O milagre impossível
Foi apresentado o programa do PS para as eleições de 10 de março. Fiquei tentado por saber que milagres poderia este Partido Socialista, responsável pelo (des)governo dos últimos anos, propor ao povo de Portugal para os convencer de que a mesma matéria-prima poderia dar resultados completamente diferentes daqueles que hoje, estes mesmos responsáveis, gostariam de não ter conseguido realizar.
Se há coisas em que estamos todos de acordo, da direita à esquerda, é que este Governo nos deixou uma situação caótica no sistema nacional de saúde, uma desgraça na escola pública, uma justiça completamente disfuncional, uma crise da habitação, uma segurança em greve e uma agricultura em desespero.
De tudo o que vi por aí escrito, relacionado com os temas acima referidos, não há uma ideia que seja verdadeiramente contrária à política desenvolvida pelo Governo anterior, o que me leva a questionar como será possível que as mesmas pessoas, fazendo as mesmas coisas, poderão produzir resultados milagrosamente diferentes e com benefícios tão extraordinários.
Tudo passa por acreditar que mentindo com convicção se convence um povo a aceitar o erro como fatalidade para a nossa governação.
No primeiro ponto, que abre este programa, surge logo o primeiro disfarce.
A qualificação de social-democrata de um Partido Socialista claramente forjado por uma ideologia marxista, promotora da unicidade da escola pública, da unicidade dos hospitais públicos para o SNS, da promoção da nacionalização das empresas e dos serviços públicos, da promoção dos subsídios europeus em favor do Estado, é a primeira utilização do estratagema do disfarce para pretender chegar ao engano dos eleitores.
Entre os pontos que se seguem, merece a pena relevar a aposta numa fiscalidade inteligente e dirigida, que provavelmente será dirigida inteligentemente a aumentar os impostos e a aumentar os gastos em gordura do Estado; a proposta de um Serviço Nacional de Saúde universal forte e resiliente, quando conseguiram desfazer esse serviço que funcionava quando chegaram à governação; uma escola pública de qualidade que acabaram de deitar ao chão com as decisões que tomaram nos últimos anos; uma habitação digna que se recusaram a criar, apesar de o terem já prometido antes; prometem tornar a agricultura um setor de futuro quando acabaram de retirar os apoios que estavam previstos e contratados. Enfim, uma quantidade de promessas repetidas, que durante os oito anos que se gabam ter sido uma vitória sobre as políticas de direita e que, só e mais nada, tinham recuperado um país que o Governo socialista anterior já tinha deixado numa bancarrota.
Na verdade, todo um programa que se afirma contra a direita e que só tomando as atitudes que a direita defende é que poderia ser realizado e conseguido.
E é fácil entender o porquê de toda esta estrutura de disfarce e de confusão que apresenta este programa sem nexo e sem sentido.
A candidatura do Partido Socialista é, claramente, uma candidatura convictamente de esquerda, ideológica e estatizante, que percebeu que, afirmando a verdade do seu projeto, dificilmente conseguiria obter um resultado que lhe assegure a liderança do país, e que, por ser tão convictamente de esquerda, já esgotou a sua capacidade de encontrar eleitores desse setor do eleitorado.
Por isso mesmo, necessita objetivamente de conseguir fingir ser mais amena, disfarçar a sua ideologia e tentar enganar os que, distraídos, se deixem cair, qual capuchinho vermelho, nas garras do lobo mau.
Este programa não pode ser visto como sendo bom ou mau.
É apenas impossível pois utiliza uma visão mais extremista das ideologias que nos deixaram na situação de caos em que nos encontramos e afirma, sem qualquer justificação, que o que foi feito e que nos deixou mal agora será feito com mais força e, milagrosamente, temos de acreditar que nos vai deixar bem.