Diário de Notícias

Paris e Berlim atingem metas de despesa militar da NATO

França e Alemanha fazem parte do cada vez maior lote de países a cumprir o compromiss­o estabeleci­do há 10 anos. “Progresso histórico”, elogia o secretário-geral dos aliados.

- TEXTO CÉSAR AVÓ

França e Alemanha, o tradiciona­l eixo da Europa, anunciaram à vez que vão atingir a meta fixada pelos países membros da NATO de gastar pelo menos 2% do Produto Interno Bruto na Defesa. O aumento das despesas está em linha com o de outros Estados – Portugal excluído –, como foi destacado pelo secretário-geral da aliança militar, Jens Stoltenber­g, ao reunir-se com os ministros da Defesa em Bruxelas, e que contou com a presença da embaixador­a dos EUA naquela organizaçã­o, Julianne Smith, e com o alto representa­nte da UE, Josep Borrell.

“Acelerámos o trabalho de dotação de recursos para os nossos novos planos de defesa e de reforço da nossa base industrial de defesa transatlân­tica. Ainda temos um caminho a percorrer, mas já alcançámos um progresso histórico”, saudou o dirigente norueguês, no final da reunião, que incluiu o Conselho NATO-Ucrânia, com a participaç­ão, por videoconfe­rência, do ministro ucraniano, Rustan Umerov. O tema principal da reunião esteve nas bocas do mundo depois de o ex-presidente Donald Trump ter comentado, num comício da sua campanha para as primárias republican­as, que iria “encorajar” a Rússia a invadir os países que “não pagam as dívidas”, a forma do candidato se referir aos Estados que não cumprem o compromiss­o de investimen­to na Defesa, acordado em 2014 na sequência da anexação da Crimeia por parte da Rússia.

Na segunda-feira, de visita a uma nova fábrica de munições na Baixa Saxónia, o chanceler Olaf Scholz já tinha reiterado o compromiss­o de o seu país atingir os 2% do PIB em despesas de Defesa, mas não havia falado em datas. Em 2023, o orçamento para a Defesa de Berlim foi de 1,57%. Na véspera da reunião da NATO, um porta-voz do Ministério da Defesa revelou que em 2024 a percentage­m do PIB para a Defesa é de 2,01%, ou 68,5 mil milhões de euros. Dos cem mil milhões de euros que Scholz anunciara investir, há dois anos, 70% estão reservados para a aquisição de material norte-americano, os caças F-35 e os helicópter­os Chinook.

Já na quinta-feira foi a vez do ministro francês Sébastien Lecornu

Atrás de Jens Stoltenber­g, a ministra Helena Carreiras cumpriment­a o homólogo alemão, Boris Pistorius.

confirmar que o seu país também cumprirá a meta este ano. Um objetivo mais fácil de alcançar, uma vez que representa, na prática, um aumento de uma décima percentual em relação a 2023. A programaçã­o militar francesa prevê que a maior fatia de despesas até 2030 vá para a aquisição de novas ogivas nucleares, mísseis, submarinos e aviões de caça Rafale, num total de 430 mil milhões de euros até 2030, ano em que duplicará o orçamento militar em relação a 2019. Na véspera de Emmanuel Macron receber Volodymyr Zelensky para assinarem um acordo bilateral de segurança, o ministro Lecornu confirmou que neste ano Paris irá enviar para Kiev mais 78 obuses Caesar.

Antes da reunião, Stoltenber­g já havia anunciado esperar que 18 dos 31 aliados gastem pelo menos 2% do seu PIB em Defesa em 2024 – com a Polónia no topo, 4% –, o que irá fazer com que globalment­e correspond­a à mesma percentage­m do PIB total. Há dez anos, apenas a Grécia, EUA e Reino Unido superavam aquela marca.

A despesa em Defesa é a que está inscrita no Orçamento do Estado de cada país e inclui o soldo às forças armadas no ativo, mas também

as pensões dos veteranos, a aquisição de armamento e munições e a investigaç­ão no domínio militar. Além disso, há a despesa da Organizaçã­o do Tratado do Atlântico Norte, nada menos do que 3,3 mil milhões de euros por ano. Esta é dividida por todos os aliados com

base nos rendimento­s de cada país, embora a fórmula tenha sido ajustada durante a presidênci­a de Trump e hoje Estados Unidos e Alemanha contribuem cada qual com cerca de 16% do orçamento da NATO.

No quartel-general da aliança, a produção de armas e munições foi também tema de debate. Com o duplo fim de reabastece­r as provisões próprias e conseguir apoiar a Ucrânia, Stoltenber­g lembrou que “é necessário passar do ritmo lento dos tempos de paz para o ritmo elevado de produção exigido pelos conflitos”, embora tenha deixado claro que a NATO “não tem uma ameaça militar iminente”.

Desta reunião, como da realizada no dia anterior pelo grupo de contacto Ramstein, saíram renovados apoios à Ucrânia em questões específica­s. A França e a Alemanha lançaram uma coligação de defesa aérea, a Letónia e o Reino Unido lideram uma outra para fornecer milhares de drones, a Lituânia é responsáve­l por uma coligação pela desminagem. Espanha anunciou o envio de veículos blindados e Portugal vai contribuir com um milhão de euros para a compra de munições.

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