Como é bom viver num regime democrático em que podemos ver e ouvir, em total liberdade, as certezas e incertezas das narrativas partidárias e depois tirarmos as nossas conclusões.
Àdata a que escrevo esta crónica, 13 de fevereiro, estão cumpridos catorze dos trinta debates que vão marcar esta campanha eleitoral.
Uma palavra inicial sobre os debates em si. Estão bem estruturados, mas há uma enorme interrogação sobre a duração dos mesmos. Convenhamos que vinte e cinco minutos é um tempo escasso para que os partidos consigam expressar, claramente, todos as temáticas consideradas importantes na sua linha programática. Não se entende porque é dado tanto espaço aos comentadores enquanto escasseia o tempo para os protagonistas dos partidos políticos.
Mas, com cerca de 50% dos debates já concluídos, vejamos algumas das certezas e incertezas que em jeito de conclusão podemos já retirar.
Resolveu-se, finalmente, a eterna questão das alianças entre o PSD e o Chega. No recente debate entre Montenegro e André Ventura, um sonoro “não é não” do primeiro fechou, em definitivo uma eventual aliança entre os dois partidos. Tudo é possível em política, mas será muito difícil a Montenegro, depois da frontalidade da sua afirmação, recuar no sentido de entendimentos com André Ventura.
Mas, se relativamente às alianças com o Chega o PSD é claro, o mesmo não se pode dizer da posição do partido face a eventualidade de uma vitória do PS sem maioria. O que fará Montenegro? Apoia ou não um governo minoritário do PS? Demite-se? O líder do PSD tem-se recusado, sistematicamente, a clarificar esta questão que é decisiva para a futura estabilidade governativa do país.
Entretanto os debates realizados até ao momento já permitem visualizar as grandes linhas programáticas que estão a atravessar o tecido político português. Há nas propostas do PS um pendor mais estatizante e uma maior intervenção do Estado na economia. E uma contradição! Não se entende como é que com um crescimento do PIB de apenas 2% até 2028 o PS vai desencadear uma forte aposta na saúde, na educação e na habitação. Onde vai buscar o dinheiro numa legislatura para concretizar um investimento público de 8,4 % do PIB e baixar a dívida para 80,1% do PIB. Uma quadratura do círculo difícil de realizar.
Mais arriscadas e menos conservadoras as propostas sociais-democratas têm vindo a apontar no sentido de uma acentuada baixa de impostos. Seja para as empresas, com o IRC a descer gradualmente, dos 21 para os 15%, seja para os cidadãos com uma baixa no IRS sobretudo centrada nos jovens. Não há dúvida de que o PSD está a apostar num forte choque fiscal que impulsione o crescimento da economia para valores (3,5%) que, estes sim, a confirmarem-se, dão maior hipótese de um investimento na componente social.
Entretanto, no domínio das incertezas, André Ventura continua sem conseguir clarificar onde vai buscar o dinheiro para as suas desmesuradas propostas relativas aos pensionistas. A subida de todas as reformas para o nível do salário mínimo nacional não está devidamente contabilizada. Bailam os números. O Chega diz que esse valor é de nove mil milhões de euros. Os restantes partidos contestam a credibilidade desta quantia. O PSD, que fez as contas, afirma que todas as propostas do Chega somariam o valor de cerca de vinte e cinco mil milhões de euros. Moral da história: não existem certezas numéricas sobre as propostas do Chega.
Aliás, as propostas de André Ventura têm abalado o país. Desapareceu a pena de morte, a eutanásia e a castração química e surgiu a filiação e sindicalização das forças de segurança, PSP e GNR. Perante o espanto do país e dos restantes protagonistas políticos, André Ventura prossegue o seu caminho numa espécie de reality show de incongruências e propostas disparatadas.
Portanto de certezas e incertezas vamos avançando neste longo percurso da campanha eleitoral onde os debates são decisivos no esclarecimento da opinião pública.
Ah, caros leitores, permitam-me um último desabafo. Como é bom viver num regime democrático em que podemos ver e ouvir, em total liberdade, as certezas e incertezas das narrativas partidárias e depois tirarmos as nossas conclusões.