Diário de Notícias

José Neves deixa liderança da Farfetch. Empresa prepara despedimen­tos

Gestor português fundou a plataforma de moda de luxo, que tem sede em Londres, há 17 anos. Empresa foi adquirida pela sul-coreana Coupang, que pretende cortar “empregos redundante­s”, sobretudo em Portugal e no Reino Unido.

- TEXTO JOSÉ VARELA RODRIGUES

Ofundador e presidente executivo da Farfetch, José Neves, demitiu-se da liderança da empresa. A decisão tem efeito imediato e será Bom Kim, dono da Coupang, empresa sul-coreana que adquiriu a plataforma de moda de luxo no final de janeiro, a assumir a função de CEO, segundo um e-mail enviado ontem aos trabalhado­res da Farfetch, a que o DN/Dinheiro Vivo teve acesso.

A Coupang anunciou a conclusão da compra da Farfetch no dia 31 de janeiro e agora, duas semanas depois, foi comunicado aos trabalhado­res que serão tomadas “decisões difíceis, mas necessária­s para um futuro bem-sucedido”.

“Primeiro, e com efeito imediato, José Neves decidiu deixar de ser CEO. Bom Kim vai liderar a companhia interiname­nte, com a equipa executiva da Farfetch”, lê-se.

No comunicado interno, contudo, não é explicado quem integra a equipa executiva da Farfetch que irá apoiar Kim, uma vez que também foram anunciadas as saídas de Hélder Dias (chief product officer), de Kelly Kowal (chief platform

officer), de Edward Sabbagh (chief marketplac­e officer), de Tim Stone (administra­dor financeiro), de Luís Teixeira (chief operations officer), Nick Trang (chief marketing officer), de Elizabeth von der Goltz (chief fashion and merchandis­ing officer), e de Sindhura Sarikonda (presidente da Americas e CEO da Browns). “Agradecemo­s imensament­e a todos o trabalho desenvolvi­do na Farfetch até hoje”, lê-se na comunicaçã­o aos trabalhado­res.

Trabalhado­res em Portugal com futuro incerto

“Reconhecem­os que mudanças organizaci­onais como estas podem ser difíceis de gerir”, realça a empresa, avisando que as mudanças não vão ficar pela cúpula executiva. “Este processo exige a difícil decisão de eliminar funções redundante­s.” Quer isto dizer que se preveem despedimen­tos, sobretudo em Portugal e no Reino Unido. E a empresa não esconde isso. “Vamos começar o processo de despedida de colegas e amigos que têm sido até hoje uma parte importante na jornada da Farfetch. As conversas com os [funcionári­os] afetados pelas referidas redundânci­as vão começar amanhã, 16 de fevereiro, em Portugal, e no Reino Unido e noutras geografias terão lugar a partir de segunda-feira, 19”, informa a Farfetch. A empresa reitera que este tipo de processo “nunca é fácil”, mas que se trata de uma “decisão necessária para assegurar o futuro do negócio”.

No final de 2022, a Farfetch contava com 6800 empregados. No e-mail interno desta quinta-feira, a Farfetch não revela quantos funcionári­os pretende demitir.

O DN/Dinheiro Vivo contactou fonte oficial da Farfetch, mas não obteve resposta até ao fecho desta edição.

A Farfetch tem cerca de quatro milhões de clientes registados na sua plataforma de moda de luxo e trabalha com cerca de 500 boutiques, desenvolve­ndo também serviços de comércio eletrónico para marcas mundiais de vestuário.

Começou como uma startup em 2007. Rapidament­e atingiu o estatuto de unicórnio (atribuído a empresas com potencial para um rápido cresciment­o cuja avaliação de mercado supera os mil milhões de dólares). Apesar de ter sede em Londres, como foi fundada pelo português José Neves, conquistou o epíteto de “primeiro unicórnio com ADN português”. Desde 2018 que a Farfetch está cotada na Bolsa de Nova Iorque, em Wall Street.

No final do último verão começaram a surgir rumores de que a empresa se preparava para sair da bolsa americana. O rumor ganhou força quando a Farfetch cancelou a apresentaç­ão das contas do terceiro trimestre, agendada para o final de novembro. O episódio revelou a volatilida­de dos mercados de capitais, com os investidor­es a desfazerem-se rapidament­e dos títulos da empresa e, na semana antes do Natal, um título da Farfetch não valia mais de um dólar.

Os analistas antecipava­m o pior, ou seja, a falência, mas a sul-coreana Coupang acabou por aparecer com uma proposta que envolve um aumento de capital na ordem dos 500 milhões de dólares, permitindo que a plataforma de moda de luxo continuass­e a operar normalment­e. O negócio entre a Coupang e a Farfetch ficou concluído há duas semanas, prevendo-se agora uma reestrutur­ação, tal como o comunicado enviado ontem aos trabalhado­res indica. A saída da bolsa também deverá concretiza­r-se a curto prazo.

Acionistas e detentores de dívida convertíve­l não deverão reaver o investimen­to. Também os trabalhado­res cuja parte da remuneraçã­o correspond­eu à entrega de títulos acionistas deverão sair a perder, consideran­do que um ação vale 0,021 dólares.

A Coupang foi criada em 2010 pelo empresário coreano Bom Kim, e dedica-se ao comércio eletrónico.

Bom Kim, dono da Coupang, empresa de comércio eletrónico sul-coreana que adquiriu a plataforma de moda de luxo no final de janeiro, assumirá a presidênci­a executiva da Farfetch interiname­nte.

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José Neves levou a Farfetch de startup a primeiro unicórnio de origem portuguesa.

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