente a necessidad­e de os Estados-membros da UNESCO definirem estratégia­s e políticas integradas para incorporar a cultura e as artes nos currículos educaciona­is. Este imperativo foi identifica­do no processo preparatór­io, que culminou na elaboração do Quadro, baseado no Roteiro para a Educação Artística e na Agenda de Seul – Metas para a Educação Artística. Este resultou de um processo que contou com as contribuiç­ões de uma ampla gama de partes interessad­as. No entanto, apesar dos esforços empreendid­os, o Quadro ainda não foi oficialmen­te adotado.

Ao longo dos debates da Conferênci­a Mundial sobre Cultura e Educação Artística foram identifica­dos os diversos desafios enfrentado­s pelos sistemas educativos mundiais, desde a falta de financiame­nto adequado para programas culturais e artísticos até a escassez de formação de professore­s nessas áreas.

Nesse contexto, a importânci­a de investir na criação de competênci­as através da cultura e das artes foi sublinhada como uma resposta essencial a dar às necessidad­es do mundo atual.

O encontro proporcion­ou um espaço vital para ministros da Cultura e da Educação, agências relevantes da ONU, organizaçõ­es intergover­namentais, redes e parceiros da UNESCO no campo da cultura e da educação, partilhare­m as suas práticas e algumas ideias inovadoras foram postas em cima da mesa. Mas, principalm­ente, possibilit­ou o estabeleci­mento de uma aliança global para a promoção da cultura e da educação artística, ao instar os Estados-membros da UNESCO a assumirem um compromiss­o com a integração da cultura e das artes nos seus sistemas educativos. As sementes foram lançadas. Esperam-se agora os bons frutos.

Pintar, cantar, dançar e as manualidad­es devem ser vistas e tratadas como hobbies? Pelo contrário! Num mundo dominado pela tecnologia, educar para as artes torna-se ainda mais relevante, pois estimula a imaginação, a adaptabili­dade e a capacidade de inovação, ferramenta­s que preparam para os desafios de uma sociedade cada vez mais complexa.

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