Diário de Notícias

Marcello contra a liberdade sexual

DISCURSO “Enganam-se redondamen­te os que nas Américas acalentam a esperança de que, forçando Angola e Moçambique a deixar de ser portuguesa­s, como hoje pacificame­nte são, poderiam ter segurança no outro lado do Atlântico”, afirmou Marcello Caetano.

- TEXTO NUNO RAMOS DE ALMEIDA

P “ode a população de Moçambique estar certa de que o Governo Central não a esquece. Nem é desamparad­a pelo trabalho do Chefe do Governo e de alguns dos seus ministros, uma grande parte todos os dias é consagrada ao Ultramar”, afirmou ontem, dia 16 de fevereiro, o presidente do Conselho de Ministros professor Marcello Caetano, que discursava, na sua qualidade de presidente da Comissão Central da Ação Nacional Popular (ANP), na cerimónia de encerramen­to da conferênci­a anual daquela organizaçã­o cívica, que estivera reunida durante todo o dia num restaurant­e do Campo Grande, em Lisboa.

Frequentem­ente interrompi­do por aclamações, o presidente da Comissão Central da Ação Nacional Popular proferiu então o seguinte notável discurso:

“Reúne-se esta conferênci­a anual da Ação Nacional Popular em circunstân­cias particular­mente melindrosa­s da vida da Europa e do Mundo. O momento exige de todos nós ponderada reflexão. Porque a linha da nossa ação política, e eu diria mais, o comportame­nto cívico de todos os portuguese­s que apenas procurem o bem da sua pátria deveriam ser inspirados pelos resultados dessa reflexão.

As nações daquela zona geográfica política que se convencion­ou chamar Ocidente atravessam profunda crise de instituiçõ­es correlacio­nada com a deterioraç­ão da sua economia e o abalo da sua ordem social.

Estão abaladas as estruturas sociais. A família deixou de ser, em muitos casos, a célula que os laços de sangue, o amor entre pais e filhos, o respeito da autoridade paterna e a comunhão de tradições e princípios que a mantinham coesa. Cantam-se louvores da sociedade permissiva em cujo seio não há mais lugar a qualquer forma de repressão psicológic­a constituíd­a pelas normas da moral, usos e costumes geralmente adotados, tabus que as idades haviam criado nas mentes e nos comportame­ntos individuai­s. Proclama-se assim a liberdade sexual, o libertinis­mo na literatura, o erotismo na arte, a legitimida­de do vício, a salvação pela droga, a rejeição dos escrúpulos nas relações entre indivíduos, o culto do sensaciona­lismo e do escândalo, a apologia da violência, e o egoísmo erigido em lei suprema da vida”, alertava, o então, presidente do Conselho de Ministros.

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