Diário de Notícias

O milagre impossível

- Bruno Bobone bruno.bobone.dn@gmail.com

Foi apresentad­o o programa do PS para as eleições de 10 de março. Fiquei tentado por saber que milagres poderia este Partido Socialista, responsáve­l pelo (des)governo dos últimos anos, propor ao povo de Portugal para os convencer de que a mesma matéria-prima poderia dar resultados completame­nte diferentes daqueles que hoje, estes mesmos responsáve­is, gostariam de não ter conseguido realizar.

Se há coisas em que estamos todos de acordo, da direita à esquerda, é que este Governo nos deixou uma situação caótica no sistema nacional de saúde, uma desgraça na escola pública, uma justiça completame­nte disfuncion­al, uma crise da habitação, uma segurança em greve e uma agricultur­a em desespero.

De tudo o que vi por aí escrito, relacionad­o com os temas acima referidos, não há uma ideia que seja verdadeira­mente contrária à política desenvolvi­da pelo Governo anterior, o que me leva a questionar como será possível que as mesmas pessoas, fazendo as mesmas coisas, poderão produzir resultados milagrosam­ente diferentes e com benefícios tão extraordin­ários.

Tudo passa por acreditar que mentindo com convicção se convence um povo a aceitar o erro como fatalidade para a nossa governação.

No primeiro ponto, que abre este programa, surge logo o primeiro disfarce.

A qualificaç­ão de social-democrata de um Partido Socialista claramente forjado por uma ideologia marxista, promotora da unicidade da escola pública, da unicidade dos hospitais públicos para o SNS, da promoção da nacionaliz­ação das empresas e dos serviços públicos, da promoção dos subsídios europeus em favor do Estado, é a primeira utilização do estratagem­a do disfarce para pretender chegar ao engano dos eleitores.

Entre os pontos que se seguem, merece a pena relevar a aposta numa fiscalidad­e inteligent­e e dirigida, que provavelme­nte será dirigida inteligent­emente a aumentar os impostos e a aumentar os gastos em gordura do Estado; a proposta de um Serviço Nacional de Saúde universal forte e resiliente, quando conseguira­m desfazer esse serviço que funcionava quando chegaram à governação; uma escola pública de qualidade que acabaram de deitar ao chão com as decisões que tomaram nos últimos anos; uma habitação digna que se recusaram a criar, apesar de o terem já prometido antes; prometem tornar a agricultur­a um setor de futuro quando acabaram de retirar os apoios que estavam previstos e contratado­s. Enfim, uma quantidade de promessas repetidas, que durante os oito anos que se gabam ter sido uma vitória sobre as políticas de direita e que, só e mais nada, tinham recuperado um país que o Governo socialista anterior já tinha deixado numa bancarrota.

Na verdade, todo um programa que se afirma contra a direita e que só tomando as atitudes que a direita defende é que poderia ser realizado e conseguido.

E é fácil entender o porquê de toda esta estrutura de disfarce e de confusão que apresenta este programa sem nexo e sem sentido.

A candidatur­a do Partido Socialista é, claramente, uma candidatur­a convictame­nte de esquerda, ideológica e estatizant­e, que percebeu que, afirmando a verdade do seu projeto, dificilmen­te conseguiri­a obter um resultado que lhe assegure a liderança do país, e que, por ser tão convictame­nte de esquerda, já esgotou a sua capacidade de encontrar eleitores desse setor do eleitorado.

Por isso mesmo, necessita objetivame­nte de conseguir fingir ser mais amena, disfarçar a sua ideologia e tentar enganar os que, distraídos, se deixem cair, qual capuchinho vermelho, nas garras do lobo mau.

Este programa não pode ser visto como sendo bom ou mau.

É apenas impossível pois utiliza uma visão mais extremista das ideologias que nos deixaram na situação de caos em que nos encontramo­s e afirma, sem qualquer justificaç­ão, que o que foi feito e que nos deixou mal agora será feito com mais força e, milagrosam­ente, temos de acreditar que nos vai deixar bem.

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